A engenharia tem sido utilizada em conjunto com diferentes disciplinas para criar soluções durante a pandemia. Os projetos são pensados para diversas áreas, como medicina, comunicação e informática. A Escola Politécnica da USP tem trabalhado no desenvolvimento de um projeto de respirador mais barato, que poderá ser usado em Unidades de Terapia Intensiva, e num estudo feito com modelos matemáticos para avaliar a difusão de vírus, tanto os reais, causadores de doenças em humanos, quanto os virtuais, como aqueles que infestam os sistemas computacionais.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Mauro Zilbovicius, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, conta que professores e alunos estão trabalhando em conjunto com a Faculdade de Medicina da USP para desenvolver um modelo de respirador mais barato, que possa ser usado nas UTIs. O aparelho é complexo e necessita do conhecimento de diversas áreas para garantir a efetividade. O respirador ou ventilador mecânico é responsável por realizar as trocas gasosas no pulmão, ou seja, respira pelo paciente, que fica entubado e inconsciente: “Ele [o respirador] vai insuflar ar de maneira forçada no pulmão do paciente que está com problemas de fazer isso naturalmente. O aparelho é uma questão bastante complexa, porque precisa ter uma pressão suficiente para produzir a troca gasosa, mas tem um limite de pressão, porque pode danificar o pulmão, e cada pulmão é diferente, então é preciso ter um sensor que perceba se o processo está acontecendo nos parâmetros corretos”, explica.
O professor Zilbovicius compartilha que, mais uma vez em parceria interdisciplinar, engenheiros da Poli trabalham em modelos matemáticos para analisar a difusão de vírus, tanto agentes etiológicos, como o novo coronavírus, quanto os vírus computacionais, que não são organismos vivos. Ele comenta que os pesquisadores também estão analisando, e tratando como vírus, a dispersão das fake news, que têm caráter destruidor na comunicação da sociedade: “Funcionam como um vírus destrutivo da comunicação, da percepção do mundo, que se espalha nas redes sociais”.
Zilbovicius frisa que, para realizar trabalhos grandiosos e importantes como estes, é preciso ter cooperação de várias áreas do conhecimento. “Os problemas são cada vez mais complexos e interdisciplinares e é isso que a gente precisa mostrar e fazer os nossos alunos de engenharia perceberem.” O engenheiro, junto aos demais profissionais, deve, portanto, trocar informações para reconhecer a complexidade dos problemas e criar as soluções adequadas. Para o professor, se o problema for simplificado, o resultado pode ser mais complexo do que a questão inicial.
A pandemia tem dado dimensão a diversas problemáticas, dentre elas, a mobilidade urbana, em pauta desde o começo do isolamento social. O professor acredita que a criação de soluções de mobilidade deva abranger diversas áreas do conhecimento, por ser um tema complexo e que afeta todas as camadas sociais. A questão do transporte público tem sido desafiadora na pandemia, porque promove aglomeração, fator de propagação do novo coronavírus: “Tem sido um dos maiores problemas da pandemia e as pessoas precisam se mover”.
Ele ainda comenta que um dos problemas da pandemia não foi o aumento do custo do transporte coletivo, mas, sim, a decisão da Prefeitura de São Paulo de diminuir a frota de ônibus em meio a uma das maiores pandemias enfrentadas pelo Brasil, para compensar a perda de receita causada pela redução de passageiros: “Houve uma decisão da Prefeitura de São Paulo de diminuir o serviço, diminuir ônibus, diminuir viagem de transporte coletivo para custar menos. De fato custou menos, mas isso fez com que a aglomeração piorasse ao invés de melhorar”, finaliza o professor Zilbovicius.
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