Guarda-roupa do Santos Dumont e cama da Marquesa de Santos: Museu do Ipiranga reúne móveis criados nos últimos 400 anos

Com abertura no dia 11 de junho, às 10h, exposição Sentar, guardar, dormir: Museu da Casa Brasileira e Museu Paulista em diálogo revela a evolução de diferentes tipos de mobiliário ao longo do tempo

 Publicado: 04/06/2024     Atualizado: 18/06/2024 as 11:59

Móveis que estarão em exposição temporária no Museu do Ipiranga - Fotos: Helio Nobre e José Rosael/MP

Bancos, cadeiras, sofás, caixas, cômodas, escrivaninhas, guarda-roupas, redes, esteiras e camas. Todos esses itens fazem parte do nosso dia a dia e revelam como atendemos três necessidades básicas: sentar, guardar e dormir. Com foco nessas três ações humanas e nas soluções criativas adotadas em diferentes épocas, o Museu do Ipiranga realiza a exposição Sentar, guardar, dormir: Museu da Casa Brasileira e Museu Paulista em diálogo. Com abertura no dia 11 de junho, às 10h, a mostra apresenta móveis produzidos entre os séculos 16 e 21, com as peças criadas de acordo com as demandas de cada período.

As 164 peças escolhidas estabelecem um diálogo entre os acervos do Museu da Casa Brasileira (MCB), com 118 móveis, e do Museu Paulista, com 46 peças, expondo a complementaridade dos acervos das duas instituições estaduais paulistas. Os itens evidenciam a diversidade cultural e social brasileiras, abordando as heranças indígena, portuguesa e afro-brasileira, além daquelas ligadas às diversas imigrações e migrações que marcaram nossa sociedade.

Para facilitar o diálogo com o público, a exposição foi organizada por tipos de móveis, permitindo uma comparação clara entre as formas de desenvolvimento do mobiliário, seja por métodos artesanais ou industriais.  Ela está instalada no salão de exposições temporárias, um espaço moderno, acessível e climatizado, com 900m2, localizado no piso Jardim, o novo pavimento do Museu do Ipiranga. Os ingressos para a mostra são gratuitos.

A curadoria é dos docentes do Museu Paulista, Maria Aparecida de Menezes Borrego e Paulo César Garcez Marins, e do convidado Giancarlo Latorraca, arquiteto e ex-diretor técnico do Museu da Casa Brasileira (MCB). Também colaboraram na curadoria os assistentes Rogério Ricciluca Matiello Félix e Wilton Guerra.

“O acervo do Museu Paulista da USP está concentrado em exemplares dos séculos 17, 18 e 19, com alguns itens muito importantes dos primeiros 30 anos do século 20. Esse acervo é ligado à memória das elites paulistas tanto do período colonial quanto do período cafeeiro e da imigração, e que documenta diversas técnicas e formas de vida por meio dos três verbos que organizam a exposição (sentar, guardar e dormir)”, destaca Marins. 

Esses acervos são resultado de muitas décadas de coleta de móveis que foram cedidos pelas famílias de elite do Estado de São Paulo e que se materializam nos três eixos da exposição a partir de objetos bastante elaborados, com materiais custosos, como o jacarandá da Bahia, tampos de pedras em mármore e alabastro, além de ornamentos em bronze.

Paulo César Garcez Marins, professor no Museu Paulista e curador da exposição - Foto: Divulgação/CRBC FR

Paulo César Garcez Marins, professor no Museu Paulista e curador da exposição - Foto: Divulgação/CRBC FR

“Já o acervo do Museu da Casa Brasileira tem uma presença muito grande de móveis populares, de design de móveis seriados principalmente da segunda metade do século 20 para frente”, explica. Portanto, o foco está em objetos socialmente mais abrangentes, com móveis de camadas populares, por exemplo, mobiliário de populações indígenas e a produção industrializada da segunda metade do século 20. “Reunidos, esses acervos cobrem um espectro muito grande de segmentos sociais, de técnicas, de materiais e que permitem compreender uma grandeza dos acervos paulistas sobre esses temas da exposição”,  conclui o curador.

DORMIR

São exibidos móveis que evidenciam diversas formas de deitar e descansar praticadas no Brasil ao longo de séculos. Da rede de origem indígena às camas de casal ou de solteiro, estes móveis foram utilizados tanto em espaços compartilhados, como em ambientes cada vez mais íntimos ou individuais.

Pelos vários materiais usados em sua confecção – como fibras naturais, madeiras, couro, metais para encaixes e molas, plásticos e tecidos – pode-se trilhar o caminho entre fatura artesanal, muitas vezes feita por indígenas e negros, e a linha de produção em série, como é o caso das Camas Patente.

Muitas camas foram ofertadas às coleções dos museus por terem pertencido a membros das elites, como a família imperial, nobres que receberam seus títulos dos imperadores, como a Marquesa de Santos; ou de personalidades da política no regime republicano.

O módulo também apresenta um conjunto de móveis que pertenceu ao quarto de dona Violeta Jafet, doado em 2017 ao Museu Paulista. Ele é composto por cama, mesas de cabeceiras, penteadeira, sapateira, banqueta, cadeiras e mesa circular e um divã estofado. Dormir, sentar e guardar, estavam assim reunidos em um mesmo ambiente de elite, por meio dos móveis feitos pelo Liceu de Artes e Ofícios, que foi o mais famoso fabricante de móveis da cidade de São Paulo.

