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Aos quinze anos, USP Leste quer ser referência em pesquisa interdisciplinar
Investindo em pós-graduação, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP amplia projeto original e intensifica relação com a comunidade da zona leste
03/03/2020
Thais Helena dos Santos
Com o propósito de atender às demandas sociais de seu entorno, desenvolver projetos para a solução dos problemas locais e oferecer cursos que fogem às carreiras tradicionais, a presença da USP na zona leste da cidade de São Paulo completa este ano uma trajetória de 15 anos. Nesse período, colocou à prova a gestão de um projeto inovador, enfrentou desafios que não estavam previstos e agora conta com números de três gerações de graduados, totalizando mais de 6 mil pessoas formadas em 11 cursos disponíveis.
“Podemos dizer com confiança que os cursos de graduação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, dez bacharelados e uma licenciatura, encontram-se consolidados. Temos mostrado capacidade de avançar e aperfeiçoar nossos cursos, como demonstrou a criação recente do Bacharelado em Biotecnologia”, destaca a professora Mônica Sanches Yassuda, atual diretora. Ela também ressalta a criação de onze programas de pós-graduação, cinco deles na área interdisciplinar, com áreas de concentração e linhas de pesquisa até então inexistentes no Brasil. “A pesquisa realizada na EACH tem se fortalecido. Temos parcerias consolidadas com outras unidades da USP e universidades nacionais e internacionais”, completa. Como resultado, já são 826 títulos de pós-graduação (mestrado e doutorado) concedidos desde 2010. E com o investimento em pós-graduação e o apoio da Fapesp e CNPq, a EACH também já apresenta números relevantes de produção em pesquisa (7.500 no repositório WeRE USP) e artigos em periódicos (3.776).
A interação com a região leste e com os bairros do entorno continua primordial nas atividades da unidade. “A criação da EACH tinha o objetivo de incluir um maior número de estudantes oriundos das escolas públicas da região e também aumentar a diversidade social e racial dos seus estudantes e os dados do vestibular de 2018 indicaram que esses objetivos foram atingidos”, confirma Mônica.
Nessa trajetória, a Universidade também consolidou atividades de extensão na região, como a Universidade Aberta à Terceira Idade, com mais de 500 alunos matriculados por ano, além de atividades esportivas e culturais oferecidas a estudantes e professores da rede pública de ensino, além da comunidade em geral, com mais 2.544 alunos matriculados. O Fórum do Keralux, que reúne docentes, servidores e representantes do poder público para apoiar o desenvolvimento do bairro é outro destaque na região, além do cursinho popular, em parceria com o Anglo Vestibulares, para aumentar a participação dos estudantes da zona leste no ensino superior público. A USP Leste também conta com a atuação da incubadora-escola Habits, criada em 2012, com funcionamento estreitamente ligado à comunidade da EACH e seu entorno. Ela foi a vencedora em 2018 da terceira edição do Programa de Incubação e Aceleração de Impacto, que seleciona projetos para receber financiamento, visando a fortalecer o ambiente de negócios de impacto social no Brasil.
Com relação à estrutura, o campus da USP Leste implementou uma série de medidas para o uso seguro da sua área e obteve a renovação da licença ambiental pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) até 2025, quando haverá outra renovação. A área chegou a ser interditada em 2014 por elementos contaminantes encontrados no solo e os alunos tiveram aulas em outros campi da Universidade. As medidas de segurança tomadas foram descritas no livro “Panorama das ações ambientais na USP Leste“, disponível para leitura no portal de livros abertos da USP.
Inovadora, Transformadora, Plural e Interdisciplinar
Para comemorar os 15 anos de existência, a EACH fez um vídeo comemorativo ressaltando seu projeto interdisciplinar
Educação transformadora
Em abril de 2019, duas alunas do curso de Obstetrícia da EACH foram laureadas na Universidade de Parma e receberam um duplo diploma que as habilita a exercerem a profissão no Brasil e na Itália. Amanda Longatti foi uma dessas alunas que estudou durante um ano na universidade italiana por um convênio com a USP Leste. “A EACH é uma experiência única, um lugar de tanto aprendizado e crescimento. Acho que é o campus da USP com maior pluralidade”, observa Amanda. Para ela, o curso de Obstetrícia foi transformador: “Ele nos transforma em seres pensantes, críticos, políticos, e hoje sou feliz em dizer que me tornei muito paciente e compreensiva. Além disso, o curso me abriu fronteiras capazes de realizar muitos sonhos, como o projeto de cultura e extensão, onde pude realizar projetos e pesquisas, e também o programa de duplo diploma.”
Amanda, ao centro, agachada (de cabelo curto), e uma das turmas de formandas do curso de Obstetrícia da EACH - Foto: Arquivo pessoal
Para o estudante Ergon Cugler de Moraes Silva, do terceiro ano do curso de Gestão de Políticas Públicas, a experiência na EACH também tem rendido experiências importantes para a futura carreira. Ele participa do Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas da EACH e teve duas publicações aprovadas em três grandes eventos internacionais, nos Estados Unidos e na Suíça.
“O curso de Gestão de Políticas Públicas tem me desafiado cotidianamente a elevar a qualidade do debate nas mais diversas áreas, mais ainda por entender a responsabilidade que um futuro gestor público deve ter. Sou o primeiro da minha família a estar na universidade pública e, graças à oportunidade que a EACH traz na produção científica, pude levar a pesquisa brasileira para outros países”, conta o estudante. “Muito mais do que nos posicionar no mercado de trabalho, na EACH aprendemos a respeitar a diversidade”, conclui.
Ergon Cugler, do terceiro ano do curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH - Foto: Arquivo pessoal
Nesse contexto transformador de vidas, a professora Mônica Sanches destaca alguns caminhos a serem percorridos, como a consolidação dos programas de pós-graduação, o aperfeiçoamento da estrutura física, a ampliação da internacionalização, o aumento na captação de recursos para pesquisas científicas e o apoio à permanência estudantil e diminuição da evasão. Para ela, o horizonte é sempre consolidar-se como uma unidade que privilegia práticas de ensino, pesquisa e extensão pautadas em uma perspectiva interdisciplinar, comprometida com a superação das desigualdades e a defesa da democracia.