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Fotos: cedidas pelas iniciativas
Estudantes da USP se organizam para combater os efeitos da pandemia
De alunos de Enfermagem a grupos de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade, conheça algumas das iniciativas de voluntariado
17/07/2020
Tabita Said
Alunos, professores e centros acadêmicos da USP estão se organizando para combater os efeitos deixados diariamente pela pandemia do coronavírus. Falta de acesso a itens básicos de higiene e alimentação, ausência de equipamentos para se comunicar e estudar, as grandes filas de pacientes aguardando atendimento e comunidades afastadas que necessitam de informações confiáveis. Situações como essas foram motores de engajamento a diversas iniciativas de voluntariado nos campi da USP. A maioria delas se concentra em levar o conhecimento adquirido para fora dos muros da Universidade, aliando o desejo de ajudar à oportunidade de praticar o que aprendem em sala de aula.
Conheça algumas destas ações a seguir e saiba como ajudar ou pedir ajuda.
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Auxílio
O Centro Acadêmico da Farmácia e Bioquímica organizou um auxílio financeiro emergencial destinado a alunos em situação de vulnerabilidade social. Mediante comprovação de renda familiar, os beneficiados receberão durante 5 meses o valor de R$ 100,00 (equivalente a uma cesta básica). Até o momento, 23 estudantes foram atendidos; 15 deles, do cursinho popular da Faculdade e oito estudantes de graduação. A iniciativa é subsidiada pelo próprio caixa do Centro Acadêmico e por doações de docentes e estudantes da faculdade.
Computadores
Com a decretação da quarentena, o Centro Acadêmico conseguiu viabilizar notebooks a todos os estudantes que necessitavam. Alunos da graduação foram atendidos com equipamentos emprestados pela faculdade, comprados pelo Centro Acadêmico e outros doados por alunos e ex-alunos.
“Uma cesta básica padronizada poderia não atender às necessidades dos beneficiados, então optamos pela entrega em dinheiro”, explica Caio Marcelo Lourenço, presidente do Centro Acadêmico de Farmácia e Bioquímica - Foto: Arquivo pessoal
Álcool em gel
Voluntários da FCF estão fracionando doações de álcool 70 e álcool em gel para compartilhar com o Hospital Universitário da USP. A Unidade também está organizando um corpo de discentes voluntários dispostos a auxiliar na produção de álcool em gel e de frascos. Os interessados em ajudar não podem ser do grupo de risco e precisam responder ao formulário.
Máscaras
Na campanha, intitulada “Farmacosturamor”, a FCF recebe materiais para produção de máscaras reutilizáveis. A campanha pretende distribuir três máscaras para cada um dos funcionários, alunos e docentes da própria unidade, assim que as atividades sejam retomadas no prédio. Até o momento, os voluntários já costuraram mil máscaras.
Saiba mais sobre as campanhas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas neste link.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Doações
O Centro Acadêmico Moacyr Rossi Nilsson (CAMRN) está arrecadando fundos através de doações online para financiar cestas básicas a alunos e funcionários terceirizados da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. As doações podem ser feitas por meio da vaquinha on-line: https://abacashi.com/p/ajuda-aos-alunos-da-veterinaria-usp-5622. Na primeira etapa de arrecadação, a meta foi maior do que o previsto. Por isso, o Centro Acadêmico planeja comprar cestas básicas maiores. “E, se sobrar dinheiro, vamos doar para a vaquinha exclusivamente voltada às funcionárias terceirizadas que foram demitidas”, destaca Talita Beck, integrante do CAMRN e uma das organizadoras das vaquinhas.
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
Cestas básicas
A Casa do Hip Hop também recebe doações individuais e de outras instituições. Com auxílio de parceiros, cerca de 200 cestas são montadas e distribuídas - Foto: Arquivo pessoal
O Centro Acadêmico Luiz de Queiroz (Calq), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), no campus de Piracicaba, realizou uma campanha de arrecadação de alimentos, produtos de higiene e de limpeza em sua sede. As doações envolveram docentes, discentes, moradores da região e também integrantes de grupos de extensão da Esalq que cultivam alimentos. A ação foi realizada em conjunto com o Diretório Central dos Estudantes da USP, buscando contribuir com a campanha da Casa do Hip Hop. Cerca de 200 famílias em situação de vulnerabilidade na cidade receberam as doações. “O Calq muda de gestão neste mês de julho, mas esperamos que a gestão eleita continue arrecadando”, propõe Stephanie Breda, aluna de Engenharia Florestal e integrante do Centro Acadêmico.