Cama de 1820, de nogueira e bronze, que pertenceu à Domitila de Castro Canto e Mello, Marquesa de Santos (1797–1867). Fabricada por L. Bellangé Fils. Acervo do Museu Paulista da USP - Foto: José Rosael
Rede em algodão fiado de 1900, peça do artesanato sorocabano com dois punhos de cada lado, que possibilita várias montagens. Além da posição tradicional, suspendendo-se uma lateral mais alta que a outra, a rede forma uma espécie de poltrona, como representado em uma iconografia do desenhista e fotógrafo do século XIX, Hercules Florence. Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP
Cama tipo patente de 1920 que pertenceu à pintora Anita Fraga (1907–1999). Acervo do Museu Paulista da USP - Foto: José Rosael
Móvel “surpresa”: aberto, transforma-se em cama com cômoda, penteadeira, escrivaninha com banquinho e ainda nichos para guardar objetos. Foi exibido na Primeira Exposição Municipal de São Paulo em 1917, no Palácio das Indústrias, onde ganhou bastante destaque por sua inventividade. Na parte frontal da peça, são representados em entalhes Pinheiros de Araucária e casas de sapé. Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP

SENTAR

Apresenta móveis populares, cadeiras e poltronas feitas por designers dos séculos 20 e 21 e conjuntos de sofás e cadeiras dos séculos 18 e 19. Um conjunto de tipologias que remetem ao uso recorrente ao longo do tempo, incluindo cadeiras de balanço, cadeiras para criança, sofás, poltronas, poltronas de braço, canapés, bancos, mochos, cadeiras de costura e cadeiras de escritório giratórias. . Entre os destaques, figuram peças elaboradas para o trabalho, como uma cadeira de barbeiro e um raro exemplar de cadeira de dentista portátil, além de bancos e esteiras indígenas.

Cadeira de dentista ambulante, desmontável e dobrável, para ser desmontada e guardada na caixa de madeira que serve como suporte, Década 1920, Coleção Museu Paulista - Foto: José Rosael
Produção: Cia. Industrial de Móveis - Móveis Cimo S/A, a partir de 1930, Rio Negrinho (SC), Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP
Cadeira-pudim, agradável de sentar e flexível em todos até lateralmente, elaborada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Ele conseguiu seu intento sem recorrer ao tradicional estofado, e sim ao aço espiral, muito fino e flexível, que é “vestido” com uma capa em couro ou lona. Em 1986, a peça venceu o 1º Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, 1957, Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP
Banco canapé de madeira entalhada, Século XIX. Fabricação Oficina Beranger. Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP
Banco esculpido em peça única de madeira de autoria Tropi Trumai (Mato Grosso, Parque Indígena do Xingu). Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP

GUARDAR

São apresentados diversos tipos de móveis que foram utilizados para armazenar roupas, cartas, documentos e valores. Caixas, canastras, cofres, cômodas, armários, guarda-roupas, contadores, papeleiras e escrivaninhas revelam, por um lado, os modos de dar segurança ao que se quer preservar ou transportar e, por outro, a proteção dos testemunhos da nossa intimidade e das roupas e acessórios que usamos.

Entre os destaques, estão a cômoda papeleira com seus sistemas de segredo, guarda-roupas de Alberto Santos Dumont e cangalhas utilizadas em mulas para o transporte de cargas.

Cesto cargueiro Kayapó, povos do século XIX que faziam fronteira entre os atuais estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, desenvolveram técnicas artesanais para confecção de cestarias, como por exemplo os Puris da Serra da Mantiqueira, embora sendo de etnias diferentes, Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP

Guarda Roupa que pertenceu a Alberto Santos Dumont, Acervo do Museu Paulista da USP - Foto: José Rosael
Cômoda Papeleira D. José I, do séc. XIX, com talha menos profunda e reservada a alguns pontos da peça, em contraste com o aspecto liso e vazio de partes inteiras, e nas pernas inteiriças com pés baixos e largos. Coleção MCB - Foto: Helio Nobre/MP
Par de canastras de tropeiro. Madeira, couro e tecido, 2ª metade do século 19, Acervo do Museu Paulista da USP - Foto: José Rosael

Preservação da identidade

O fato de grande parte do mobiliário do acervo da exposição ter sido doado pela sociedade é destacado por Marins como testemunho de que as coleções públicas são formadas por meio de doações. “A sociedade acredita nos museus quando os elege para preservar os registros de sua vida social, dos seus ancestrais ou de si mesmos, e isso ajuda a entender o papel social que os museus públicos desempenham na nossa sociedade”, diz. 

Ele explica que os museus são lugares de guarda, de preservação, de estudo dessas coleções, mas também são locais em que a sociedade deposita suas expectativas de preservação. “E é isso que realizamos com muito empenho e compromisso para fortalecer o papel dos museus na consciência social e na preservação das nossas identidades”.

 

Exposição temporária Sentar, guardar, dormir: Museu da Casa Brasileira e do Museu Paulista em diálogo

Abertura: 11/6 (terça), às 10h
Encerramento: 29/9
Sala de exposições temporárias, ala oeste do piso Jardim
Entrada gratuita

Acesso ao edifício Monumento
O acesso ao edifício monumento, no qual estão abertas as exposições de longa-duração, se dá por meio de ingressos vendidos por agendamento no site ou diretamente na bilheteria. Mais informações neste link

Museu do Ipiranga
Endereço: Rua dos Patriotas, 100
Funcionamento: Terça a domingo (incluindo feriados), das 10h às 17h (última entrada às 16h)
Bilheteria a partir das 9h
Ingressos para as exposições de longa-duração: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)

Gratuidades: Quartas-feiras e primeiro domingo do mês, além de entrada franca para públicos específicos. Confira mais informações neste link

Com informações da Assessoria de Imprensa do Museu do Ipiranga

 


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