Piscinões são apenas medida paliativa para drenagem de enchentes

Problemas sempre virão no próximo verão, caso não se troque o concreto por áreas permeáveis, diz hidrólogo

 04/04/2019 - Publicado há 5 anos
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jorusp

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Foto: Alexandre Carvalho/A2img via Fotos Públicos / CC BY-NC 2.0

O Brasil passa por um período de fortes chuvas. A Sabesp registrou uma pluviometria de 164,8 mm entre os dias 11 e 12 de março no manancial de Rio Claro, que abastece uma extensa área da zona leste da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo outras cidades e bairros da capital. Uma das consequências mais graves são as inundações. A tecnologia de drenagem do solo urbano pode ser uma solução sustentável para as enchentes, segundo pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas. O problema pode tornar-se bastante complexo nas vias de trânsito intenso, localizadas em áreas de fundo de vale da Região Metropolitana de São Paulo.

Após as perdas consequentes das enchentes na capital, o governador do Estado, João Doria, anunciou a construção de medidas de prevenção de desastres e escoamento d’água, entre elas muros de arrimo e o maior piscinão do estado. “Eles (piscinões) são uma medida paliativa, lá não chega só água, mas também sedimentos, lixo, a própria população deposita detritos ali. Assim, o reservatório fica atolado. Fora que demandam tecnologias caras movidas por energia elétrica. Chove, cai uma árvore e arrebenta um fio. Pronto, não tem eletricidade, e o mecanismo não funciona direito”, explica Filipe Antonio Marques Facetta, pesquisador da Seção de Investigações, Riscos e Desastres naturais do IPT.

E os custos para desassorear um piscinão ainda são muito altos, argumenta o hidrólogo. “O exemplo positivo seria o do Pacaembu, que até agora resolveu o problema. Salvo esse, os outros, majoritariamente, viram aterros de lixo”, esclarece. O especialista defende a distribuição de pequenas piscinas ao longo dos antigos cursos d’água que atravessavam São Paulo, como as Avenidas 23 de Maio e a Salim Farah Maluf. No início do século 20, acreditava-se nos rios como vetores de doenças. Por isso, os retificaram e cercaram de concreto, visando, inclusive, a uma facilitação simplista do tráfego.

Facetta aponta que a lógica do piscinão de simular a absorção das enchentes pelas várzeas é correta, mas não dá mais para concentrar soluções. “Os habitantes da cidade têm que se solidarizar, e o governo tem parte importante nisso, apesar de ainda trabalhar na direção contrária. A lei tem de incentivar empreiteiras e pessoas a trocar concreto por áreas permeáveis. Quem sabe por um desconto no IPTU? Sem contrapartida, as pessoas não deixam de construir algo que lhes beneficie de imediato. Fazer uma campanha para as casas terem suas próprias piscininhas de drenagem, o que já contribuiria. É necessário um processo educativo”, deduz o hidrólogo.

“A partir dessa consciência, desarticula-se aquela razão do século 20, do rio como entrave do urbanismo”, elucida o pesquisador. De acordo com ele, não dá mais para expandir cidades canalizando mananciais, as marginais não devem influir na hidrologia da região, se possível. “Seul e Portland já sacrificaram infraestrutura a fim de restaurar cursos d’água. Já que, em São Paulo, isso não é aplicável, deve-se buscar outras soluções, o que faz a Seção de Investigações, Riscos e Desastres Naturais do IPT e o CT-Floresta, centro tecnológico que trabalha com políticas públicas, visando à produção florestal ambientalmente correta, economicamente viável e socialmente justa”, defende Facetta.

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