Cercado com a Estação Meteorológica, no Parque Cientec - Foto: ViniRoger/Monolito Nimbus CC

Estação Meteorológica da USP faz 90 anos contribuindo para a pesquisa e difusão da ciência

Pertencente ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e localizada no Parque Cientec, no bairro da Água Funda, Estação Meteorológica da USP é uma das poucas que possuem dados comparativos do clima desde a década de 1930 até hoje

 12/12/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 21/12/2022 as 17:10

Redação

No dia 22 de novembro de 1932, a Estação Meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP foi instalada no bairro da Água Funda, em São Paulo, na região do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, anteriormente chamado Parque do Estado. Registrada junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM), é constituída de um cercado meteorológico, de um conjunto de salas no terraço do edifício da administração do Parque de Ciência e Tecnologia (Cientec) da USP e de uma torre no alto deste mesmo edifício. Atualmente é voltada à pesquisa e além de coletar, tratar e disseminar suas observações de superfície, e de receber visitantes de todas as faixas escolares ao longo do ano, a Estação Meteorológica tem auxiliado nas aulas práticas do curso de Bacharelado em Meteorologia da USP.

Para comemorar os 90 anos de atividades ininterruptas, funcionando mesmo durante o período da pandemia de covid-19, o Departamento de Ciências Atmosféricas realizou, na última semana de novembro, um seminário apresentado pelo professor Carlos Augusto Morales, chefe da Estação Meteorológica, disponível neste link. Segundo ele, a estação tem contribuído para a divulgação científica, seja através de trabalhos acadêmicos, seja através de laudos técnicos utilizados por empresas, ou ainda como objeto de visitas de estudantes dos ensinos fundamental e médio, e também do ensino superior.

“A Estação Meteorológica contribui para mais de 3 mil trabalhos acadêmicos, mantendo o nível de excelência da Universidade. São poucos os institutos ou seções técnicas que contribuem com essa quantidade de informações”, destaca Morales. Mas algo que impressiona, como ele lembra, é o número de visitantes: “São mais de 150 mil visitantes na Estação Meteorológica. E se quisermos difundir ciência, essa é maneira”. E continua: “Isso faz parte da história da USP. Desde a década de 70, a Estação Meteorológica sempre foi objeto de visitas, e muitas dessas pessoas se tornaram alunos do IAG”. Porém, atualmente, por falta de técnicos de nível superior, as visitas não estão acontecendo no local.

Segundo o professor, a Estação Meteorológica da USP, por conta de seus 90 anos de existência, pode comparar dados desde a década de 1930 até hoje e analisar as mudanças no clima. Morales explica que na cidade de São Paulo, nos últimos cinco anos, é possível constatar que a temperatura máxima é mais frequente, atingindo 37,7 °C em 2020. 

Carlos Augusto Morales - Foto: Divulgação/IAG

Carlos Augusto Morales, professor do IAG e chefe da Estação Meteorológica da USP - Foto: Divulgação/IAG

Morales também fala sobre o volume de chuvas que tem aumentado desde a década de 1930, subindo até 1 mm em 2020, mostrando que as tempestades têm sido mais volumosas e, no verão, mais intensas. Ele lembra que, com as mudanças climáticas, a tendência é que essa intensidade aumente mais ainda. “A duração de chuva também é importante para se planejar. Em São Paulo, a duração média fica entre 1 hora e 1h30”, analisa, informando que com base nesses dados, é possível afirmar que as tempestades na cidade estão ficando mais volumosas e com um tempo maior de duração. Além disso, são analisados fenômenos meteorológicos como a garoa, o nevoeiro, a geada e as trovoadas. Segundo o professor, São Paulo não é mais a terra da garoa já que o número de dias com garoa está diminuindo a cada ano que passa, informa, acrescentando que, ao observar as trovoadas, a curva vem aumentando. “Em algumas centenas de anos, teremos só chuvas e raios, que é o aquecimento completo.”

Estação Meteorológica do IAG no Parque Cientec e atividade educativa para estudantes - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O professor atenta para questões urgentes que devem ser repensadas para que a Estação Meteorológica continue a funcionar com seu nível de excelência voltado à divulgação científica. Segundo ele, a falta de meteorologistas compromete não só as visitas, mas o controle de qualidade e análise dos dados, boletins e cursos extracurriculares, entre outros aspectos. Além disso, há a questão da aposentadoria dos observadores, que acaba restringindo as observações, e a manutenção dos prédios e equipamentos. Como ele destacou também, as observações convencionais não podem ser trocadas pelas estações automáticas. “Quanto mais tempo conseguirmos manter as observações convencionais, teremos um controle muito maior dos dados”, informa, lembrando que a Estação Meteorológica da USP é uma das mais antigas da América Latina. A ideia é avançar e, possivelmente, construir um outro cercado meteorológico, onde ficarão todos os instrumentos automáticos, adiantou Morales no evento.

