Entre a primeira edição (de 1936) e a quinta (de 1969), Sergio Buarque de Holanda fez inúmeras alterações no texto de Raízes do Brasil. Obra clássica do historiador e crítico literário, o livro completa 80 anos em 2016. Para homenagear o aniversário, a também historiadora Lilia Schwarcz, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, se uniu a Pedro Meira Monteiro, professor de literatura brasileira da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, para organizar uma edição crítica do livro, lançada neste segundo semestre pela Companhia das Letras.
Raízes do Brasil se tornou referência obrigatória para a história e as ciências sociais por oferecer uma interpretação à formação do país, incluindo uma reflexão sobre as práticas do patrimonialismo e o costume de dar maior importância à esfera privada, em detrimento à esfera pública. A edição crítica compara as alterações feitas pelo autor até a quinta edição, evidenciando como o pensamento de Sergio Buarque se desenvolveu ao longo de três décadas, em diálogo com a produção de outros intelectuais e historiadores brasileiros de seu tempo.

O trabalho das notas, que apontam as mudanças feitas ao texto, foi feito por dois orientandos, Mauricio Acuña e Marcelo Diego. Eles cotejaram diferenças de redação que vão desde trocas de palavras por uma questão de estilo até “parágrafos muito importantes e que alteravam de forma bastante radical a interpretação do livro”, conta Lilia Schwarcz neste podcast Ciência USP.
“São mais de 200 parágrafos alterados, trechos grandes mesmo!”
São alterações que contam uma história, que culmina com o estabelecimento da quinta edição de Raízes do Brasil – a última que o autor trabalhou em vida – como a redação definitiva de um livro com vocação democrática e engajada, conforme Lilia e Pedro comentam já no prefácio da edição crítica.