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A procura por vida extraterrestre é um tema que interessa a humanidade há muito tempo. Nos anos 50, cientistas começaram a enviar sinais por radiotelescópios na espera de respostas de outras civilizações. O método era impreciso, mas hoje estamos a poucos anos de conseguir verificar efetivamente a presença de vida em outros planetas. Está sendo construído no Chile o Gigante Magalhães (GMT), que entrará em operação em 2021 e será o maior telescópio óptico do mundo. Sua resolução será dez vezes maior que a do Hubble e é por ele que os cientistas examinarão se há vida em outros sistemas e galáxias.

É pela presença de ozônio ou metano em suas atmosferas que se investiga esse fenômeno em planetas distantes da Terra, explica o professor Augusto Damineli, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP – um dos cientistas envolvidos nas negociações que incluíram instituições do Estado de São Paulo como sócias do GMT.
Segundo o astrônomo, dois tipos de vida dominaram o planeta Terra até hoje: a primitiva, ou anaeróbia, que são os seres que vivem sem oxigênio e emitem metano, que conhecemos por microrganismos; e a mais avançada, dos seres aeróbios, que fazem respiração celular e emitem ozônio, que são os animais e plantas. São eles que repõem as camadas de ozônio e metano do planeta, constantemente desgastadas pelo Sol.
No USP Talks do dia 31 de agosto, que discutiu As Origens da Vida e do Universo, Damineli afirmou que viveremos a checagem da existência de vida nos planetas. Com o supertelescópio em construção, teremos imagens muito melhores do que as disponíveis atualmente e será possível analisar a superfície de planetas com condições semelhantes às da Terra. “Basta ver o planeta e sinais de atividade. A visibilidade da vida fica tão grande quanto a visibilidade de sua atmosfera”, contou o cientista ao público que lotou o teatro da Livraria Cultura, na avenida Paulista, em São Paulo.
Condições para a vida nos planetas

Para ser habitável, um planeta precisa ter água líquida – o que demanda que esteja a uma distância de sua estrela nem tão grande, a ponto de a água congelar, nem tão pequena, a ponto de vaporizar. É necessário, também, que sejam planetas rochosos, e não gasosos (estes são autoesterilizantes e não permitem a existência de vida).
Segundo o especialista, estima-se que existam 40 bilhões de planetas “tipo Terra” em zona habitável. Na última semana, os astrônomos do European Southern Observatory anunciaram a descoberta do planeta Proxima b, que tem as condições necessárias para a evolução da vida. Ele orbita a estrela Proxima Centauri, uma anã vermelha com menos de 15% do diâmetro do Sol e é o planeta mais próximo da Terra com condições para vida, a 4,2 anos-luz.
Expansão do universo e energia escura
O universo está em expansão acelerada. Isso significa que, se a aceleração continuar, ele atingirá uma velocidade muito alta e terminará em uma explosão, uma desagregação denominada pela ciência de Big Rip (Grande Ruptura, em português). É o que explica o astrofísico João Steiner, também professor do IAG e convidado do USP Talks.

Há apenas duas décadas, a ciência imaginava que o universo estivesse em expansão desacelerada, pois a gravitação proveniente dos corpos exerceria uma força no sentido da aproximação das galáxias. Em 1998, porém, foi descoberto justamente o contrário: que a velocidade com que elas se distanciam é cada vez maior. “Há algo, uma espécie de pressão que faz com que as galáxias se afastem em velocidade crescente”, afirmou o cientista, que também está envolvido no consórcio internacional do Gigante Magalhães.
Isso significa que há uma energia escura, que não conhecemos, que exerce essa força contrária à gravitação. Essa energia compõe 73% do universo.
O que conhecemos do universo, assim, representa apenas 4,6% de sua totalidade. Os outros cerca de 23% são o que chamamos de matéria escura. Sabe-se que ela existe pois tem gravidade, mas a ciência não sabe como se comporta nem quais leis segue. A matéria escura é diferente dos buracos negros, que são aglomerados de matéria muito condensada com gravidade infinita em sua superfície. Não tem prótons, nêutrons ou elétrons, como a matéria que conhecemos.
O professor Steiner finaliza: “A Física talvez esteja incompleta. E isso é uma coisa fantástica. Nós temos evidências de que as teorias dos campos e das partículas precisam ser mais sofisticadas para dar conta de explicar o que os astrônomos observam no universo”.
USP Talks
Organizado pelas Pró-Reitorias de Pesquisa e de Graduação da USP e pelo jornal O Estado de S. Paulo, em parceria com a Livraria Cultura, o USP Talks é uma série mensal que traz especialistas da academia para falar sobre temas de grande relevância, em um formato diferenciado de palestra – informal, simples, rápido e personalizado.
A primeira edição foi em abril, com o tema Aedes aegypti, zika e microcefalia: Como vencer o mosquito e suas doenças?. O USP Talks também já discutiu corrupção, câncer e violência contra a mulher.
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