Procurar e divulgar amplamente os bons exemplos de mulheres que se destacam na carreira de engenharia é uma das ações práticas que podem ajudar a despertar o interesse pela área e ampliar a presença feminina nesse campo do conhecimento. Essa foi uma das sugestões apresentadas pelas participantes da mesa-redonda Mulheres na Engenharia, realizada na Escola Politécnica (Poli) da USP, em São Paulo, no dia 19 de setembro.
O evento teve a intermediação da vice-diretora da Poli, Liedi Legi Bariani Bernucci, primeira mulher a ocupar um cargo na diretoria da escola. Como debatedoras, participaram as professoras Cintia Borges Margi e Roseli de Deus Lopes, além da engenheira formada na Poli, Renata Bartoli de Noronha.
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Renata conta que não foi vítima de preconceito na Poli e que nunca se sentiu discriminada. “Sempre tive demanda muito grande por performance, vivi em um ambiente de competição e cooperação muito forte”, relata.
Já Roseli Lopes ponderou que viveu algumas situações no passado que lhe pareceram normais na época, mas hoje, ao revê-las, fica em dúvida se foi vítima de machismo. “Estávamos muito no piloto automático no passado, inclusive com relação a outros problemas além de gênero, como bullying. Hoje, as pessoas não aceitam muitas coisas que antes toleravam”, afirmou.
Cintia Margi também não se recorda de ter sofrido preconceito de forma explícita, mas se lembrou de algumas brincadeiras discriminatórias. “De modo geral, eu ouvia, não gostava, mas não criava antagonismo com os colegas”, contou.
Casos de falas discriminatórias de professores e alunos foram citados pelo público. Liedi Bernucci lembrou que a Poli tem um canal para que esses casos sejam reportados: a Ouvidoria. “Temos acolhido as reclamações, e os nomes são preservados”, destacou.
Durante o evento, as participantes discutiram também se a mulher precisa se esforçar mais do que o homem para não duvidarem de sua capacidade e para ter mais oportunidades na carreira.
Para Renata Noronha, performance é uma obrigação quando se trabalha em um ambiente norteado pela meritocracia e o espaço é conquistado quando há resultados consistentes. Ela considera, porém, que é difícil ter um desempenho igual ao de um homem sem as mesmas responsabilidades, já que quando constituem família, as mulheres acabam acumulando muitas tarefas. Em sua opinião, o homem também precisa assumir as responsabilidades familiares e, por outro lado, as mulheres precisam saber dar a chance para que isso aconteça.
Cintia Margi lembrou que, apesar de as metas serem iguais e explícitas na carreira acadêmica, a cobrança é desigual. Ela citou um estudo no qual foi constatado que no processo de revisão de artigo científico duplo cego – revisor e autor não sabem quem são – o resultado é diverso quando se sabe previamente que a autoria do artigo é de uma mulher.
O elemento cultural, na avaliação das participantes, ainda é um empecilho para ter mais mulheres interessadas em engenharia, por não serem incentivadas a gostar de matemática e de outras disciplinas da área das exatas.
Roseli Lopes contou que houve um aumento da presença de projetos submetidos por mulheres na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) depois de uma campanha que destacou a presença feminina no evento. “Precisamos elaborar mais campanhas junto às escolas de ensino fundamental e médio para mudar essa realidade. As próprias alunas da Poli podem voltar a suas escolas e fazer isso”, sugeriu.
Ela também defendeu que a engenharia seja divulgada junto às escolas como uma atividade que tem profissionais dedicados a resolver problemas da sociedade, e não como uma área técnica e difícil.
O evento integrou a programação da 4ª Semana de Engenharia Elétrica e de Computação (IV SEnEC), promovida pelo Centro de Engenharia Elétrica e de Computação da Poli.
Adaptado da Assessoria de Comunicação da Escola Politécnica
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