Epidemia de miopia: número de afetados pode chegar a 50% até o meio deste século

Eduardo Rocha diz que aumento de casos decorre das mudanças de hábito com a urbanização da sociedade, o uso intenso e cada vez mais precoce de telas de equipamentos eletrônicos e a pandemia de covid-19

 31/07/2024 - Publicado há 4 meses

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A miopia é um tipo de vício de refração comum, de aparecimento na adolescência, tratável com óculos, lentes de contato ou cirurgia refrativa. O aumento do número de casos e a manifestação mais precoce na vida das crianças chama a atenção para busca de explicações e soluções mundo afora. Um artigo na conceituada revista Nature de final de maio de 2024 reflete sobre esse tema.

A miopia é uma alteração ocular que faz a visão ficar difícil para ver objetos que estão mais longe e mais fácil de ver coisas que estão perto. No passado recente, esse problema atingia poucas crianças, passando a ser mais frequente na adolescência, tratável com óculos, lentes de contato ou cirurgia para devolver uma boa visão para longe. No Brasil, estimativas do século 20 indicavam uma frequência de 10% a 15 % dos adultos com esse problema ou vício de refração. Há cerca de uma década os alertas de estudos asiáticos apontavam o aumento do número de casos de miopia, hoje tendo uma frequência estimada em 30% da população mundial e com projeções de chegar a 50% até o meio do século atual.

As mudanças de hábito com a urbanização da sociedade, o uso intenso e cada vez mais precoce de telas de equipamentos eletrônicos e a pandemia de covid-19 têm papel nesse aumento de casos de miopia. As atividades de aprendizado, trabalho e lazer passaram a ter muito mais atividade visual para perto, luz artificial e telas de celulares, tablets e TV. Os olhos crescem e ficam míopes para atender a essas demandas modernas de ver bem de perto. Os estudos epidemiológicos apontam que aí está a explicação para termos mais míopes, e cada vez mais precocemente do que em décadas passadas.

Nas tentativas de prevenir ou reverter a tendência de que mais crianças sejam míopes no futuro, temos visto estratégias com lentes de óculos para melhorar a perspectiva de visão para longe, decoração de ambiente para simular ambientes mais abertos e métodos para evitar que os olhos acomodem tanto para ver de perto, inclusive com remédios. Os resultados são promissores, com algumas vantagens estatísticas, mas ainda modestos ou incipientes do ponto de vista clínico. Como sugerem alguns dos entrevistados por Elie Dolgin nesse artigo, a solução aparentemente mais simples, mas que na prática é bem difícil, é convencer pais, mães e crianças a ter mais atividades fora de casa, em ambientes abertos, seguros e saudáveis. Esportes, caminhadas, ciclismo, botânica e tantas outras. Essa seria ainda hoje a estratégia para ter menos míopes no futuro.


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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