A inteligência artificial aprende conosco, ela é treinada com os textos que nós produzimos – Imagem: Freepik

Na educação, o ChatGPT não estimula o pensamento crítico

Rogério de Almeida diz que a ferramenta é capaz de organizar os dados de forma coerente, mas é incapaz de um pensamento crítico

 07/03/2023 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 17/03/2023 às 17:31

Texto: Redação
Arte: Carolina Borin Garcia

Um chatbot pode ser resumido em sua tradução – “robô de bate-papo”. Porém, atualmente, o ChatGPT, um tipo de chatbot, tem chamado atenção pela sua capacidade de manter a coesão e a coerência: “Ele funciona como um modelo de linguagem e consegue, digamos assim, fazer uma redação com conteúdo e uma produção de sentido que é possível enganar as pessoas, de modo que a gente não saiba se aquele texto foi produzido por humano ou por um robô”, explica o professor Rogério de Almeida da Faculdade de Educação da USP.

O professor brinca e pergunta para o chatbot como ele vê a questão da principal preocupação dos acadêmicos com o chat. O próprio ChatGPT pontua cinco questões: a primeira seria a existência de um viés, mediado pelos algoritmos, que pode reproduzir preconceitos; a segunda, ética, do ponto de vista de como o chat seria utilizado; a terceira, sobre a privacidade, já que ele funciona com o uso de diversos dados; a quarta, seria a do controle, pois ele é imprevisível e se deve prezar pelo bem-estar das pessoas; quinto, a transparência de como essa ferramenta funciona. 

Porém, o especialista não segue a linha de raciocínio dessa inteligência artificial: “Eu vou por outro caminho. O que eu acho que ele nos coloca é uma questão muito interessante daquilo que nós consideramos humano. Porque, de certa forma, a inteligência artificial aprende conosco, ela é treinada com os textos que nós produzimos. Isso nos coloca em xeque em relação à criatividade e ao pensamento crítico”.

Rogério de Almeida - Foto: Victória Tambara

Pensamento crítico

A presença do ChatGPT na educação pode ser exemplificada com a sua capacidade de escrever uma redação exigida pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Almeida coloca que ele consegue realizar isso por conta da existência de um modelo mais definido, o que facilita a interpretação e execução por essa ferramenta. “Ele consegue organizar, mas, ao mesmo tempo, é incapaz de um pensamento crítico. Por isso, ele não vai, por exemplo, substituir os textos de jornalistas, não vai substituir os dos pesquisadores, ele não vai substituir, vamos dizer assim, aqueles textos que têm a ver justamente com a necessidade de um pensamento crítico, da nossa criatividade”, ressalta o professor.

“Quando a gente pede uma redação, um trabalho escrito, o que o professor espera do aluno: que ele reflita, pense e crie ou meramente se adapte a um certo modelo?”, questiona Almeida. Na área pedagógica, a construção e o investimento no pensamento crítico, que, diferentemente das máquinas, são característicos do ser humano, devem ser priorizados. 

Estudantes brasilienses concluem simulado do Enem - Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília via Flickr

O professor ainda acrescenta que o banco de dados dos chatbots é baseado nos conteúdos on-line, ou seja, é constantemente alimentado por criações humanas. Assim, a criticidade também é importante para evitar a disseminação de informações errôneas, que podem influenciar, além de tudo, na educação: “Aquilo que a gente criar de novo vai reabilitá-la, de modo que ela vai devolver isso para nós. A tendência é que esses robôs que estimulam a linguagem humana fiquem cada vez mais aperfeiçoados. Mas, se nós, humanos, produzimos notícias falsas intencionalmente, a gente não tem como saber o que o chat vai fazer. Ele não tem uma vontade própria e ele aprende com essas informações”, diz o professor.

 


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