Ipês-amarelos circundam o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, em São Carlos – Foto: Museu da Fauna e da Flora do ICMC
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São tantas as espécies de plantas e animais presentes no campus 1 da USP em São Carlos que o espaço foi transformado em um museu que não cobra ingresso e nunca fecha. Por iniciativa do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), que é uma das cinco unidades que integram o espaço localizado no centro da cidade, a flora e a fauna do espaço começaram a ser fotografadas, catalogadas e até mesmo gravadas – que é o caso dos sons dos pássaros que passam por lá.
Iniciado em 2013, o projeto Museu da Fauna e da Flora do ICMC já registrou mais de 50 espécies arbóreas no campus 1, totalizando cerca de 400 plantas, entre elas algumas nativas, como o famoso pau-brasil, e mesmo espécies exóticas, como as palmeiras. Muitas receberam uma placa de identificação, informando características como seu nome e origem, mas novidades vêm aí.
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“Queremos implantar um dispositivo nas árvores chamado beacon, a partir do qual será possível criar um caminho virtual. Por meio de um aplicativo, os visitantes poderão aproximar o celular das espécies e obter informações em áudio e vídeo sobre elas”, adianta a professora Kalinka Castelo Branco do Departamento de Sistemas de Computação do ICMC.
E além das plantas, pássaros diversos e outros animais, como lagartos e gambás, também dividem o espaço com a comunidade universitária. As árvores já foram visitadas por uma arara e até mesmo por um macaco-prego, animal ameaçado de extinção.
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Ecomuseu virtual
Todas as informações coletadas até o momento pelo museu estarão disponíveis em uma plataforma na internet, em fase de reformulação. Kalinka explica que a base do sistema foi construída a partir do Memória Virtual, um sistema web desenvolvido pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa em Software Livre (NAPSol) da USP para catalogar e difundir informações sobre acervos históricos, incluindo bens naturais como bichos e plantas.
Esse sistema está sendo aperfeiçoado em parceria com o Mestrado Profissional em Rede Nacional para Ensino das Ciências Ambientais (PROFCIAMB), sediado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. “Estamos criando um processo para a geração de museus virtuais, com diferentes interfaces para o usuário, dependendo do seu interesse”, comenta a pesquisadora.
O projeto do Museu da Fauna e da Flora do ICMC envolve ainda visitas monitoradas, palestras, cursos e exposições, incentivando a comunidade a preservar as áreas verdes do campus 1.
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Cuidado compartilhado
Atento ao seu entorno e à importância de evitar danos e acidentes, São Carlos foi o primeiro campus da USP a formar uma brigada de arboristas. “Ela foi criada nos moldes das brigadas de incêndio. É uma forma de distribuir a tarefa de cuidar das nossas árvores e ajudar na manutenção e segurança da comunidade”, explica Paulo Ernesto Celestini, analista do Gabinete de Planejamento e Gestão do ICMC.
O projeto piloto envolveu o treinamento de alunos, professores e funcionários, que aprenderam, entre outras atividades, a identificar áreas de risco no campus e a apontar árvores que precisam de inspeção.
“As árvores já existiam no campus 1 antes mesmo de a USP chegar, então elas vão envelhecendo, algumas ficam doentes. Isso acontece em outros campi também, por isso nossa ideia é que a iniciativa seja estendida a outras localidades”, complementa Celestini.
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Campus 2 da USP em São Carlos tem 35,7 hectares de área de reserva ecológica – Foto: Edmilson Luchesi
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Mais verde: o campus 2
Mas toda essa riqueza diz respeito apenas à chamada “área 1” do campus, no centro da cidade. Em São Carlos, a USP tem ainda um outro espaço, com mais de 100 hectares, conhecido como campus 2 e que concentra suas áreas de reserva legal e de preservação permanente.
Segundo dados da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, a reserva ecológica de São Carlos corresponde a quase 23% da área total dos dois campi, totalizando 35,7 hectares (ou aproximadamente 357 mil metros quadrados), todos situados no campus 2. Ali, pouco mais de 214 mil metros quadrados são de reserva legal, enquanto os outros 143 mil são áreas de preservação permanente.
O local está localizado na bacia hidrográfica do Córrego Mineirinho, em um terreno doado por empresas à Universidade.
O campus tem vegetação exótica, representada por pinus, capim braquiária e remanescentes de plantações de cana-de-açúcar, e ainda áreas de vegetação nativa, formadas por florestas ribeirinhas ou de galeria, campos úmidos, matas de brejo e cerrado. Há inúmeras espécies de árvores pioneiras (como algodoeiro, grão-de-galo, pimenteira-rosa, timburi, entre outras) e não pioneiras (araucária, cedro-rosa, chupa-fero, diversos ipês, mogno e pau-brasil são apenas algumas).
Animais são diversos também. Cachorros-do-mato, raposas, tamanduás-bandeira, veados, vários tipos de cobra (incluindo cascavel e jiboia) e grande variedade de pássaros já foram vistos no local.
Trabalhos de recuperação florestal da área 2 com o plantio de mudas nativas vem sendo feitos desde 2010, segundo a arquiteta Sônia Costardi, da Divisão de Manutenção e Operação da Prefeitura do Campus USP de São Carlos. Essas atividades contaram com variada colaboração de alunos dos mais diversos cursos da Universidade e perduram até hoje. As áreas do campus 2 que foram alvo destas ações já receberam mais de 3500 mudas, o que visa compensar também a perda de 306 árvores suprimidas do campus 1 de agosto de 2010 a janeiro de 2017.
Atualmente, o projeto de uma trilha margeando parte da reserva legal está em discussão e planejamento.
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