Contribuições da Estação Meteorológica desde 1988

3.626

trabalhos acadêmicos (TCCs, mestrados, doutorados e artigos científicos)

3.691

laudos para obras, seguradoras e bancos

151.657

visitantes de escolas do ensino fundamental, médio e superior

90 anos de observações – os recordes na cidade de São Paulo

Maior temperatura

37,7°C

2 de outubro de 2020

Menor Temperatura

-1,2°C

6 e 12 de julho de 1942 /
2 de agosto de 1955

Mês mais chuvoso

653,2 mm

janeiro de 2010

Mês menos chuvoso

0,4 mm

julho de 2008

Boletins Climatológicos

Desde 1997, a Estação Meteorológica da USP elabora anualmente um Boletim Climatológico, contendo uma síntese das observações meteorológicas, bem como os valores médios observados durante o ano. Há também boletins trimestrais (elaborados desde 2010) e mensais, que consistem em tabelas com informações sobre o mês estudado (desde 2012), além de relatórios técnicos. É importante ressaltar que a Estação Meteorológica não adota o horário de verão e utiliza o tempo universal coordenado (TMC) ou tempo médio de Greenwich (TMG) menos 3 horas, durante o ano inteiro.

As medidas da Estação Meteorológica tiveram início em 1933 a partir de observações horárias realizadas entre 7 e 10 horas e das 12 às 15 horas. As observações meteorológicas foram ganhando um número maior de horas, até que, a partir de janeiro de 1950, passaram a ser realizadas ininterruptamente a cada hora entre 7 e 24 horas, todos os dias do ano. 

Boletim climatológico com observações meteorológicas realizadas no ano - Foto: Divulgação/ IAG

Página com dados metereológicos atualizados - Foto: Reprodução/IAG

 Os instrumentos mecânicos automáticos – anemógrafo, barógrafo, termógrafo, higrógrafo, pluviógrafo e actinógrafo registram as informações continuamente durante as 24 horas do dia.

A partir de 2009, as observações coletadas pelos observadores meteorológicos e as registradas pelos instrumentos automáticos são arquivadas digitalmente em planilhas eletrônicas, que são instantaneamente transferidas para o banco de dados e a página da Estação na internet. No dia seguinte às observações, as informações coletadas são confirmadas. Os dados são enviados de forma automática e em tempo real para o Synop, Enemet e depois são encaminhados para a OMM.

Estrutura da Estação Meteorológica

Cercado meteorológico

instrumentos da Estação Meteorológica registram dados continuamente

Abrigo

reúne equipamentos que medem temperaturas mínima e máxima e umidade relativa

Pluviômetros

medem a acumulação de chuva em quatro horários, além da precipitação diária

Actinógrafo e heliógrafo

instalados no alto da torre da estação, registram a radiação solar média diária e o total de horas de brilho solar

Pioneira da meteorologia paulista

A Estação Meteorológica foi a precursora dos serviços regulares do Instituto Astronômico e Geofísico no Parque do Estado, no local onde se realizavam as obras do novo Observatório Astronômico de São Paulo, e onde permanece até hoje. Ela tinha como finalidade substituir a Estação Meteorológica Central da rede de estações do Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo, na época instalada no antigo Observatório de São Paulo, situado na Avenida Paulista. Em 1941, com a encampação dos Serviços Meteorológicos Estaduais pelo governo federal, a Estação Meteorológica do IAG deixou de fazer parte da rede, permanecendo como estação isolada, mais direcionada para a pesquisa.

Inauguração da Estação Meteorológica do IAG em 22 de novembro de 1932 no Parque do Estado - Foto: Diário Nacional de São Paulo

 

Com o movimento crescente da cidade, o tráfego dos bondes na Avenida Paulista começou a afetar alguns instrumentos devido à trepidação, e isto fez com que fosse necessário escolher um novo local para sediar o Observatório. Foi sugerida então a mudança do Observatório de São Paulo para uma região mais adequada e, assim, a escolha recaiu na área do então denominado Parque do Estado, atual Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, localizado no bairro da Água Funda. Em 24 de fevereiro de 1932, foi iniciada a construção do Instituto Astronômico e Geofísico e sua inauguração ocorre em 25 de abril de 1941, ano em que se separa da rede de Serviços Meteorológicos Estaduais e passa a fazer parte da OMM. Em 30 de dezembro de 1946, o IAG foi incorporado à Escola Politécnica da USP como instituto anexo.

Ainda sem os prédios construídos e mesmo com as dificuldades naturais da época, a partir de 1º de janeiro de 1933 iniciaram-se oficialmente as atividades da Estação Meteorológica, com a realização de Observações Meteorológicas de Superfície até o presente momento, sem qualquer interrupção. Para preservar a história da Estação Meteorológica do IAG, foi fundado oficialmente, em 22 de novembro de 2012, o Museu de Meteorologia, comemorando na ocasião 80 anos da instituição. O Museu de Meteorologia funciona no prédio 9 do Parque de Ciência e Tecnologia e faz parte do roteiro de visitações.

Visitantes no Museu de Meteorologia e acervo - Foto: Divulgação/IAG USP

Para mais informações sobre os dados, análises e/ou consultas, consulte a página http://www.estacao.iag.usp.br ou envie um e-mail para estacao@model.iag.usp.br


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.