Site The Conversation ganha edição brasileira

Plataforma que une conhecimento acadêmico e jornalismo estará disponível a partir de 4 de setembro

 01/09/2023 - Publicado há 11 meses     Atualizado: 04/09/2023 as 16:54

Texto: Adrielly Kilryann*

Arte: Joyce Tenório**

Site The Conversation Brasil chega ao País depois de cinco anos de trabalho feito por uma equipe de 19 voluntários - Fotomontagem com imagens de drobotdean/Freepik e Reprodução/The Conversation Brasil

“Rigor acadêmico, estilo jornalístico”. Este é o lema do The Conversation, uma plataforma virtual de jornalismo científico internacional, cuja edição brasileira entrará no ar na próxima segunda-feira, dia 4, à noite. Criada em 2011 na Austrália, o The Conversation Media Group – que mantém o site – é uma associação sem fins lucrativos que pretende disseminar o conhecimento acadêmico e científico de maneira acessível. A plataforma possui 11 edições ao redor do mundo (África do Sul, Estados Unidos, França, Reino Unido, Canadá, Indonésia, Espanha, Nova Zelândia, Austrália, Europa e Global).

“Hoje, o The Conversation é uma das maiores ferramentas de divulgação científica e de internacionalização da pesquisa”, expõe Jorge Félix, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e presidente do conselho da associação The Conversation Brasil. A plataforma possui mais de 90 mil acadêmicos cadastrados e 152 mil artigos publicados, além de contar com o apoio de mais de 3 mil universidades e instituições ao redor do mundo.

À frente do projeto desde 2018, Félix explica como surgiu a ideia de implementar o site no Brasil. “Tudo começou quando eu, assim como vários outros pesquisadores, tive interesse em publicar no The Conversation. Em 2018, submeti um artigo por indicação de um outro pesquisador da Polônia e percebi toda a complexidade da plataforma”, relata Félix.

O professor Jorge Félix - Foto: arquivo pessoal

O The Conversation tem o funcionamento parecido com o de uma revista acadêmica, visto que há a possibilidade de os pesquisadores sugerirem os seus artigos e trabalhos acadêmicos como pautas a serem publicadas. “Esse formato e a qualidade da plataforma, além da repercussão que o meu artigo obteve, me chamaram a atenção”, conta o professor, que se motivou a trabalhar pela construção do site ao perceber que nenhuma edição da plataforma havia chegado à América Latina, tampouco ao Brasil.

Ao longo dos últimos cinco anos, a equipe voluntária de 19 pesquisadores, professores e jornalistas desenvolveu o que hoje é a primeira edição em língua portuguesa do veículo. O conselho administrativo é composto com Jorge Félix, Paulo Artaxo, Natalia Pasternak, Fábio Guedes Gomes, Eugenio Trivinho, Mariluce Moura, Sandra Sinicco, Mara Bún e Silvio Luiz de Almeida, que está licenciado por ter assumido o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em 2023. Já no conselho fiscal, Eduardo Luque, Marta Pelucio e Jacqueline Ribeiro ocupam os cargos. A equipe editorial é formada por Daniel Stycer, Luciana Julião, Iasmim Amidem, Cesar Baima, Paulo Mussoi e Eliabe Figueiredo.

“Através do site, a pesquisa tem uma exposição muito maior. É uma oportunidade para os acadêmicos, mesmo que remotamente, interagirem, se integrarem e serem conhecidos por outras pessoas que estão atuando na mesma linha de pesquisa”, explica Félix. São 20 milhões de usuários no The Conversation todos os meses e mais de 50 milhões alcançados por republicações, além de 20 mil canais de mídia e veículos jornalísticos que já reproduziram seus conteúdos ao redor do mundo.

A plataforma é licenciada sob Creative Commons, ou seja, a reprodução de artigos publicados é livre e gratuita – basta citar a fonte. “O The Conversation é muito reproduzido em grandes veículos. Nos Estados Unidos, por exemplo, publicações foram repostadas pelo The New York Times e pelo The Washington Post”, lembra o professor.

Junto a João Tude, diretor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e vice-presidente do conselho da associação The Conversation Brasil, Félix estruturou o projeto e passou a apresentá-lo a representantes de diversas universidades do País – mas houve alguns contratempos. “Com a eleição de Jair Bolsonaro, o projeto parou, porque a própria sede não tinha certeza de que apoiaria a expansão para o Brasil. Depois, durante a pandemia, eles perceberam que seria importante tanto para eles como para o Brasil termos o The Conversation em português. Voltaram a entrar em contato comigo e iniciamos uma nova etapa”, explica Félix.

Foi então que Daniel Stycer, editor-executivo do site de O Globo e chefe da sucursal da revista Istoé no Rio de Janeiro, entrou no projeto e assumiu as posições de editor-chefe e diretor executivo. Há dois anos, está em contato com o The Conversation Media Group e, durante esse período, trabalhou para conseguir apoio, sobretudo da comunidade acadêmica. “O The Conversation tem esse papel de aproximar a universidade da sociedade. A ideia é levar o conhecimento que se produz dentro das universidades para a sociedade de modo geral. Ele tem essa importância de levar a voz de especialistas e de popularizar a ciência”, comenta Stycer.

Paulo Nussenzveig, professor do Instituto de Física da USP e pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP, foi entusiasta da iniciativa. ” Tive contato com o The Conversation a partir de contato do Daniel Stycer. Tenho certeza que isso incentivará a comunidade científica brasileira a contribuir com novos artigos e que a visibilidade da ciência de excelente qualidade que é feita aqui aumentará bastante”, diz.

O editor chefe e diretor executivo Daniel Stycer - Foto: arquivo pessoal

Nussenzveig ressalta a importância desse reconhecimento. “Um número expressivo de pesquisadores da USP já contribuíram para edições do The Conversation sediadas em outros países. Em algumas ocasiões, importantes trabalhos científicos realizados aqui tiveram repercussão inicial no exterior, através do portal, que resultaram em divulgação nos jornais brasileiros.”

Todos os textos publicados são produzidos e assinados por pesquisadores e acadêmicos vinculados a instituições ou cursando doutorado. Além disso, é necessário que o conteúdo escrito seja relacionado ao tema de estudo do especialista. Nesse caso, o trabalho da equipe editorial consiste em pautar os acadêmicos com base nos assuntos do dia, receber sugestões destes e editar o site e as notícias, explica Stycer. A linguagem dos textos também é pensada pelos redatores com os autores do trabalho, de modo que fique mais acessível e fácil de ser compreendida.

“O The Conversation funciona como uma redação de hard news”, acrescenta Félix. “Ou seja, os editores de cada editoria (Artes, Cultura, Economia, Meio Ambiente e Política, por exemplo) têm, diariamente, uma reunião de pauta para definir quais são os assuntos e temas quentes que estão em evidência naquele dia ou semana.”

Apesar de, a princípio, o The Conversation Brasil não ser dividido em editorias (tal qual acontece com edições já mais bem estruturadas, como a dos Estados Unidos e a do Reino Unido), Stycer comenta que temáticas como o meio ambiente e mudanças climáticas, além de desigualdade, democracia e justiça social, são algumas das questões que terão enfoque devido à relevância desses assuntos no Brasil. Para Félix, a plataforma se constitui como uma importante ferramenta contra a desinformação, as fake news e o negacionismo. “É um importante veículo em benefício da democracia”, alega.

* Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro

** Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado dos Santos


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