A matemática é uma área da ciência que tanto repele, pela dificuldade associada à disciplina, como atrai, pelo fascínio que desperta em quem compreende sua beleza. Para vencer os medos e tabus envolvidos é necessária a habilidade dos profissionais com a missão de revelá-la ao público em geral. Cabe aos especialistas refletirem “sobre a resposta apropriada e o papel de preencher lacunas de comunicação que foram sendo criadas entre os que praticam ou usam a matemática e o público em geral”. Mas revelar como? Em uma exposição, por exemplo. E o que é uma exposição de matemática?
“As exposições científicas evoluíram ao longo do século 20 para formas mais atraentes de comunicação com o público, que frequentemente se valem de dispositivos com os quais os visitantes podem interagir”, explicam Eduardo Colli e Deborah Raphael, em artigo publicado na Revista Cultura e Extensão USP. O texto discute quais as expectativas em relação a uma exposição de matemática e o trajeto da Matemateca, exposição do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, criada em 2003 por eles e outros professores do instituto, contando com a “formação de um acervo de objetos matemáticos ao longo de aproximadamente dez anos, bem como a evolução da concepção de uma exposição voltada para o público em geral, mas com foco nos estudantes de todos os níveis”, afirmam os autores.
Desse modo, o que faz o sucesso de uma exposição de matemática? “Tópicos interessantes, mostrados por meio de uma instalação interativa e com alguma explicação escrita” parecem ser uma “tendência que teve como testemunha a abertura, no final de 2012, do MoMath, o Museu de Matemática de Nova York”.
A Matemateca começou com uma coleção de objetos de natureza interativa que visava a dois objetivos: abranger um público amplo e abrigar arquivo de materiais didáticos a serem utilizados pelos professores do IME nas aulas de graduação. Hoje, constitui o mais importante acervo brasileiro de objetos matemáticos. No âmbito institucional, a Matemateca se formalizou no IME como o Centro de Difusão e Ensino Matemateca, e associou-se ao Laboratório de Modelos e Ensaios (Lame), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, cuja parceria fez nascer uma disciplina de graduação: Matemática, Arquitetura e Design.
A criatividade dá o tom dos objetos expostos na Matemateca, como as placas de Chlad”, o poliedro flexível, os ladrilhamentos, e um jogo da velha inusitado. Os visitantes adoram, juntam-se “em torno da mesa, sentam nos banquinhos disponíveis e ali ‘se esquecem da vida’”. Nesse ponto os autores enfatizam o importante papel dos monitores, alunos de graduação e pós-graduação, “na construção desse acolhimento e do despertar da curiosidade”,”os quais acabam tendo contato tanto com o público leigo quanto com pessoas que têm a ensinar sobre a matemática das peças. Conseguem, assim, se manter atualizados e interessados e usam essa experiência para criar novas formas de explicação e de motivação para o público”. Quando o visitante, muitas vezes, parece “receoso de chegar muito perto”, pois, afinal, “trata-se de matemática!”, o monitor o recebe e deixa-o à vontade para tocar nos objetos e brincar um pouco.
Eduardo Colli e Deborah Raphael comentam a pertinência em destacar, na Matemateca, a plasticidade das formas, sem excluir, no entanto, a beleza mais estrutural e abstrata dos objetos e superfícies inusitadas. Mudar o conceito das pessoas sobre matemática é o que se pretende com a exposição, já que não se quer ensinar a matéria, mas apenas motivar, despertar a curiosidade do visitante para o assunto, pois o aprendizado não é o principal objetivo.
Um visitante que sai da exposição sem ter aprendido absolutamente nada, porém muito curioso a respeito das coisas que viu é um grande sucesso!
Há ainda um caminho a percorrer nos avanços para as exposições de matemática. Mesmo assim, ao longo desses dez anos, dizem os autores, “a Matemateca construiu um acervo importante e adquiriu uma expertise em divulgação científica que será mais bem aproveitada quando dispuser de um local para manter uma exposição permanente aberta ao público em geral e aos estudantes de escolas públicas em especial”.
Eduardo Colli é professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, diretor do Centro de Difusão e Ensino Matemateca e participante do Programa Aventuras na Ciência.
Deborah Raphael é professora do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP e vice-diretora do Centro de Difusão e Ensino Matemateca.
COLLI, Eduardo; Raphael, DEBORAH. O que é uma exposição de matemática? Revista Cultura e Extensão USP, São Paulo, v. 13, n. 13, Supl., p. 75-90, set. 2015. ISSN: 2316-9060. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rce/article/view/106430>. Acesso em: 10 out. 2015.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP