Blog
Censo 2022 fez diagnóstico de toda uma década, apesar da negligência do governo anterior
“Não podemos culpabilizar tecnicamente o IBGE devido ao momento histórico complexo e às decisões econômicas orçamentárias do governo anterior”, diz a professora Cristiane Kerches da Silva
O levantamento realizado pelo IBGE trata de uma política de Estado essencial para o entendimento da sociedade e seu funcionamento - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
O Censo Demográfico 2022 do IBGE, que apresenta informações de todo o País, começou a divulgar os seus primeiros dados na semana passada. Após um governo que negligenciou a instituição e seus dados para o desenho e manutenção de políticas públicas, o censo faz um diagnóstico de praticamente uma década. A professora Cristiane Kerches da Silva, do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, comenta também que é necessário esperar a divulgação dos próximos dados para uma análise mais segura.
Importância
O levantamento realizado pelo IBGE trata de uma política de Estado essencial para o entendimento da sociedade e o funcionamento desta. A professora explica o corte de verbas no IBGE realizado no governo Bolsonaro com a seguinte analogia: “Ao tentar emagrecer, o Estado cortou um membro vital, colocando o orçamento do censo do IBGE no foco do corte de recursos”.
Dessa forma, de acordo com Cristiane, o governo anterior não só desvalorizou completamente o estudo, como também afetou diretamente o planejamento de políticas públicas. Isso porque os dados determinados pelo órgão orientam as políticas públicas que são base de toda a sociabilidade e da forma como o mercado funciona. “Colocar uma instituição como essa em uma instabilidade como o anterior governo fez foi um crime de lesa-pátria”, discorre a professora. Além disso, essa atitude se agrava ainda mais, considerando a desigualdade e dívida social que o Brasil enfrenta. Assim, os dados do censo representam faróis muito importantes para guiar as políticas públicas.
Histórico
Em uma análise mais geral, alguns dos números divulgados pelo IBGE foram de encontro com expectativas populacionais, como é o caso da desaceleração no crescimento da população brasileira. Outro dado que chamou a atenção foi a defasagem de 4% do total de respostas. Na visão de Cristiane, é necessário esperar pela divulgação de mais dados para uma interpretação e construção precisa do quadro brasileiro, já que esse censo foi muito atípico. Relembrando sua história, houve um atraso de dois anos para sua realização, além de ser marcado por uma série de campanhas organizada pelos próprios servidores públicos em prol da defesa do IBGE.
Cristiane Kerches da Silva – Foto: Arquivo Pessoal
“Eu acho que o que esses desvios de dados mostraram são conjuntos de coisas, mas que vão ser consolidadas com o tempo”, esclarece a professora. Ela também ressalta que o IBGE possui uma tecnologia metodológica bem estruturada e segura, servindo de referência. Todavia, em função do elemento político distópico, houve uma inevitável desorganização desse processo.
Cristiane acredita que realmente possa ter existido esse desentendimento entre a questão metodológica e sociológica. Por exemplo, os casos de taxas de fecundidade e o movimento de grandes centros para cidades menores. Outro fator que também influenciou essa desorganização no estudo foi a pandemia. “A gente teve alunos no curso de Gestão de Políticas Públicas na EACH, que foram recenseadores, que relataram em sala de aula as dificuldades de acessar as pessoas”, comentou.
Análises
Apesar da necessidade de esperar a divulgação de outros dados do censo, muitos destes seguem tendências que já estavam acontecendo, como é o caso da desaceleração do crescimento populacional. “O País está aumentando cada vez mais o proporcional de pessoas idosas, um dado muito importante enquanto política pública para organizar um plano voltado para aposentadoria, acolhimento e trabalho com o idoso”, explica a professora.
Para além dos diagnósticos específicos, o IBGE se faz essencial como indicador de uma visão mais fina de todos esses fenômenos e de como o Estado vai lidar com eles. “Estamos no início da apresentação desses dados, que representam um sinal amarelo a ser observado. E não podemos culpabilizar tecnicamente o IBGE devido ao momento histórico complexo e às decisões econômicas orçamentárias do governo anterior”, conclui Cristiane.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.