Uma Universidade humana

Por Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, e Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora

 07/06/2023 - Publicado há 10 meses     Atualizado: 18/07/2023 as 15:09
Carlos Gilberto Carlotti Junior – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

 

Maria Arminda do Nascimento Arruda – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

A exemplo das melhores universidades do Brasil e do mundo, a Universidade de São Paulo (USP) reconhece que seu maior ativo é o patrimônio científico e intelectual constituído por seus professores, pesquisadores de pós-graduação, alunas e alunos e por seu corpo técnico-administrativo. Cônscias desta premissa, todas as gestões da Universidade procuraram repor e ampliar os quadros docentes das Unidades Acadêmicas dentro do equacionamento permitido por cada conjuntura. Incluem-se nesses esforços os cursos da área de Humanidades, que contribuem, de forma decisiva, para a construção de uma universidade reflexiva e crítica.

No entanto, as crises econômicas intermitentes vividas pelo Brasil na última década produziram impactos incontornáveis, levando a USP a reduzir, em determinados momentos, o ritmo de reposição dos docentes que se aposentaram ou se desligaram da instituição. Esta redução na reposição foi agravada pela pandemia da covid-19, que inviabilizou por completo a organização de certames para esta finalidade.

Neste ano, vivemos uma situação incomum. Pela primeira vez, mesmo dentro de uma crise econômica que se prolonga, e sob o risco de modificação no modelo de financiamento que tem assegurado o desenvolvimento de uma ciência autônoma no Brasil, a USP assumiu como prioridade máxima avançar na reposição de seus docentes em todas as suas unidades e áreas do conhecimento. Com isso, decidiu-se pela contratação de novos 879 docentes (contabilizados três de Língua Brasileira de Sinais – Libras), entre os anos de 2022 e 2025, com início imediato. Além desses professores e professoras permanentes, a Administração Central disponibilizou, até este momento, 119 docentes temporários às Unidades Acadêmicas, contratados de acordo com os casos previstos na legislação e em nossas normas internas.

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) tem merecidamente se beneficiado desta retomada em virtude da quantidade de cursos e alunos que abriga. Do total anunciado, 60 vagas permanentes lhe serão destinadas no período mencionado (sendo uma de Libras), correspondendo a 6,8% do total, além de novas vagas para professores temporários. Como prova do nosso compromisso com esta instituição, entre 2022 e 2023, a FFLCH recebeu 58 docentes, sendo 24 destes permanentes e 34 professores temporários. Na distribuição interna dessas novas contratações, os Departamentos de Letras Modernas, Letras Orientais, Teoria Literária e Literatura Comparada, Letras Clássicas e Vernáculas e Linguística receberam 37 docentes, sendo 13 deles permanentes e 24 temporários. Não se trata de negar o direito à reivindicação realizada por alunos e docentes, mas de chamar a atenção para o esforço inédito que está sendo empreendido após anos de muitas dificuldades.

As Letras estão passando de 18 docentes repostos no último quadriênio (8 permanentes e 10 temporários) para 39 novos docentes, somente no início desta gestão. Um aumento de 116% em um ano e meio de gestão não pode ser desconsiderado neste momento em que a economia do país ainda vive um momento crítico. Este resultado representa tanto o esforço da atual gestão Reitoral, como uma deferência dos demais cursos da própria FFLCH com relação aos departamentos de Letras. Em 2024, serão mais 19 vagas permanentes destinadas à Faculdade e, em 2025, outras 16. Da mesma forma, outros docentes temporários poderão ser contratados, estudadas as necessidades e o disposto no regramento vigente. Como se sabe, a distribuição interna dessas vagas é uma decisão que compete exclusivamente à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, como o nosso princípio de autonomia assegura às nossas Unidades Acadêmicas e seus departamentos.

No melhor espírito de solidariedade, preferimos interpretar as reivindicações, que ora repercutem como manifestações, por um desejo por melhoria que, finalmente, encontra ambiente saudável para se expressar. Ambiente radicalmente diverso do passado recente, marcado por uma política nacional de desmonte da ciência brasileira, no qual as universidades públicas – entenda-se docentes, alunos e funcionários – foram as principais vítimas.

A USP avança pelo caminho do diálogo, do ensino, da pesquisa, das atividades de cultura e extensão e pela promoção da inovação. Na base desses quase 90 anos de progresso contínuo encontra-se o ser humano e suas potencialidades, do qual jamais abriremos mão.


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