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Encontro pela internet é uma festa para idosos de projeto da USP
Com necessidade de isolamento social, iniciativa que faz parte do programa USP 60+ orientou participantes no uso de tecnologias para poder continuar encontros e conversas mesmo a distância
08/05/2020
Por David Ferrari
Em tempos de pandemia, as pessoas têm buscado novas formas de estudar, de interagir e de se reunir. É nesse contexto que o Projeto Estação Memória, ligado ao Departamento de Informação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, está fazendo a inclusão digital de idosos que participam da iniciativa, para poder continuar os encontros semanais em que compartilham memórias e experiências, além de dialogar com jovens estudantes de instituições parceiras do projeto. O propósito desses encontros, segundo a professora e coordenadora do projeto, Ivete Pieruccini, é estimulá-los a lembrarem sobre o passado. “Muitos idosos dizem não ter memórias. Isso acontece porque muitos deles não têm para quem contar. Quando possibilitamos a construção de uma comunidade de interlocutores, de fala e de escuta, o lembrar e o contar passam a fazer sentido”, diz.
O Estação Memória, que é vinculado ao USP 60+ (programas da Universidade voltados à terceira idade), reunia semanalmente dezenas de idosos acima de 65 anos em atividades presenciais no campus da Universidade. Com a necessidade de isolamento social, os encontros tornaram-se inviáveis, principalmente pelos participantes se enquadrarem no grupo de risco, por conta da faixa etária. Mas, da mesma forma que muitas atividades da graduação, pós-graduação e extensão decidiram continuar suas operações a distância, o projeto precisou se adaptar e promover os encontros de forma on-line. Para muitos participantes, essa é a primeira experiência com as ferramentas tecnológicas.
Impacto na vida dos idosos
Mesmo que muitos idosos do Estação Memória não estivessem familiarizados com a tecnologia, a professora Ivete decidiu implementar os encontros virtuais. A plataforma escolhida foi o Google Meet – até então, ninguém tinha afinidade com o programa, uma parte do grupo costumava apenas utilizar aplicativos de mensagens como o Whatsapp. Para viabilizar essa nova forma de interação, quatro bolsistas do Programa Unificado de Bolsas (PUB), além de uma voluntária, dividiram-se em grupos para dar orientação aos idosos. Através de mensagens, os auxiliares elaboraram um pequeno passo a passo sobre como usar a plataforma de videochamada. Durante os encontros, os bolsistas ficam atentos para ajudá-los em eventuais dificuldades com o software. Assim, ninguém fica excluído por conta da tecnologia.
“Eu não saberia utilizar essas plataformas de videoconferência caso eu não estivesse no projeto”, relata Mariana Batich, de 80 anos, integrante do grupo. Assim como Mariana, muitos outros participantes não teriam a chance de aprender a manusear essa ferramenta caso não existisse o auxílio realizado pelo projeto. Outro ponto observado foi a maior assiduidade dos participantes. “Alguns, que tinham dificuldade por conta da locomoção ou estado de saúde debilitado, estão participando cem por cento, pois não estão tendo esse impedimento. Esses encontros virtuais têm sido muito positivos”, afirma a coordenadora.
“Nunca tive experiência em videochamadas e estou achando ótimo. É uma forma de nos encontrarmos e conversarmos”, destaca Elizabete Frias, de 68 anos. Para ela, além desse novo formato ter ajudado a manter o Estação Memória vivo, também tem ajudado a todos os integrantes, principalmente em tempos de distanciamento social.
Elzira Arantes, de 77 anos, vive sozinha em São Paulo e, por conta desse momento, participar dos encontros virtuais do projeto significa socializar. “Cumpro com rigor as regras de confinamento e não saio do apartamento. Meus únicos contatos com o ‘mundo externo’ são pela tela – do computador ou celular. Então, o encontro com os amigos do Estação é um sopro de vigor na semana”, diz.
Participante do projeto há dois anos, Mariana relata que a experiência tem sido muito importante durante a quarentena. “As videoconferências me alegram muito, pois, como sou do grupo de risco, não tenho contato com muitas pessoas. O contato virtual é uma festa. Fico muito feliz por ver os meus colegas, por conversar, trocar ideias.”
Elisabeth Frias (acima com a neta), Mariana Batich (à esquerda) e Elzira Arantes (à direita), participantes do projeto Estação Memória - Foto: cedida pelas entrevistadas
Sobre o Projeto Estação Memória
O Estação Memória surgiu há 31 anos, como projeto de pesquisa do professor Edmir Perrotti. Vinculado ao Departamento de Informação e Cultura da ECA-USP, o programa estimula as memórias dos idosos por meio de reuniões e conversas semanais. O objetivo do grupo de extensão também é estabelecer um diálogo intergeracional, dos idosos com jovens e adolescentes.
Cada encontro possui um tema que será conversado entre os idosos, que pode variar de sentimentos vividos a eventos históricos, como a ditadura militar no Brasil. Através da abordagem sociocultural, cada participante conta suas experiências. Com o auxílio dos bolsistas, os encontros são gravados e, após as reuniões, eles fazem recortes com os diálogos para a elaboração de um conteúdo, chamado de Álbum, que é compartilhado com as escolas e instituições culturais parceiras que possuem jovens estudantes.
O Álbum permite uma primeira relação entre as duas gerações. Nas escolas, por exemplo, os relatos são lidos pelos estudantes para se familiarizarem com os idosos. Depois, com uma periodicidade que costuma ser de até três meses, há as oficinas intergeracionais, onde os mais novos podem imergir nas experiências dos mais velhos, assim como o inverso pode acontecer. O objetivo sempre é a troca de experiências socioculturais entre grupos etários distintos.
Para saber mais sobre o projeto e os relatos dos encontros acesse: https://estacaomemoria.wixsite.com/home
Para conhecer o USP 60+ acesse: https://prceu.usp.br/programa/usp-aberta-a-terceira-idade/d