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O Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, em São Paulo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
São Paulo ganha novo centro cultural na Cidade Universitária
O Anfiteatro Camargo Guarnieri, que já abriga a Orquestra Sinfônica, o Cinema e o Coral da USP, passa a ser palco também do Teatro da USP
Depois de ampla reforma, o Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, reabriu em 2018 – pouco antes da pandemia de covid-19 – com a intenção de abrigar os quatro órgãos culturais da USP: a Orquestra Sinfônica da USP (Osusp), o Coral da USP (Coralusp), o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) e o Teatro da USP (Tusp). A planta original, que era de 2.830 metros quadrados, foi ampliada para 5.450 metros quadrados, e os 380 lugares do auditório principal ganharam mais 55 poltronas, quatro camarotes e espaços para cadeirantes. Além disso, o projeto contemplou a criação de um complexo cultural, com sala de cinema para 156 pessoas, espaço cênico adaptável para montagens teatrais e salas de ensaio. Inaugurado em 1975, mesmo ano da criação da Osusp, passou a ser sede da orquestra, e foi ela a primeira a ocupar o novo espaço. Lá também já estão abrigados o Coralusp e o Cinusp. Agora, a partir do dia 20 de junho, recebe o Tusp, que passa a ter duas salas em São Paulo – a outra fica no Centro Universitário Maria Antonia, no centro da cidade.
A pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, professora Marli Quadros Leite, está muito satisfeita com a concretização do projeto. Ela lembra que o espaço funcionava como um anfiteatro, mas naturalmente foi se transformando em um centro cultural, que depois da reforma se tornou “um complexo magnífico, com todos os diretores nomeados e as equipes trabalhando harmonicamente”. Segundo ela, o Cinusp, que é dirigido pelo professor Eduardo Morettin, já está em pleno funcionamento, trazendo, além das sessões de filmes, discussões com cineastas e alunos, e há outros projetos na área cinematográfica. O Tusp, sob o comando do professor Luiz Fernando Ramos, vai trazer para o campus uma programação que não só atraia a população de São Paulo como também envolva a comunidade estudantil. Sobre a Osusp, diz que ela está numa fase “novíssima”, agora sob a direção do maestro Gil Jardim, que continua à frente da Orquestra de Câmara (Ocam) do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Já o Coralusp, que conta na direção com a regente Marcia Hentschel atuando ao lado do diretor artístico Eduardo Fernandes, tem a pretensão de dar maior visibilidade à música e envolver a comunidade uspiana cada vez mais. “O Anfiteatro Camargo Guarnieri é um centro cultural que vai atender não só à USP, mas também a toda a sociedade”, comemora.
A pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, professora Marli Quadros Leite - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Antes de receber o nome do maestro e compositor paulista Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993), primeiro regente e diretor artístico da Osusp, o então Anfiteatro de Convenções e Congressos da USP, que começou a ser construído em 1973, já tinha como objetivo abrigar atividades culturais – além de eventos acadêmicos -, e foi a primeira sede da orquestra. Fundada em 1975, a Osusp desempenha papel relevante não só no contexto universitário, mas também no Estado de São Paulo. Nesses 43 anos de existência, realizou turnês nacionais e internacionais, lançou álbuns, organizou concursos de composição, participou de montagens de óperas e se apresentou com alguns dos mais celebrados regentes e solistas do Brasil e do mundo. Em 2006 conquistou o Prêmio Carlos Gomes de Melhor Orquestra do Ano. Depois de um período de isolamento e gravações a distância, em julho de 2021 a Osusp retornou à sua casa, o Anfiteatro Camargo Guarnieri. Nessa primeira fase de ocupação, ainda sem a presença do público por conta da pandemia, fez gravações que foram transformadas em vídeos para lançamento digital.
