Fotos com dados georreferenciados podem contribuir para experiências do usuário na internet e na cidade

Plataforma Arquigrafia da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP busca resgatar o vínculo entre imagens fotográficas e lugares nos percursos urbanos

 Publicado: 01/07/2024

Texto: Ana Beatriz Tuma*

Plataforma web colaborativa Arquigrafia - Foto: Acervo/Arquigrafia

Os mapas digitais já são uma realidade na vida das pessoas, seja para ver se o ônibus está chegando ou para se ter uma ideia de quanto tempo será gasto para fazer um determinado percurso a pé ou de carro. Percebendo que essa interação com o mapeamento digital nas cidades é cotidiana, a plataforma web colaborativa Arquigrafia de compartilhamento de imagens fotográficas de edifícios e espaços urbanos de países de língua portuguesa tem contribuído com as experiências do usuário ao navegar no acervo e ao caminhar pela cidade.

Para isso, a plataforma, que já conta com mais de 13 mil fotos, faz uso de dados georreferenciados, ou seja, associa a cada imagem uma localização específica no espaço geográfico. Essa iniciativa, que começou a ser idealizada em 2008, hoje é um Projeto Temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), contando com a participação de vários pesquisadores da Escola de Comunicações e Artes (ECA), do Instituto de Matemática e Estatística (IME), do Instituto de Psicologia (IP), do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A relação entre fotografia e lugar

Segundo o coordenador do Arquigrafia e professor da FAU, Artur Rozestraten, o georreferenciamento possibilita que o usuário relacione uma imagem fotográfica a um local específico em um mapa digital. “A partir dessa posição [geográfica] no mapa, a nossa intenção é que o lugar físico também possa ser visitado num percurso na cidade, de maneira que a gente possa perceber que existe uma fotografia de outro tempo associada a esse lugar que percebemos agora, estabelecendo, assim, uma relação imaginativa entre tempos distintos”, afirma.

Com isso, os dados georreferenciados podem contribuir para que sejam reconhecidas as transformações nos percursos urbanos que ocorrem em um tempo que pode ser considerado variável. “Eventualmente, ele é um tempo lento. Então, tem uma parte da cidade que parece continuar da mesma forma, mas o que é mais comum entre nós, nos nossos ambientes urbanos, especialmente nas grandes cidades, é uma transformação muito rápida dos lugares e uma perda de suas características sensíveis”, explica Rozestraten. Dentro dessa perda, pode haver vários aspectos, do visível ao auditivo/sonoro, como é o caso da paisagem, o que a relação imagem fotográfica e lugar permite que as pessoas se deem conta.

Para o coordenador do Arquigrafia, “essa compreensão da transformação dos ambientes urbanos pode ser construída nessa interação entre imagens e lugares, imagens e mapas, e é fundamental para que a gente possa refletir sobre os nossos anseios com relação a uma cidade do presente, a uma cidade do futuro, que dialogue com uma história dessa cidade”.

Artur Rozestraten, professor da FAU e coordenador do projeto Arquigrafia - Foto: Divulgação/Arquigrafia

Além disso, o georreferenciamento das fotos faz com que as pessoas cheguem até elas mais facilmente. A professora do ICMC e pesquisadora principal do Arquigrafia, Kalinka Branco, exemplifica: “Imagina que a gente tenha uma foto de uma pintura ou de um prédio. Se você tem a referência de onde ela se encontra, ou seja, o georreferenciamento dessa imagem, é possível, através de um aplicativo, você clicar e ele te direcionar, te dar o caminho, a localização exata dessa figura. Então, isso faz com que o usuário se sinta mais confortável ao chegar até ela”.

Na opinião do bolsista de treinamento técnico (Fapesp) e coordenador da equipe de desenvolvimento do Arquigrafia, Henrique Junges, os dados georreferenciados podem também contribuir para facilitar a criação dos percursos urbanos. “O interessante é poder pesquisar umas coisas que você tem interesse e conseguir ligar ali no seu mapa e poder montar um roteiro próprio de acordo com seus interesses de coisas que achou dentro da plataforma.”

Rozestraten afirma que “quando nós caminhamos por um lugar e podemos buscar imagens que estão, eventualmente, próximas do nosso percurso, ou que vão, inclusive, sugerir um percurso, eu acho que aí a gente está falando realmente de algo que a plataforma Arquigrafia almeja, que é estar presente acompanhando as pessoas que caminham por suas cidades”. De acordo com ele, essa presença diz respeito tanto ao acesso às imagens compartilhadas por outros usuários como a um convite para a produção e o compartilhamento de novas imagens fotográficas dentro da plataforma.

O georreferenciamento no Arquigrafia

Os dados georreferenciados estão presentes por toda a plataforma. “Quando você escolhe uma imagem da Praça da Sé no painel de imagens que o Arquigrafia oferece de início, você vai para uma página da imagem. Naquela página, vai aparecer a fotografia que você viu e selecionou, vai aparecer uma série de dados da indexação da imagem e, no canto inferior à direita, vai aparecer o mapa. Esse mapa vai te mostrar a posição daquela fotografia”, detalha o coordenador do Arquigrafia.

