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Exposição do programa USP 60+ resiste ao etarismo
Obras de 26 artistas com mais de 60 anos - entre fotos, pinturas, contos e poesias - estão em cartaz no Centro Maria Antonia da USP
Está em cartaz no Centro Maria Antonia da USP a exposição Ampliando os Horizontes, que apresenta obras criadas pelos ganhadores do 2º Prêmio de Arte e Literatura do programa USP 60+, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, promovido no ano passado. A mostra, que fica aberta ao público até 28 de maio, contempla trabalhos de 26 artistas com mais de 60 anos, incluindo fotografias, xilogravuras, pinturas, gravuras, escultura, crônicas, contos e poesias.
A primeira sala da exposição abriga as artes visuais. Assim que entra, o público se depara com a fotografia em preto e branco Cena Rural, de Cleugen, que enquadra um trabalhador carregando um carrinho de mão quebrado. A imagem reflete a situação dos trabalhadores de áreas rurais, que muitas vezes exercem a profissão de forma precarizada.
Ao lado, a pintura Pés Nativos, de Norma Saldanha, que destaca os pés de um indígena caminhando numa aldeia, retrata detalhadamente as suas tatuagens, lembrando as antigas tradições dos povos originários.
Salvaterra I, de Maurício Paranhos, é uma série de três fotografias que retratam cômodos tipicamente brasileiros. É possível associar à obra lembranças da casa de avós, com o sofá forrado com uma capa, cortinas e mosquiteiro na cama.
No centro da sala encontra-se a única escultura da exposição, Revolta, de Beth Novi. Feita em cerâmica, ela representa um aglomerado de pessoas. “A obra traz a necessidade que todo ser humano tem de viver em grupo. Reflete essa necessidade de coesão, de um senso comunitário, essa necessidade que se tem que sair do seu eu”, interpreta o coordenador do programa USP 60+, Egidio Lima Dorea.
Já a pintura Anthropophage, de Kate Moss, mistura culturas do passado e a contemporânea. O nome faz referência a uma mítica raça de canibais citada pelo historiador grego Heródoto (484-425 antes de Cristo) e a obra retrata uma figura feminina com os seios à mostra, de forma sutil, e usando calça jeans. A jovem contemporânea que luta pela igualdade de gênero se vê no quadro. A composição do cenário lembra a caatinga por conta das cores, de um cacto e, no centro, do sol reluzente.
A segunda sala abriga as obras literárias. Ela contém nove textos: seis contos e crônicas e três poesias. Para acessar os trabalhos é preciso fazer, através do celular, a leitura de códigos QR dispostos na parede. Há a opção de ler o arquivo PDF ou acessar os áudios com a leitura do próprio autor ou autora. Também é possível acessar parte da exposição no site da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária. Os textos percorrem temas como amadurecimento, infância, o passado, desigualdade social, racismo e experiências peculiares de cada um.
Alguns textos parecem dialogar com as obras visuais expostas na mostra, como é o caso de Mulher de Fases, escrito por Adélia Pereira Vieira de Melo. Um trecho da poesia Morte, por exemplo, traz à memória a pintura Anthropophage:
“Nu descalço altivo, no paredão, sem perdão
Crivado por olhares, eu olho a esmo sem fixar
Não lembro o passado, não penso no futuro”
A exposição reforça a luta contra o etarismo, dando espaço para que pessoas com mais de 60 anos demonstrem suas habilidades artísticas. “A capacidade criativa não diminui com a idade. Muito pelo contrário, ela é enriquecida”, afirma o coordenador Egidio Dorea. “Você consegue depurar o seu olhar, ampliar o horizonte e valorizar coisas a que não dava valor quando mais jovem.”
O Prêmio de Arte e Literatura do programa USP 60+ foi criado em 2019, com foco em fotografia. Em 2021 a premiação foi expandida para a área da literatura. Em 2022 foram apresentados os trabalhos que geraram a atual exposição. “Criamos um espaço para que o público 60+ mostre seus trabalhos para as pessoas, além da família, de forma que trabalhemos a reafirmação de idosos na sociedade através da arte”, explica Dorea.
A exposição Ampliando os Horizontes fica em cartaz até 28 de maio, de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas, no terceiro andar do Centro Maria Antonia da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, em São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis.
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.