Sua temporada anual de concertos, que consiste em apresentações regulares em diferentes salas, com diversas formações e repertórios, está sendo avaliada pelo novo diretor da orquestra, o maestro Gil Jardim, que assumiu o cargo há apenas duas semanas e está revendo os projetos atuais e planejando uma nova programação. Como adianta a pró-reitora, o trabalho social de Gil Jardim na direção da Ocam – uma orquestra formada por alunos – vai se estender para a Osusp levando para os bairros da periferia não só a música erudita, mas também a música popular. Marli destaca que o maestro faz trabalhos com o padre Lancelotti – a Ocam participou de um vídeo com moradores de rua, slammers e rappers para uma campanha de arrecadação durante a pandemia – e conhece muitos músicos, como Milton Nascimento e Gilberto Gil. “O maestro Gil Jardim chega com esse ar de renovação”, comenta.
Concerto da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) e do Coral da USP (Coralusp) na reinauguração do Anfiteatro Camargo Guarnieri, em 2018 – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Palco teatral
O Tusp teve sua primeira iniciativa de criação em 1955, por solicitação de diretórios acadêmicos à Reitoria da Universidade. Em 1966, surgiu como Teatro dos Universitários de São Paulo, ainda sem vínculo com a Universidade, por iniciativa de estudantes da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Em 1976, ele foi criado oficialmente, vinculado à então Coordenadoria de Atividades Culturais da USP. “Há mais de dez anos – desde 1996 –, o Tusp está alojado na sede histórica do Centro Universitário Maria Antonia, com quem dividimos aquele espaço do prédio original da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP”, informa o professor Luiz Fernando Ramos, diretor do Tusp. Segundo ele, são duas salas, uma grande e uma experimental, que têm abrigado espetáculos e oficinas em diálogo com a cidade, além de suas sedes em Ribeirão Preto, Bauru e São Carlos, onde, em breve, como adianta o professor, será inaugurada uma sala experimental. Já o Tusp Butantã, como se refere o professor à sala que fica no Anfiteatro Camargo Guarnieri, vai estender a produção para o campus da Cidade Universitária, revivendo o espírito do teatro universitário.
O professor Luiz Fernando Ramos - Foto: Sesi-PR
Em modelo similar ao utilizado no Tusp na rua Maria Antonia, com uma estrutura modular a partir de arquibancadas praticáveis, o espaço cênico no Camargo Guarnieri tem múltiplas possibilidades de relação entre palco e plateia, como palco frontal, arena e semiarena, entre outras. Atualmente, informa Ramos, a sala está bem equipada, com suporte para grandes espetáculos e iluminação moderna, além de capacidade para 80 pessoas. Inicialmente, seu funcionamento será durante a semana, no final da tarde, por volta das 18 horas. Como diz o professor, a ideia é testar os horários, combinando-os com o funcionamento do Cinusp e da Osusp, para atender a comunidade do campus. Além da parceria natural com a produção do Departamento de Artes Cênicas da ECA e da Escola de Arte Dramática, também ligada à ECA, o professor informa que a ideia é fomentar o teatro universitário em geral. “Queremos resgatar o espírito original do Tusp, que era ser um escoador do teatro universitário, quer dizer, da produção da Universidade, de todas as unidades da USP que têm seus próprios grupos de teatro espontâneo, que não são necessariamente profissionais”, espera. Para isso, acrescenta, há um projeto para contratação de bolsistas que vão colaborar nesse recenseamento dos grupos de teatro universitário, para realização de uma primeira mostra já no próximo ano. “Esse espaço vai tanto veicular e reverberar a produção que passa pela Maria Antonia como também vai ser esse catalisador da produção universitária que acontece ‘secretamente’, de grupos que nem sabemos que existem e que estão atuando, como na tradição do teatro amador antigo ou do teatro universitário de 30 anos atrás”, diz. “Queremos retomar essa história, esse espírito.”
A nova sala do Teatro da USP (Tusp): estrutura modular e várias possibilidades de interação com a plateia - Foto: Elcio Silva/PRCEU
Sala de cinema
O Cinema da USP Paulo Emílio antes estava abrigado no Favo 4 das Colmeias, na Cidade Universitária, e agora integra o Anfiteatro Camargo Guarnieri. Criado em 1993, a sala leva o nome do professor, crítico e escritor Paulo Emílio Sales Gomes, um dos maiores pensadores do cinema brasileiro, que implantou um dos primeiros cursos de Cinema do Brasil, na Universidade de Brasília (UnB) e depois, na USP. Sua programação é variada, contando com mostras temáticas produzidas por professores e alunos da Universidade, seminários, debates, cursos, pré-estreias e parcerias com festivais de cinema. Filosofia que continua a mesma, como afirma o professor Eduardo Morettin, diretor do Cinusp. Segundo ele, a sala das Colmeias continua funcionando, mas agora como sede para cursos, debates e até festivais – em julho vai abrigar uma parte da programação da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental.