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Alimentos
Em nove semanas de campanha, o CARL já arrecadou mais de R$ 32 mil em doações e já converteu parte desse dinheiro em mais de três toneladas de alimentos - Foto: Arquivo pessoal
O Centro Acadêmico Rocha Lima, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, iniciou a campanha de arrecadação de fundos “ArreCARLda”, para ajudar o Projeto Cozinha Solidária. O projeto, que conta com alunos de graduação e pós-graduação do campus Ribeirão Preto, tem ajudado cerca de 1.500 pessoas nas comunidades da Paz (Jd. Angélica), Mangueira (Vila Virgínia), Cidade Locomotiva (Jd. Jóquei Clube) e Núcleo Vida Nova (Jd. Marchesi), fornecendo alimentação pronta diariamente através de cozinhas comunitárias, autoorganizadas por moradores voluntários. “Atualmente, já somos os principais patrocinadores do projeto. Além dessa atuação, nosso Centro de Vivências, uma propriedade no campus sob responsabilidade do CARL, também é utilizado com ponto de armazenamento dos alimentos arrecadados”, diz Camila de Alcantara, presidente do Centro Acadêmico. A distribuição acontece por meio da entrega das refeições para um líder de cada família da comunidade, que se dirige até o local da cozinha e pega a quantidade necessária de duas refeições para cada integrante de sua família.
Orientação médica
Outro projeto envolvendo alunos de da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto é o Voluntariado em Saúde, que atua nas mesmas comunidades atendidas pelo Cozinha Solidária. O projeto busca movimentar profissionais e estudantes da área da saúde a atuar junto à população em situação de rua, pessoas abrigadas e comunidades em situação de vulnerabilidade. Os voluntários apoiam fornecendo informações e orientações sobre a pandemia de covid-19, boas práticas de saúde em geral, assim como no fornecimento de máscaras e kits de higiene. Nas dez primeiras semanas de ação, já foram distribuídas mais de 2.000 máscaras, 1.200 sacos de sabão, 540 kits de álcool em gel e sabonete líquido, além de materiais para higiene bucal, cobertores e materiais infográficos sobre cuidados na pandemia.
A organização estima que cerca de 10 mil pessoas tenham sido beneficiadas, direta ou indiretamente, pelas ações de orientações em saúde - Foto: Arquivo pessoal
Projeto Domus
Paralelamente, o projeto pesquisa a fabricação de aquecedores solares a baixo custo, feitos de materiais recicláveis, em parceria com a Empresa Júnior da Engenharia Ambiental da USP em São Carlos - Foto: Divulgaçãp/Domus
Tetra Pak
Reunindo alunos na USP em São Carlos, o projeto busca melhorar a qualidade das moradias da ocupação “Capão das Antas”, região de São Carlos, interior paulista. O grupo de voluntários, que integra a iniciativa Enactus São Carlos, reforçou o revestimento interno de uma casa protótipo utilizando embalagens cartonadas, já que as moradias desses acampamentos são feitas de MDF com diversas frestas. Os alunos, em sua maioria dos cursos de arquitetura e engenharia, instruíram os moradores dos cuidados a serem tomados para maximizar a durabilidade desse revestimento e mantiveram visitas periódicas à comunidade.
Com a pandemia da covid-19, não conseguiram dar prosseguimento ao revestimento das outras moradias dessa comunidade. Por isso, estão se concentrando na arrecadação de caixas Tetra Pak, divulgando a campanha pelas redes sociais e orientando sobre o armazenamento. Até o momento, a campanha já arrecadou mais de 3.800 caixas, mas a meta é chegar a 5.000 até o fim de julho, com as quais será possível revestir mais 10 casas de 9 m³.
Escola de Enfermagem
Acolhimento
Médicos e enfermeiros passam orientações de alta por teleatendimento, evitando o contato mas mantendo uma comunicação direta e em tempo real - Foto: Divulgação EE
Sob orientação da professora e também diretora da Escola de Enfermagem da USP, Regina Szylit, alunos voluntários fazem acolhimento a familiares de pacientes de covid-19 que tiveram alta do Hospital das Clínicas (HC). De acordo com a professora, a abordagem segue o mesmo treinamento dos atendimentos de emergências e desastres. “Tendo atendido o paciente em seus aspectos biológicos, o passo seguinte é fazer o acolhimento centrado nas necessidades do paciente e da família, pela necessidade de informar o cuidador”, informa Regina sobre o projeto, que inclui os alunos de Enfermagem no Grupo de Residência Multiprofissional do HC. Esses voluntários realizam o acompanhamento de orientação da alta por teleatendimento e fornecem orientações para a continuidade dos cuidados em casa, já que o isolamento é indicado mesmo após a alta por, pelo menos, 21 dias. “Há pessoas que saem muito debilitadas e alguns familiares não assimilam tudo o que foi dito pelos médicos por vídeo”, afirma a voluntária Amanda Haddad, aluna do último ano do curso de Enfermagem da USP, que acompanha sempre emocionada e atenta o reencontro do paciente e do familiar. “Então é importante receber a orientação por vídeo e repassar as informações olhando nos olhos, pois elas podem evitar novas contaminações em casa.”
Triagem
O projeto de enfrentamento à covid-19 também atua com voluntários da Escola de Enfermagem na triagem de pacientes sintomáticos que chegam ao HC. Nesta frente, alunos de graduação e pós-graduação trabalham junto de alunos da Santa Casa e do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas na entrada do ambulatório do HC, identificando sintomas gripais e evitando que um paciente com suspeita de coronavírus circule pelas dependências do hospital.
