Pandemia trouxe mudança de paradigma na forma de avaliar em novo cenário de atuação profissional - Foto: 123RF

Pandemia cria demanda por nova avaliação de alunos da área de saúde

Consórcio de faculdades liderado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP propõe um acompanhamento longitudinal e contínuo que avalie habilidades clínicas, atitudes e profissionalismo e favoreça ajustes durante a formação

05/05/2021

Giovanna Grepi

Você sabia que provavelmente o seu desempenho escolar foi mensurado por avaliações somativas? Elas são um método de avaliação, usado pela maioria das instituições de ensino, que busca analisar o progresso da aprendizagem de forma classificatória, ou seja, fazendo com que os alunos tenham provas que testam conhecimento teórico para serem aprovados ou reprovados.

O problema dessa realidade é que há outras habilidades que devem ser levadas em consideração no momento de avaliar o aluno. “A competência profissional é formada não só pelo domínio cognitivo, mas também pelo domínio das habilidades psicomotoras e pelo domínio das atitudes e profissionalismo”, explica a professora Mariana Kiomy Osako, coordenadora do Centro de Avaliação em Ensino de Graduação (CAEG) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

A docente conta ainda que a educação, como em toda a ciência, é uma área de conhecimento que envolve pesquisa, reflexão e exige constante evolução e treinamento contínuo. “É preciso capacitar nossos professores para uma avaliação mais abrangente de habilidades e de atitudes, assim como aprimorar os métodos avaliativos do domínio cognitivo já existentes. Neste contexto, a avaliação formativa do estudante, que prevê o feedback, também vem ganhando espaço e relevância na formação do profissional, pois é mais uma oportunidade de a avaliação fomentar efetivamente o aprendizado”, completa.

Mariana Kiomy Osako, professora e coordenadora do Centro de Avaliação em Ensino de Graduação da FMRP

Habilidades para a área de saúde

A importância de refletir sobre as avaliações somativas ficou mais clara com a necessidade de paralisação das aulas presenciais e das atividades remotas durante a pandemia da covid-19. Neste sentido, as provas que exigem raciocínio ganharam destaque entre os professores por demandar respostas mais completas e que não são facilmente encontradas na internet.

Na área da saúde algumas habilidades ficaram evidentes, como a comunicação e o atendimento do paciente pela internet. Assim, a pandemia trouxe uma mudança de paradigma na forma de avaliar o domínio cognitivo e um desafio para se avaliar habilidades e atitudes neste novo cenário de atuação profissional."

Mariana Kiomy Osako

O impacto de um método adequado de avaliação reflete no profissional formado que vai estar em contato com a sociedade. Afinal, a formação vai além do conhecimento técnico pois engloba os aspectos de relacionamento com todos os agentes do convívio profissional, como chefias, pares, pacientes e clientes. “Capacitar professores para fazerem uma avaliação de boa qualidade ajuda na tomada de decisões e auxilia os estudantes a aprenderem o que precisam saber, demonstrar e fazer”, conta Mariana.

A avaliação dos domínios cognitivo, habilidade e atitude durante a formação do estudante possibilita um acompanhamento longitudinal e contínuo com o objetivo de consolidar o aprendizado em pontos estratégicos da formação. “A inserção de avaliações formativas com feedback mais frequente e utilizando abordagens técnicas e condições mais adequadas também auxiliam em ajustes durante a formação”, completa.

Avaliação e feedbacks frequentes podem auxiliar nos ajustes durante a formação dos estudantes da área de saúde - Foto: Divulgação/FMRP

Propostas para avaliação de estudantes

Entre as iniciativas para a otimização das avaliações dos estudantes está a oficina Princípios e Boas Práticas para Avaliação do Estudante, que foi realizada de forma on-line no mês de abril, com a participação de docentes das três instituições de ensino com o objetivo de estabelecer o diálogo para o aprimoramento dos métodos avaliativos. O evento faz parte das atividades do consórcio Avaliação da Competência Profissional na Saúde: O Próximo Passo, que é liderado pela FMRP com participação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

Os participantes foram apresentados aos conceitos e critérios de qualidade para a avaliação do estudante e os tipos de avaliação disponíveis para cada objetivo. Durante a oficina, os professores revisaram e aprimoraram as propostas de avaliação do estudante para 17 cursos da área da saúde, incluindo todos os sete cursos da FMRP, sete cursos da UFTM e três cursos da Famerp.

“A partir destas propostas, haverá oficinas de capacitação específicas para cada tipo de avaliação. Este conjunto de atividades está previsto em um projeto específico que foi aprovado no edital 2020-2022 chamado Latin America Grants, do National Board of Medical Examiners (NBME), e conta com um financiamento de 50 mil dólares”, conta a professora.

A oficina foi ministrada pelas professoras Mariana e Elen Almeida Romão, vice-coordenadora do CAEG, e pelos docentes Valdes Roberto Bollela e Luiz Ernesto de Almeida Troncon, coordenador e vice-coordenador do Centro de Desenvolvimento Docente para o Ensino (CDDE), todos da FMRP.

O NBME é uma agência independente dos Estados Unidos que faz as avaliações externas dos estudantes de medicina e dos médicos já formados. A aprovação nos exames do NBME é um requisito para o treinamento na Residência Médica e para o exercício da profissão. Além disso, a agência constitui um órgão de fomento à educação profissional nas profissões da saúde, financiando projetos que privilegiam o aperfeiçoamento das avaliações.

Mais informações sobre o consórcio podem ser obtidas com a professora Mariana Kiomy Osako, no e-mail mko@fmrp.usp.br.