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Mais de 60% dos residentes do HC são provenientes de outras escolas médicas - Foto:123RF
Maioria dos residentes médicos do HC vem de outras universidades
Estudo longitudinal da Faculdade de Medicina da USP investigou pela primeira vez a trajetória dos egressos da residência médica
06/11/2020
Um levantamento inédito sobre o perfil dos residentes médicos do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP mostra que 66% dos médicos que se matriculam no programa de especialização do hospital se formaram em outras escolas médicas. A grande maioria delas, públicas. No topo do ranking estão os egressos dos cursos de Medicina da Unicamp, da Santa Casa de São Paulo e de três universidades federais: da Bahia, do ABC e do Ceará.
O levantamento faz parte da edição deste ano do Estudo Longitudinal de Médicos Formados na FMUSP (ELMU), um projeto que começou há três anos como uma espécie de “satélite” do Grupo de Estudos de Demografia Médica da FM. O objetivo é conhecer melhor os perfis, trajetórias, formação especializada e inserção laboral dos médicos formados na faculdade. Neste ano, a principal tarefa foi verificar se os estudantes da FM ingressam na residência médica do HC após a formatura da graduação.
“A residência é quase um novo vestibular, é uma nova concorrência. É aberto a cada ano o edital e, aí, o que a gente mostra é que uma grande parte daqueles se formaram na graduação da FM ingressa na residência médica”, diz Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da FM e coordenador do estudo. Porém, como a quantidade de vagas na residência é muito superior ao número de médicos formados por ano pela FM, a maior fatia dos residentes é composta de médicos graduados em diversas outras faculdades.
A residência médica é o tipo de curso de pós-graduação mais comum entre os médicos e também aquele que confere a esses profissionais o título de especialista. De 1999 a 2019, o programa de residência médica do HC formou um total de 7.220 médicos especialistas. Ao ingressar na residência, esses médicos tinham, em média, 27 anos e tinham se graduado principalmente em escolas médicas públicas. Os homens eram 52,5% dos ingressantes – embora, entre aqueles que não se formaram na FM, as mulheres sejam maioria, o que reforça os achados do ELMU 2019, que indicou que o processo de feminização da FM segue em ritmo mais lento do que na medicina brasileira como um todo.
Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Estudo Longitudinal de Médicos Formados na FMUSP - Foto: Arquivo pessoal
33%
dos residentes do HC vêm do curso de medicina da USP em São Paulo
foi o número de médicos formados pela Faculdade de Medicina da USP em 2018
foram as vagas oferecidas na residência médica do HC em 2020
Outro achado do estudo é que a residência médica do HC reproduz de maneira menos acentuada uma tendência bastante forte da graduação da FM: a alta fixação dos egressos na região onde fazem o curso. Entre os egressos da graduação, chega a 82% o total de médicos que ficam na cidade de São Paulo após a formatura. O índice é menor entre os egressos da residência: 61% ficam na capital após concluir os cursos.
Scheffer afirma que estudos como o ELMU são uma forma importante de avaliar os cursos e acompanhar os resultados do investimento público em formação profissional. “(O estudo) reproduz um pouco a intenção de cada vez mais demonstrar o papel social da Universidade, acompanhando a trajetória profissional dos alunos que nós formamos”, explica o professor.
Relevância pedagógica
Desenvolvido por estudantes de graduação, o ELMU é também um projeto relevante de iniciação científica. Selene Zyngier, estudante do quarto ano de Medicina, é uma das bolsistas do projeto neste ano e conta que esta é sua segunda iniciação científica. “Teve uma iniciação científica anterior no Departamento de Patologia da faculdade, que era sobre aneurisma de aorta abdominal, uma coisa bem específica. A gente publicou até um artigo, mas eu senti falta de entender mais sobre estatística e sobre como de fato fazer um projeto desde o começo”, diz ela.
Se na primeira iniciação científica a estudante trabalhou em um pedaço pequeno de uma pesquisa muito maior, agora, no ELMU, Selene e seus colegas tiveram de desenvolver a pesquisa a partir de uma pergunta inicial, refletindo sobre as bases de dados que poderiam utilizar e o tratamento estatístico que eles deveriam receber. A última etapa é a apresentação dos resultados.
“Nesse momento a gente está escrevendo os resultados para serem submetidos a uma revista científica. Todos os alunos envolvidos também enviaram resumos para o congresso de iniciação científica”, conta a professora Alicia Matijasevich, também envolvida com o projeto. Ela avalia que a experiência do ELMU tem sido bastante enriquecedora, tanto para os estudantes quanto para os professores, já que os alunos – alguns deles pela primeira vez – encaram um processo que começa na busca por dados e culmina com a escrita científica. “Às vezes, na iniciação científica, não dá tempo de fazer todo esse processo”, comenta a docente.
Selene, que está no final de sua bolsa, concorda com a avaliação de Alicia. “Foi de fato uma iniciação científica mais formativa. Acho que contribuiu mais para compreender como é feita a ciência”, diz ela.
Todos os dados da edição deste ano do Estudo Longitudinal de Médicos Formados na FMUSP estão disponíveis neste link.