A nova sala tem uma tela de 8,5 metros, projeção 4K – “que coloca o Cinusp no nível das melhores salas de cinema de São Paulo” -, iluminação a laser e sistema surround estéreo (Dolby Digital 5.1), como enumera o diretor. “Houve um ganho na infraestrutura e também no número de lugares – passou de 100 para 130”, comenta. As mostras cinematográficas continuam, como as tradicionais Para Gostar de Cinema, Novíssimo Cinema Brasileiro e as clássicas animações nas férias de julho. Para ele, a união dos órgãos culturais em um só espaço abre a possibilidade de estabelecer parcerias, e adianta que já há duas iniciativas pensadas em conjunto com o Tusp. “Em agosto, uma artista virá desenvolver uma residência no Tusp e como seu trabalho de performer é em torno da chanchada, teremos uma atividade ligada a essa estadia. E na mostra de animação temos a intenção de realizar uma encenação com teatro de bonecos”, conta. “O fato de estar lá permite esse intercâmbio.”
O professor Eduardo Morettin - Foto: Arquivo pessoal
A nova sala do Cinema da USP Paulo Emílio da USP (Cinusp) - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Ensaios corais
Fundado em 3 de junho de 1967 por integrantes do Grêmio Politécnico da Escola Politécnica e do Centro Acadêmico 31 de Outubro da Escola de Enfermagem da USP, por iniciativa do maestro Benito Juarez e José Luiz Visconti, o Coral da USP foi denominado inicialmente Coral Universitário Poli-Enfermagem. No ano seguinte, adotando o nome Coral Universidade de São Paulo, o grupo gravou seu primeiro compacto duplo, com tiragem de 2 mil discos e, em 1971, foi integrado à Reitoria da USP e aberto para a participação da comunidade em geral. Mantendo-se em atividade ininterrupta desde sua fundação, atualmente conta com 15 grupos e duas oficinas corais, num total de mais de 550 coralistas, sob a direção de sete regentes, além de professores de orientação vocal e percepção musical. O Coralusp começou a utilizar o espaço do Anfiteatro Camargo Guarnieri ainda em 2019, mas por conta da pandemia só retornou em setembro de 2021. “Os grupos corais vieram somente no início deste ano, e se alternando”, informa a diretora do Coralusp e regente Márcia Hentschel. Como lembra o diretor artístico Eduardo Fernandes, 12 corais ensaiam no complexo, de segunda a sexta-feira, entre as 12 e as 22 horas, além de sábados e domingos, e outros três funcionam, respectivamente, na Casa de Dona Yayá, na Faculdade de Direito e na Biblioteca Mario Schenberg, no bairro da Lapa.
Atualmente, os grupos corais utilizam quatro salas para ensaios, além do próprio anfiteatro. “Este é o momento de um grande namoro. Primeiro, a casa é linda, e todos os diretores dos corpos artísticos têm um grande envolvimento. Tem tudo para dar certo”, diz Márcia. “Interessantes” são as parcerias entre esses órgãos, como ressalta Fernandes. “Já temos uma parceria estabelecida com a Osusp há alguns anos, mas poderíamos ter com o Tusp, por exemplo. Ou ter alguns cantores participando de uma peça ou algum diretor trabalhando com o Coralusp na questão cênica”, sugere o diretor.
A regente vocal Márcia Hentschel - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Eduardo Fernandes, diretor artístico do Coral da USP - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Há ainda alguns ajustes a fazer, como a sinalização, uma entrada um pouco mais acolhedora e também a ventilação, pensada para o uso de ar-condicionado, mas não para estes tempos de pandemia. Mas, finalmente, o corpo artístico da USP está reunido em um único espaço. Como reitera a pró-reitora Marli Leite, “as equipes estão integradas e os diretores estão muito envolvidos nos novos projetos”. Ela prevê que o Anfiteatro Camargo Guarnieri será “uma máquina de cultura”. “A programação cultural será voltada para toda a população.”