“A diversidade de atendimentos é enorme, não tem por que não abrir neste momento em que precisamos de mais profissionais. Infelizmente a epidemia está aí, mas tem proporcionado a riqueza do trabalho multiprofissional”, constata Regina. Ela ressalta que este grupo permanece na área de recepção e faz medição de temperatura e aplicação de um formulário para identificação dos sintomas. Se a suspeita é confirmada, o paciente é acompanhado até o setor do hospital que atende apenas esses casos, para realização de testes.
“Nós nos dividimos em dois turnos e percebemos que só pela manhã recebemos de 600 a 800 pessoas, buscando consultas e exames todos os dias”, observa a voluntária Giovanna Sánchez, aluna do terceiro ano de Enfermagem na USP e responsável pela escala dos voluntários. Para ela, “esse projeto está ajudando a raciocinar e perceber, na prática, a diferença entre um sintoma e uma doença crônica, por exemplo”.
Grupo de voluntários realiza triagem no ambulatório do Hospital das Clínicas, selecionando pacientes com suspeita de coronavírus - Foto: Divulgação/EE
Instituto de Psicologia
Material Educativo
O Laboratório de Etologia, Desenvolvimento e Interação Social (Ledis) é composto por alunos de graduação, pós-graduação e bolsistas que estudam as interações entre humanos e outras espécies (principalmente cães e macacos). Durante o período da pandemia, o grupo está produzindo e divulgando material educativo sobre a covid-19 para as pessoas que vivem nos locais onde se estudam os macacos-prego, além de regiões com populações rurais vulneráveis. O material tem sido distribuído em áreas como Gilbués, no interior do Piauí; Una, na Bahia e cidades próximas ao Parque Estadual Carlos Botelho, em São Paulo. Pensando na prevenção da doença, os alunos desenvolveram vídeos, gifs, ou imagens com uma linguagem acessível, informal, contando sobre o que é o vírus, explicando formas de contaminação e maneiras para evitar a transmissão.
O material é divulgado via WhatsApp, YouTube (LEDIS USP) e Instagram (@ledisusp)
“Em cada uma destas áreas nós estamos trabalhando há 10, 20 anos! Estabelecemos laços fortes com as comunidades locais, que nos deram acesso às áreas, por meio de moradores locais que são nossos assistentes de campo por tantos anos, nos ensinaram a andar nas matas, nos guiaram, nos ensinaram o nome das plantas. Eles nos ajudaram a acostumar os macacos à presença de observadores humanos e hoje conhecem cada macaco do grupo pelo nome e suas respectivas gerações”, lembra a professora Patrícia Izar, orientadora dos alunos do projeto. Segundo ela, a pandemia trouxe a urgência de levar a essas pessoas informações baseadas na ciência. “Porque, às vezes, as pessoas não conseguem imaginar o que seja um vírus, que tem esse nome estranho e alto poder de disseminação. E também por que há tanta informação falsa que é veiculada nesses locais”, completa.
Sebo Virtual
Sob orientação da professora Fraulein Vidigal de Paula (Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade da USP), alunos de graduação e pós-graduação estão empenhados em buscar soluções para os funcionários terceirizados que foram demitidos, além dos prestadores de serviço do tradicional corredor da Psicologia, onde vendem lanches, livros e acessórios. O grupo criou um Sebo Virtual e participou da criação de um fundo de solidariedade para esses profissionais. “Ainda estamos pensando em criar sistemas de créditos com esses prestadores de serviço, além de lives em forma de rodas de conversa para manter o contato”, explica Sung hwan Ahn, aluno de graduação do instituto.
O Instituto de Psicologia abriga projetos e laboratórios que, tradicionalmente, realizam atendimento psicológico a diversos e distintos públicos. Mas, neste momento, o instituto reorganizou os atendimentos e destinou grupos de assistência específicos para lidar com as dificuldades psicológicas que derivam da pandemia. Conheça alguns a seguir:
APOIAR – Atendimento On-line
Pessoas que manifestem sofrimento psíquico relacionado à pandemia e ao distanciamento social são o foco do APOIAR. O grupo disponibiliza atendimento especial a profissionais de saúde, a adolescentes (neste caso com o consentimento dos responsáveis) e a pessoas com mais de 18 anos de idade. O processo é realizado por psicólogos inscritos no Conselho Federal de Psicologia e habilitados para atendimento a distância. Os interessados devem enviar e-mail para: apoiar@usp.br
Laboratório Chronos
O Chronos atende pessoas com câncer e seus familiares, mas durante o período de isolamento social, passou a prestar atendimentos também a profissionais da saúde, com a ajuda de alunos voluntários. De acordo com a professora Elisa Maria Parahyba Campos Rodrigues, coordenadora do projeto, os atendimentos continuam por telefone. “O grande tema é o medo. A incerteza de não saber até quando o isolamento vai e os problemas financeiros.” No caso do paciente com câncer, as preocupações não são as mesmas. “Quando existe uma angústia muito grande, as outras ficam em segundo plano. E me parece que a questão do câncer ocupa um espaço mental maior do que o da pandemia”, avalia.
Para saber mais, acesse este link.
Para ser atendido, envie um e-mail para chronos.usp@gmail.com.
Matéria atualizada em 20/07/2020.