Henrique Junges afirma que o georreferenciamento é gerado quando o usuário faz upload de uma foto, a partir de “uma linguagem humana, que a gente já usa para se referenciar: rua, número, cidade, Estado, essas coisas. Esse tipo de linguagem é bem fácil para o usuário entender”. Segundo ele, com essas informações de localização inseridas pelas pessoas é possível gerar o georreferenciamento da imagem fotográfica em um mapa digital.

Por isso, o coordenador da equipe de desenvolvimento da plataforma chama a atenção para o fato de os usuários, ao subirem uma foto no Arquigrafia, colocarem o máximo de informações da localização dela que souberem. “O que não souber, vai deixando em branco, mas quanto mais [informação] melhor para que a gente possa construir uma indexação bem completa”, ele destaca.

Vista da Praça da Sé, em São Paulo (SP) – Foto: Ulisses Sardão/Acervo Arquigrafia

A respeito disso, a professora da ECA e pesquisadora associada do Arquigrafia, Vânia Lima, afirma que a indexação é um processo através do qual as informações são representadas de forma padronizada para que sejam encontradas tanto pelo público especializado quanto pelo público em geral. Já o georreferenciamento é uma ferramenta específica utilizada para se encontrar um local, trabalhando também com padrões, no caso, as coordenadas geográficas. 

“Assim, garantir uma indexação mais completa possibilita que o local georreferenciado seja encontrado não só pelas coordenadas, mas também por denominações que o público está acostumado a reconhecer”, explica a professora.

Para um desenvolvimento intenso e de curta duração, um hackathon

Desde seu surgimento, em 2009, a plataforma tem recebido vários aprimoramentos, o que também inclui a parte de georreferenciamento. Um dos últimos esforços neste sentido foi um hackathon realizado em junho no Atelier Caetano Fraccaroli da USP, que reuniu graduandos e pós-graduandos de diversas áreas.

Premiação dos participantes ganhadores do hackathon – Foto: Ana Beatriz Tuma

O hackathon faz parte da iniciação científica do estudante de graduação da FAU, Kevin Altea, bolsista no projeto temático, que explica que esse tipo de metodologia de projeto é semelhante a uma maratona. “Como toda maratona, você tem um objetivo e você tem um grupo de pessoas que vão correr para chegar nesse objetivo. Esse percurso é o projeto.” Além disso, de acordo com ele, um hackathon é uma metodologia intensa e de curta duração porque em apenas um ou dois dias os participantes alcançam o objetivo deles: a criação de uma solução para um problema.

No caso da proposta de Kevin, o problema dado aos participantes foi: “Como exibir e interagir com percursos urbanos, considerando também imagens e metadados relacionados, dentro do Arquigrafia?”. Para o estudante, o hackathon contribui para solucionar essa questão ao trazer uma liberdade de ideias muito grande. “Então, a prototipagem, aquele brainstorming que a gente faz, levantar novas opções com uma liberdade criativa maior, isso é muito bom e muito bem-vindo, porque traz aspectos diferentes e interessantes sobre esse modo de enxergar.”

Um dos participantes do evento, o mestrando na FAU Guilherme Souza, diz que o hackathon foi bastante intenso. “A gente trabalhou uma maneira de articular as imagens em uma coleção que traga alguma significação, que articule um contexto entre essas imagens e possa ter uso tanto pedagógico quanto uso de pesquisa, ou seja, o professor elaborar uma coleção de imagens que vai trabalhar um assunto específico dentro da Arquitetura, do Urbanismo ou em outros temas possíveis dentro do acervo do Arquigrafia.” Ele conta que essas imagens estariam dispostas em um mapa que as relaciona de uma maneira espacial, dando uma significação para toda a base de dados. “Quer dizer, a gente ter uma ferramenta para que as pessoas possam entrar e articular essas imagens de uma maneira mais criativa”, finaliza.

Sobre a plataforma web colaborativa

O Arquigrafia possui mais de 13 mil fotografias de edifícios e de espaços urbanos dos países de língua portuguesa. 

É possível fazer download das imagens fotográficas do acervo e utilizá-las desde que os créditos sejam atribuídos e levado em consideração o tipo de licença que cada uma delas tem, o que é encontrado na própria página da foto. Também é possível enviar fotografias. 

Em ambos os casos, é necessário apenas se cadastrar na plataforma ou fazer login em arquigrafia.org.br. Para acompanhar o que é feito na iniciativa, siga @arquigrafiafau.oficial no Instagram.

Para acessar a plataforma clique aqui.

*Bolsista JC-IV junto ao Projeto Temático Fapesp Experiência Arquigrafia 4.0 e pesquisadora colaboradora da FAU


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