Foto: Wikimedia Commons

Integrado à USP desde 1963,
Museu do Ipiranga atende funções de ensino, pesquisa e extensão

Construído como Edifício-Monumento, o Museu do Ipiranga, que hoje pertence à USP sob a tutela do Museu Paulista, é o museu público mais antigo de São Paulo

 02/09/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 06/09/2022 as 10:38

Claudia Costa

Concebido originalmente como um monumento à Independência, o Museu do Ipiranga foi construído entre 1885 e 1890 e foi inaugurado em 7 de setembro de 1895 como museu de História Natural e marco representativo da Independência, da História do Brasil e Paulista. Seu primeiro núcleo de acervo foi a coleção do Coronel Joaquim Sertório, que constituía um museu particular em São Paulo. É o museu público mais antigo de São Paulo e um dos mais antigos do país. 

Segundo Solange Ferraz de Lima, professora do Museu Paulista e presidente da Comissão de Cultura e Extensão do Museu do Ipiranga, era um projeto do império, que fica pronto na República. “E é transferido para ele o Museu do Estado, que está sendo fundado na mesma época. Era um museu constituído nos moldes dos museus de história natural do século 19”, conta. “É um museu enciclopédico”, define a professora.

“O Museu foi integrado à USP em 1963, curiosamente no mesmo ano em que foi integrado o MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP). Houve então, de fato, um interesse em integrar os museus. Mas desde 1934, quando a Universidade de São Paulo foi criada, o Museu Paulista (do Ipiranga) já aparece como instituto complementar”, explica. Segundo Solange, na prática, significa que muitos professores que atuavam na USP desenvolviam suas pesquisas no museu, como o próprio Sérgio Buarque de Holanda, que foi um dos seus diretores.

Museu do Ipiranga na época da construção, nos anos 1930 e em 1970 - Fotos: Divulgação/MP

Situado dentro do complexo do Parque da Independência, foi tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal, e sob a administração da USP, atende às funções de ensino, pesquisa e extensão, pilares de atuação da Universidade. O Plano Diretor de 1990 definiu como área de especialidade institucional a História da Cultura Material. Neste campo, instituiu três linhas de pesquisa: Cotidiano e Sociedade; Universo do Trabalho; História do Imaginário, em função das quais têm sido ampliados e reorientados os acervos e as exposições do Museu.

Caráter histórico

No período do Centenário da Independência, em 1922, foi reforçado o caráter histórico da instituição. Formaram-se novos acervos, com destaque para a História de São Paulo. Realizou-se a decoração interna do edifício, com pinturas e esculturas apresentando a História do Brasil no Saguão, Escadaria e Salão Nobre. Época em que foi instalado o Museu Republicano “Convenção de Itu”, extensão do Museu Paulista no interior do Estado.

Ao longo do tempo, o Museu do Ipiranga vem ampliando substancialmente seus acervos referentes ao período de 1850 a 1950 em São Paulo. Atualmente, possui um acervo de mais de 450 mil peças, entre objetos, iconografia e documentação textual, do século 17 até meados do século 20, significativo para a compreensão da sociedade brasileira, especialmente no que se refere à história paulista. Além disso, conta com uma equipe especializada de curadoria.

Por meio do amplo acervo do Museu, pesquisadores podem investigar a história paulista e aspectos da sociedade brasileira - Foto: Divulgação/MP

Conheça mais sobre a história do Museu do Ipiranga na linha do tempo digital. Por meio de uma plataforma interativa – com vídeos, áudios, imagens e arquivos históricos – é possível explorar os fatos que marcaram a Independência do Brasil e a construção do Edifício-Monumento, bem como a evolução das obras atuais de restauro e ampliação do local. A linha do tempo ainda conta com recursos de acessibilidade, como libras e audiodescrição.

Estudantes em visita ao Museu do Ipiranga antes da reforma - Foto: Francisco Emolo/USP Imagens

Diretores do Museu do Ipiranga ao longo do tempo

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1895 a 1916

Herman Friedrich Albrecht von Ihering foi um médico, professor e ornitólogo teuto-brasileiro e primeiro diretor do Museu do Ipiranga

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1917 a 1946

Afonso d’Escragnolle Taunay foi um biógrafo, historiador, ensaísta, lexicógrafo, tradutor, romancista, heráldico e professor brasileiro

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1946 a 1958

Sérgio Buarque de Holanda foi um historiador, sociólogo, escritor, crítico literário e jornalista

1958 a 1973

Mario Abdo Neme foi um escritor, intelectual e museólogo, dirigiu o museu, antes como instituto complementar da USP, e depois, em 1963, quando integra-se definitivamente à Universidade

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1989 e 1994

Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses é um professor, museólogo, arqueólogo e historiador do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da (FFLCH) da USP

