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Do metabolismo humano ao coronavírus, entenda como a química está em tudo
Projeto da USP disponibiliza palestras para explicar de maneira simples a presença da química em detalhes do cotidiano
04/09/2020
Funcionamento de baterias de lítio, como vencer a guerra do coronavírus, a revolução genômica e o metabolismo. O que esses temas têm em comum? A química. É o que mostra um projeto do Instituto de Química (IQ) da USP, em São Paulo. No Química é Vida, pesquisadores procuram explicar como a química está presente no cotidiano, a partir de uma linguagem simples, desvinculada de expressões acadêmicas e técnicas da área.
Antes da pandemia, as palestras ocorriam na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, aos sábados, uma vez por mês. Agora, os conteúdos são gravados pelos pesquisadores e disponibilizados no canal do YouTube do IQ.
O projeto começou em 2017, inspirado na série Física para Todos, organizada pelo Instituto de Física (IF) da USP, em São Paulo. A ideia é sair do mundo universitário e divulgar a ciência para o público em geral, contando, inclusive, com a participação de escolas. As palestras trazem a universidade como um canal informativo para a sociedade e mostram, de forma didática, as pesquisas feitas no IQ. No atual momento de negacionismo científico, a série educativa não poderia ter maior importância.
Guilherme Menegon Arantes, professor do IQ e responsável pelo projeto, explica que a intenção é despertar o interesse das pessoas para a área científica.: “As pessoas costumam falar sobre química com uma conotação negativa, quando dizem ‘essa química no seu cabelo’ ou ‘essa comida tem muita química’, como se fossem coisas ruins. Mas tudo é química. O cabelo saudável e o alimento natural também têm química, então tentamos desmistificar essa questão.”
A série é coordenada por Menegon e organizada pelas estagiárias Jessica Pereira Santos Silva e Tauane Pereira Ybarra, estudantes de Química. Segundo o professor do IQ, quando ocorriam palestras presenciais as pessoas perguntavam se as apresentações seriam gravadas e disponibilizadas on-line, e agora isso foi possível.
Guilherme Menegon Arantes, professor do IQ e responsável pelo projeto Química é Vida - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Tudo que vemos, pegamos, comemos, respiramos é composto por produtos químicos. Qualquer coisa que seja feita de matéria contém. Sem dúvida, a química está presente em tudo!
Alicia Kowaltowski, professora do Instituto de Química (IQ) da USP, em São Paulo
Química é Vida em formato de vídeo
A professora do IQ Alicia Kowaltowski estuda metabolismo energético há quase 30 anos, e o considera um assunto cientificamente fascinante. Mas acredita que, muitas vezes, associa-se o funcionamento do metabolismo à tendência de engordar. “As pessoas se interessam por metabolismo por ter relação com comida, nossos corpos, e saúde, portanto é interessante explicar de modo acessível à população que ele é muito mais que isso.”
Por isso, a Alicia organizou uma palestra para explicar mais sobre o metabolismo. Ele vai muito além da nossa relação com a comida, é o que nos mantém vivos. Precisamos constantemente modificar nossas moléculas para obter energia e construir novas moléculas que compõem nossos corpos, e todas essas transformações envolvem esse processo.
“Só pra ter uma ideia de ordem de grandeza: um ser humano médio come cerca de meia tonelada de comida por ano. Ninguém engorda meia tonelada, o restante é todo usado por nós como fonte de energia e geração de novas moléculas”, a professora explica.
A pandemia causada pela covid-19 mudou a vida de muitas pessoas. No caso do professor Nicolas Hoch, ela também afetou a sua área de pesquisa no IQ. Ele pesquisava reparo de DNA e formação de genoma, agora seu laboratório está voltado a entender como um tipo de antiviral poderia desempenhar a função de inibir a proteína do coronavírus.
Alicia Kowaltowski é médica formada pela Unicamp, com doutorado em ciências médicas. É pesquisadora da área de Metabolismo Energético e professora titular do Departamento de Bioquímica do IQ, além de colunista do Nexo. — Foto: Arquivo pessoal/ Alicia Kowaltowski
Para que as pessoas pudessem entender um pouco mais sobre o covid-19, o professor organizou uma palestra para falar de conceitos gerais da virologia e como o coronavírus infecta as nossas células, explicando também como o sistema imunológico se defende do vírus, e como seria possível realizar o tratamento viral.
Como explicar química a um público leigo?
Os pesquisadores que participam do Química a Vida estão acostumados a escrever sobre seus estudos científicos em revistas especializadas, nas quais a linguagem técnica é obrigatória. Mesmo em eventos científicos, os termos especializados estão em destaque. E como fica na hora de explicar para as pessoas essas informações?
A admiração de Kowaltowski pela ciência ajuda a torná-la acessível “A ciência é naturalmente fascinante. O que é preciso é evitar deixá-la complicada demais ao explicar para não especialistas, e não perder a atenção. O assunto em si não poderia ser naturalmente mais interessante.”
No início, Hoch teve dificuldade de formular um conteúdo sobre conceitos científicos e acadêmicos para o público leigo, mas encontrou uma solução caseira e prática. “Antes de gravar a palestra, expliquei os conceitos para a minha esposa e pessoas que não são cientistas, eles me ajudaram a achar o ponto certo.”
Nicolas Hoch é formado em Farmácia e Bioquímica pela UFRGS, com pós-doutorado em biologia celular e molecular. Pesquisa mecanismos celulares de reparo de DNA e mutação na genética humana e é professor do Departamento de Bioquímica do IQ. — Foto: Arquivo pessoal/ Nicolas Hoch
O resultado tem sido positivo, com pessoas escrevendo que gostaram de entender melhor sobre o coronavírus. “Acho que foi um momento interessante pra sair uma palestra sobre esse assunto. Virologia não é a minha especialidade, então talvez por isso eu não entrei tanto nos detalhes, e consegui sintetizar de uma forma que o público entendeu melhor”, o pesquisador comenta.
Sem dúvida a química está presente em tudo, a química é a base de toda a matéria, orgânica ou inorgânica. Minha palestra é até um exemplo interessante. Nós estamos desenvolvendo um fármaco, um antiviral que possa servir como tratamento para o coronavírus. E esse produto é um composto químico
Nicolas Hoch, professor do Instituto de Química (IQ) da USP, em São Paulo
On-line ou presencial: qual modelo funciona melhor?
A transição para o formato on-line pode ser uma dificuldade para os palestrantes. Kowaltowski destaca que prefere o modelo presencial, embora o on-line tenha um alcance maior. “É bem mais legal falar para pessoas e ver nas suas expressões se estão acompanhando ou não, podendo explicar melhor um ponto ou outro se necessário. Mas para o momento, palestra online é o que temos.”
Hoch se interessou mais pelo formato on-line das palestras: “acho que teve um alcance maior, porque fica disponível no computador a qualquer momento.
A pessoa não precisa ir fisicamente até a biblioteca, pode acessar em outros momentos, pode divulgar pelas redes sociais e tal. E se você, palestrante, fizer um errinho em algum ponto, você da uma corrigidinha”.
Mas concordou nos aspectos negativos: “falta a interação com as pessoas, ver a reação quando nós falamos, se o conteúdo está sendo absorvido, se você precisa alterar o modo como está falando. As perguntas no final também são geralmente muito interessantes. Mas o aumento do alcance que a palestra on-line permite faz valer a pena.”
Confira os vídeos disponíveis no canal Química é Vida
Gostou do projeto? Para mais informações, acesse:
YouTube: www.youtube.com/channel/UCzcxY7Pxah0oynhjxFvA5Tg
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