Blog
Alunas da USP conquistam posição inédita em desafio de finanças de Harvard
Competindo com universitários de vários países, equipe brasileira ficou em segundo lugar; é a primeira vez que uma universidade da América Latina chega à final da Global Case Competition
13/05/2020
Por Karina Tarasiuk
Quatro alunas da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP colocaram o Brasil pela primeira vez na final da Global Case Competition at Harvard, competição da Harvard Business School que reúne anualmente alunos de graduação, mestrado e cursos de MBA de todo o mundo em torno de um case de negócios que envolva, por exemplo, aquisições e fusões de grande empresas. A competição teve a participação de mais de 160 equipes de universidades de todo o mundo, incluindo as mais conceituadas da área como a própria Universidade de Harvard, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a London Business School, entre outras.
A equipe feminina, intitulada Hydras, ficou em segundo lugar, atrás apenas dos estudantes da Universidade de Delhi, da Índia, na final disputada por videoconferencia, no dia 25 de abril. Além do fato inédito, as alunas conquistaram representatividade feminina e latino-americana em uma área predominantemente masculina e estadunidense-europeia.
Formado pela estudante de economia Isabella Fonseca e três estudantes de administração, Rafaele Aoyama, Elis Cotosky e Stephanie Luft, o grupo brasileiro já tinha experiência em estágios de diferentes áreas. “A Elis vem de consultoria, e por mais que eu, a Rafa e a Isa trabalhemos com mercado financeiro, cada uma vem mais ou menos de uma área. A Rafa veio de Private Equity, a Isa de Asset Management e eu de Investment Banking, com mais foco em M&A, então acho que isso deu uma formação bem completa para o grupo”, explica Stephanie.
A criação da equipe foi ideia da Rafaele, que sempre se interessou por competições de finanças. Depois de uma primeira experiência em dupla com Isabella e após um intercâmbio na China, ela passou a procurar na internet outras competições até chegar à Global Case de Harvard. “Ela trata especificamente da área em que eu trabalho e é diferente das competições das quais eu já tinha participado ou que conhecia, então tive muita vontade de participar”, diz. A partir daí, buscou outros integrantes para formar a equipe. “A ideia era fazer um grupo bem diverso e eu até chamei alunos da Poli, mas não deu certo, então fechamos o grupo em só nós quatro”, acrescenta Rafaele.
Apesar do engajamento inicial, o grupo não estava muito confiante. “Por ser uma competição com gente do mundo todo, é difícil saber e imaginar o nível dos outros estudantes. Mas eu acho que a gente usou isso como gás e para se esforçar o máximo possível para ir bem e responder certo”, explica Elis Cotosky.
Apresentação do trabalho na Global Case Competition at Harvard - Foto: Reprodução/FEA USP
A Amazon deveria comprar a Netflix?
A competição consiste em três semanas de elaboração de um projeto focado em Private Equity e Investment Banking, áreas do mercado financeiro. O tema é aberto e envolve a sugestão de uma aquisição de uma empresa por outra: neste ano o desafio era responder se a Amazon deveria comprar a Netflix. Para responder a essa pergunta, era preciso fazer uma análise da indústria, do setor e da viabilidade dessa aquisição, além de pensar na estratégia da companhia e calcular como seria a transação financeira. Ao fornecer uma resposta negativa, como foi o caso do grupo, seria preciso explicar por que era inviável e sugerir outra opção.
A equipe discordou da aquisição da Netflix pela Amazon, tanto por inviabilidade financeira (uma aquisição muito cara) quanto por diferenças de estratégia das duas empresas. Como a Amazon já é consolidada no serviço de streaming (com o serviço Amazon Prime Video), o mesmo seguimento da Netflix, elas não consideraram tão vantajoso investir mais nesse setor. A sugestão foi a Amazon adquirir uma empresa canadense de internet via satélite chamada Telesat, numa transação que faria mais sentido em razão da Amazon ser uma empresa com foco no cliente. “Como a Amazon tem uma grande operação on-line, seria muito vantajoso para ela fechar toda a cadeia de produção, distribuição e agregação de conteúdo”, conta Isabella.
As três semanas da competição foram, segundo Stephanie, muito intensas, pois as participantes continuavam com estágio, projetos pessoais e aulas. “Foi bem desafiador, a gente se apoiou, cada uma incentivou a outra a continuar, e quando encontramos o desafio tentamos pensar na caixinha de ferramentas que aprendemos no estágio e em todos os anos de faculdade. E isso foi realmente bem legal.”
Mulheres no mercado financeiro
As dez melhores equipes escolhidas pelos jurados, depois de uma primeira etapa com 160 grupos de vários países, apresentaram o projeto e passaram por uma sessão de perguntas e respostas. Os resultados foram divulgados numa live. “Eu sabia que a gente tinha muita capacidade. Fazer parte da final e ver o seu nome nos Top 10 foi incrível, além de fazer o Brasil ser reconhecido”, comenta Rafaele.
“Quando foi anunciado o segundo lugar, sendo o primeiro grupo da América Latina a conseguir uma posição no pódio, além de sermos um grupo de quatro mulheres, foi muito gratificante, tanto pelo fato de representar o nosso país, a universidade pública, e também por representar as mulheres”, completa Isabella. “O resultado foi surpreendente e significa que as mulheres podem chegar lá”, finaliza Stephanie.
Quem são as alunas que chegaram à final da
Global Case Competition at Harvard
Equipe da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP é a primeira da América Latina a chegar ao final da competição
Isabella Fonseca
- quinto ano de economia, 23 anos
- de Jundiaí-SP
- estagiária da APEX Capital
- Eu escolhi fazer Economia por afinidade com a grade curricular. É um curso muito pertinente e com uma temática atemporal, onde é preciso sempre se atualizar em relação ao país e à política. Além disso, é um curso muito amplo, aparecem muitas linhas de opção depois da formação. Você pode trabalhar tanto no setor público quanto no setor privado, optar por empresas tradicionais ou pelo mercado financeiro.”
Rafaele Aoyama
- quinto ano de administração, 23 anos
- de Mogi das Cruzes-SP
- analista da Oria Capital
- Diferente de muita gente, meus pais não são do mercado financeiro nem trabalham em empresas. Minha mãe é funcionária pública e meu pai tem um comércio. Tudo o que eu aprendi de mercado financeiro e administração foi realmente na FEA. Eu escolhi administração porque acho um curso muito prático, dá muita base, e eu consigo ver as coisas acontecendo de acordo com o que eu aprendi."
Elis Cotosky
- quarto ano de administração, 22 anos
- de Curitiba-PR
- estagiária da Bain & Company
- Escolhi esse curso pois sempre quis empreender e achei que administração fosse me dar a melhor base possível para isso.”
Stephanie Luft
- quinto ano de administração, 23 anos
- de São Paulo-SP
- foi estagiária da Lazard
- Eu considerei outros cursos, como moda e medicina, que são completamente diferentes. Mas minha mãe e meu pai são dessa área da administração. E minha mãe é uma executiva, então desde pequena ela é um exemplo para mim de mulher poderosa. Eu imaginava desde a infância fazer o que a minha mãe faz.”