Relatório da OCDE mostra que brasileiros são os piores em identificar notícias falsas

Fábio Cozman comenta o estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico que investigou a acurácia das pessoas na identificação de fake news e como isso se relaciona com IA e mídias sociais

 19/07/2024 - Publicado há 4 meses

Texto: Redação

Arte: Simone Gomes

Fotomontagem: Jornal da USP com Imagens: Freepik e Flaticon

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A pesquisa Truth Quest da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizada com 21 países, investigou a recepção de notícias falsas e verdadeiras. O estudo avalia se alguns tipos de conteúdo são mais facilmente distinguíveis como falsos e enganosos do que outros e se o tema desempenha algum papel na sua detecção. O estudo classificou o conteúdo em cinco tipos: desinformação, informação errônea, decepção contextual, propaganda e sátira, divididos em três temas principais: meio ambiente, saúde e assuntos internacionais. Fabio Cozman, do Departamento de Engenharia Mecatrônica da Escola Politécnica e Diretor do Centro de Inteligência Artifical da USP, considera o estudo muito importante e avalia que os resultados chamam a atenção: “Tem uma quantidade muito grande de pessoas que estão confiando [nas notícias on-line], mas que não estão conseguindo detectar se está correto ou não”.

O estudo

Cozman diz que a OCDE tem uma tradição de produzir estudos muito sérios e apurados. “É uma organização que preza pela criação de dados muito confiáveis”, diz ele. Ao invés de simplesmente perguntar para os entrevistados se eles confiavam ou não em notícias on-line, a apuração fazia testes, buscando determinar com maior credibilidade a real percepção das pessoas quanto a notícias falsas. “Eles usaram uma técnica de gamificação, em que se faz um joguinho para extrair as opiniões das pessoas”, explica o especialista. “Você mostra uma notícia como se fosse um joguinho, ‘você consegue dizer se é falso e verdadeiro?’, e com isso eles conseguiram dados bastante mais confiáveis do que existia anteriormente”, complementa. Para a pesquisa, foram entrevistadas 2 mil pessoas de cada país.

O estudo também indicou que o tema das notícias não é muito relevante para determinar a acurácia das pessoas: “Se você tem uma notícia de meio ambiente, saúde, política internacional, não faz diferença”, diz ele. Se as notícias são produzidas com inteligência artificial, a tendência é que o público tenha uma ligeira maior facilidade (8% a mais) de identificar corretamente. No entanto, o diretor ressalta que esses dados são preliminares, pois a IA ainda está em desenvolvimento acelerado e muito pode mudar.

Conclusões alarmantes

O resultado foi alarmante: as pessoas conseguem decidir corretamente em mais ou menos 60% do tempo. De cada 100 notícias falsas e verdadeiras, a média é que as pessoas consigam acertar a veracidade da notícia em 60 casos. Pode parecer muito, por ser mais do que a metade das vezes, mas Cozman faz uma ressalva: “Se assumirmos que dois terços das notícias que recebemos é falsa – o que, nos tempos atuais, é uma taxa plausível –, as pessoas acreditarão em 40% delas. Na prática, quase um terço das informações que as pessoas, nesse caso, acreditam seriam falsas”.

Cozman comenta que no nosso País o cenário é ainda pior: “O Brasil é um país em que as pessoas têm uma má percepção do quanto elas conseguem decidir e o quanto que elas conseguem acertar se a [determinada] notícia é falsa ou não”, resume o especialista. O país que teve o melhor desempenho foi a Finlândia.

Fabio Gagliardi Cozman - Foto: CeMEAI/USP
Fabio Gagliardi Cozman - Foto: CeMEAI/USP

Mídias sociais

Um outro dado importante retirado do estudo é a relação com as redes. “No mundo inteiro, o número de pessoas que frequentemente ou às vezes obtém a informação [pelas mídias] é muito grande”, diz Cozman. A média mundial da quantidade de informações obtidas por meio das mídias é de 50%. O Brasil tem a maior taxa, seguido por Colômbia e México, que também se mantêm acima da metade; já os japoneses, por exemplo, consomem apenas 25% das informações por meio das redes sociais.

E não só os brasileiros são os que mais consomem, mas também os que mais confiam nas informações das mídias sociais. “Eles comentam no relatório que 9% das pessoas confiam muito nas mídias sociais no mundo, essa é a média, mas no Brasil mais de 20%  confiam muito.” O estudo também aponta uma relação entre acreditar nas mídias sociais e não saber discernir notícias falsas de verdadeiras. Na média, aqueles que mais acreditavam nelas tiveram os piores desempenhos em identificar as fake news, acertando 54% das vezes. Quando as pessoas acreditam parcialmente nas mídias, a acurácia sobe para 59%, e sobe ainda mais (para 62%) quando elas acreditam pouco ou nada.


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