O que é a Política Nacional de Alfabetização?

O grupo político que esteve no governo federal entre 2019 e 2022 estabeleceu uma política de alfabetização que desconsiderou os conhecimentos produzidos no País até então, adverte Emerson de Pietri

 04/12/2023 - Publicado há 1 ano
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Alfabetização é um processo complexo – Foto: Freepik

 

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A, B, C… Se você reconhece o alfabeto e sabe ler, você é considerado uma pessoa alfabetizada. “Quando falamos em ‘alfabetização’, em geral, nos referimos ao ensino ou à aprendizagem da escrita em suas fases iniciais, ou seja, ao aprendizado das relações entre as letras e os sons da fala”, explica Emerson de Pietri, professor da Faculdade de Educação da USP.

Mas, segundo o Programa Nacional de Amostra em Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, o País tinha uma taxa de analfabetismo estimada em 6,6% para pessoas com 15 anos ou mais. Essa porcentagem parece pequena, mas na verdade ela corresponde a 11 milhões de brasileiros. E, foi por isso que a Política Nacional da Alfabetização (PNA) foi instituída em 2019, porém, não foi formulada como deveria.

PNA

Emerson de Pietri – Foto: Arquivo pessoal

“O grupo político que esteve no governo federal entre 2019 e 2022 estabeleceu uma política de alfabetização que desconsiderou os conhecimentos produzidos no País até então. Para marcar positivamente sua política e deslegitimar posições diferentes sobre o tema, ela afirmava que os métodos de alfabetização propostos tinham base em evidências científicas parciais”, diz Pietri. 

Segundo o professor, essas evidências eram fornecidas por uma parte das ciências que estudam as relações entre mente e cérebro, as ciências cognitivas. “Não eram quaisquer ciências cognitivas, mas aquelas consideradas em acordo com os princípios dessa política de governo. Tratava-se de uma política de negação de um grande conjunto de conhecimentos produzidos historicamente no País sobre o tema.”

A alfabetização não é simples

Além da PNA, o GraphoGame, um jogo que serviria de reforço para a alfabetização, foi lançado. “O GraphoGame é um jogo que se limita a apresentar para o jogador o som que deve ser corretamente relacionado a uma letra dentre as que lhe são oferecidas em cada etapa. É, como tantos outros, um jogo que talvez possa contribuir para a memorização do formato das letras, das diferenças entre elas e, talvez, de suas relações com os sons da fala”, comenta Pietri.

Porém, a alfabetização é um processo complexo, que envolve aspectos relativos aos modos como se aprende, às condições sociais e econômicas, às relações com a escrita, às práticas culturais. “A aprendizagem das relações entre as letras e os sons da fala se realiza em meio a toda essa complexidade e é condicionada por ela”, ressalta o professor.

“Se a gente considerar a complexidade que envolve a alfabetização, não se deve apostar que um recurso como esse contribua de forma decisiva para a alfabetização, porque é um processo muito mais complexo do que o que está presumido nesse jogo”, pontua. O professor ainda acrescenta: “A alfabetização demanda dedicação contínua de quem ensina e de quem aprende, depende do conhecimento especializado dos professores alfabetizadores, depende de investimento público em condições dignas de trabalho nas escolas. Não há soluções milagrosas”.


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