Queimadas destroem biomas comprometendo fauna, flora e a saúde humana

Paulo Saldiva diz que o ozônio causa um aumento de cerca de 1% a 1,5% da mortalidade, se contarmos o dia da queimada e os dois dias subsequentes

 05/08/2024 - Publicado há 7 meses

O professor Paulo Saldiva comenta na coluna de hoje a relação entre saúde humana e meio ambiente.

Todos nós sabemos que as queimadas no mundo vêm aumentando e o Brasil não é exceção; pelo contrário, o Brasil tem uma longa tradição de queimadas, algumas naturais e outras, digamos, através de queimadas ilegais, o que é um problema ecológico que destrói os biomas, compromete fauna e flora e também prejudica a nossa saúde. Nesse sentido, eu gostaria de ressaltar um projeto, um artigo que foi recentemente publicado na revista Lancet Planetary Health, que conta com a participação de uma rede de pesquisadores do mundo da qual a USP faz parte, e que estudou e coletou dados de mortalidade durante 16 anos, de 2000 a 2016, em 749 cidades de 41 países dos diferentes continentes. Nesse estudo também tinham os dados de concentração de ozônio, estimados por satélite. Não do ozônio total, mas aquele produzido pela queimada das florestas. E o resultado mostrou que isso não faz bem também para a saúde humana.

O ozônio não é um poluente diretamente emitido pela queimada, mas ele se forma na atmosfera pela ação da luz ultravioleta e pode se deslocar para longas distâncias afetando, então, cidades do entorno. O resultado significa que o ozônio para 1 micrograma por metro cúbico, ou seja um milésimo de miligrama por mil litros de ar, causa um aumento de cerca de 1 a 1,5% da mortalidade, se contarmos o dia da queimada e os dois dias subsequentes. Vamos lembrar que as concentrações que você pode obter numa queimada ultrapassam 20 mg por metro cúbico de ozônio em alguma localidade. O desmatamento vai comprometer o clima e a sustentabilidade do planeta; algumas delas, como as queimadas, já produzem efeitos adversos à saúde, mas o motivo para que lutemos pela preservação das nossas florestas, não só em termos de saúde planetária, mas também da nossa saúde, da nossa janela de tempo, do nosso quintal, digamos assim, é para preservar a nós mesmos e a saúde daquelas pessoas que amamos. Está aí a ciência dando um pouco da sua contribuição para ver se a gente acrescenta argumentos nesse processo de preservação da floresta. 


Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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