1994 a 1999

José Sebastião Witter foi professor da FFLCH USP e historiador, pioneiro nos estudos da cultura do futebol como objeto acadêmico no Brasil

1999 a 2003

Raquel Glezer é historiadora e pesquisadora do Departamento de História da FFLCH, com ênfase no ensino de história da cidade de São Paulo, história do Brasil e urbanização

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2003 a 2007

Eni de Mesquita Samara foi uma historiadora e professora brasileira, pioneira nos estudos de demografia histórica brasileira, dedicando-se desde os anos 1970 à pesquisa sobre família e relações de gênero

Cecília Helena de Salles Oliveira - Foto: PPGHS/USP

2008 a 2012

Cecilia Helena Lorenzini de Salles Oliveira é pesquisadora, historiadora do Departamento de História da FFLCH e professora titular sênior no Museu do Ipiranga

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2012 a 2016

Sheila Walbe Ornstein é uma arquiteta e pesquisadora da FAU

Solange Ferraz de Lima, presidente da Comissão de Cultura e Extensão do Museu do Ipiranga - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

2016 a 2020

Solange Ferraz de Lima é historiadora, professora do Departamento de História da FFLCH

Rosaria Ono - Foto: Arquivo pessoal

2020-2024

Rosaria Ono é arquiteta, professora titular do Departamento de Tecnologia da FAU

Fonte: Wikipedia / Fotos: Wikimedia Commons e FFLCH USP

Como foi a reforma do Museu do Ipiranga?

Após nove anos fechado, o Museu do Ipiranga reabre suas portas para o público como um dos mais completos e modernos museus da América Latina. As obras da grande reforma foram iniciadas em outubro de 2019, e contemplaram duas frentes: ampliação e restauro do edifício-monumento, patrimônio tombado nas esferas municipal, estadual e federal do governo. Com valor estimado em R$ 235 milhões, as obras do Novo Museu do Ipiranga foram financiadas via Lei Federal de Incentivo à Cultura e o patrocínio e apoio de várias empresas privadas. 

Para a ampliação, foi realizada uma escavação em frente ao prédio, que agora abriga a nova entrada, bilheteria, auditório para 200 pessoas, espaço do educativo, café, loja e sala de exposição temporária, dobrando sua área total construída – originalmente de 6.400 mil metros quadrados –, com espaço modernizado que conta com elevadores, escadas rolantes e sistema de ar-condicionado, e totalmente acessível, inclusive no tratamento das peças do acervo. Em relação ao restauro, foram realizados reparos em todos os detalhes da arquitetura, incluindo a fachada, os interiores e os elementos de marcenaria, como portas e batentes.

Série em vídeo mostra processo de reforma e modernização do Museu:

Valor estimado da reforma

R$ 235 milhões

Área total após a reforma

Cerca de 13.400 metros quadrados

Público esperado

900 mil a 1 milhão de visitantes por ano

Imagens da reforma do Museu do Ipiranga - Fotos: Wikimedia Commons

Sistema de ar condicionado

  • com a presença da climatização, pela primeira vez, o Museu poderá receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais

Fachadas, tetos e paredes

  • receberam limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos e pintura de tinta mineral, recuperando a cor original da construção do século 19

Sistema contra incêndios

  • foram instalados sprinklers do tipo “pré-ação”, tecnologia que antevê alarmes falsos, evitando disparos acidentais
  • para detecção de fumaça foi utilizada a técnica de aspersão (sucção do ar em intervalos fixos) para constante análise, podendo identificar partículas de resíduos queimados que podem prenunciar um incêndio
  • implantação térmica em toda a estrutura do prédio; as estruturas metálicas foram revestidas com pintura intumescente, que preserva a resistência ao fogo das peças em caso de temperatura elevada

Portas, janelas e pisos

  • 450 portas e janelas foram catalogadas, retiradas e restauradas
  • 1500 metros quadrados de pisos de ladrilho hidráulico franco-alemão – passaram por restauro – cerca de 1300 ladrilhos foram restaurados e outros 700 foram reproduzidos e substituídos
  • também foi instalado piso podotátil para mostrar a direção e os obstáculos do trajeto

Elevadores e escadas rolantes

  • tornaram o prédio totalmente acessível

Telhado, coberturas e vidros

  • também foram restaurados, ganhando camadas de proteção que garantem conforto térmico aos usuários e ao acervo nos pavimentos superiores
  • instalação de vidros de baixa transmitância, que retêm o calor do raio solar, garantindo conforto térmico do prédio e melhor conservação do acervo

Jardim Francês

  • restauração de toda a área construída e de paisagismo, restauro e modernização da iluminação pública, requalificação das vias de acesso, reativação da fonte central e a recuperação de duas fontes presentes no projeto original do jardim, que foram destruídas na década de 1970

Política de uso 
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