O Anfiteatro Camargo Guarnieri fica na Rua do Anfiteatro, 109, na Cidade Universitária, em São Paulo. Toda a programação é gratuita. Mais informações estão disponíveis no site da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.
Complexo tem extensa programação em junho
A sala de espetáculos do Anfiteatro Camargo Guarnieri - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O novo espaço do Anfiteatro Camargo Guarnieri já tem uma agenda intensa, com várias apresentações teatrais e musicais. O Tusp inaugura sua nova sala com uma programação em homenagem ao dramaturgo Augusto Boal. Encontros com Boal começa no dia 20 de junho e vai até 1º de julho, e reúne oficina, aulas abertas e espetáculos gratuitos. A Oficina de Sensibilização: Jogos e Técnicas de Teatro do Oprimido será ministrada pela agente cultural Ana Beatriz Cangussu, e vai abordar o método criado pelo diretor, que reúne exercícios, jogos e técnicas que têm como objetivos a democratização dos meios de produção teatral, o acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformação da realidade através do diálogo e de uma representação dialética (de 20 a 24 de junho, com inscrições neste link). Já as aulas abertas, que também acontecem de 20 a 24 de junho, no período da tarde, apresentam momentos distintos e menos conhecidos da trajetória do diretor e ensaísta: Boal Professor de Dramaturgia na Escola de Arte Dramática da USP, com Paula Autran; Boal e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com Douglas Estevam; Boal na América Latina, com Ana Beatriz Cangussu; e Boal Parceiro de Abdias do Nascimento e o Teatro Experimental do Negro (TEN), com Cecília Boal (viúva do dramaturgo). Por fim, o espetáculo Hamlet 16×8 é baseado em sua autobiografia Hamlet ou O Filho do Padeiro: Memórias Imaginadas, interpretado por Rogério Bandeira, com direção de Marco Antonio Rodrigues (apresentações às terças, quartas e sextas, às 18 horas, e às quintas, às 20 horas, durante as duas semanas de programação). Para as férias de julho já estão programadas oficinas e há um planejamento de atividades, de agosto até dezembro, que será divulgado posteriormente.
Também de 20 a 26 de junho será realizada a 13ª edição do Festival Coralusp para comemorar os 55 anos do grupo. As apresentações gratuitas acontecerão de segunda a sexta, às 20h30, sábado, a partir das 18 horas, e no domingo, às 11 e 17 horas, e vão reunir os atuais 15 grupos e convidados especiais, como coros independentes e semiprofissionais de bolsistas. “A grande novidade deste ano são os coros juvenis, o que é auspicioso pensar que há adolescentes cantando, já que são muitos os coros infantis e adultos”, diz o diretor artístico Eduardo Fernandes, informando que há cinco coros juvenis participando do festival. Entre os convidados estão Cantando no Quintal, Coro da Vila, Coral Jovem do Instituto Bacarelli e Coro Jovem do Estado.
O Cinusp exibe, a partir de 20 de junho, a mostra 24 Quadrinhos por Segundo, que reúne filmes que surgiram a partir das páginas das histórias em quadrinhos. Entre os destaques, estão Scott pilgrim contra o mundo, filme aclamado pelo universo nerd, que dialoga diretamente com o enredo dos quadrinhos e o cinema; o coreano Old boy, de Park Chan-wook, adaptação do quadrinho que leva o mesmo nome; além do clássico infantil Turma da Mônica – lições, que adentra o universo de Maurício de Souza. Há também filmes que não seguem com fidelidade o roteiro dos quadrinhos, caso do italiano Baba yaga, que toma rumos diferentes mas se utiliza dos elementos visuais marcantes de seu original. Ainda na grade de programação, a produção japonesa Lady Snowblood – vingança na neve, o sueco Nós somos os melhores!, o americano Tank girl – detonando o futuro, entre outros. A mostra vai até 8 de julho, com sessões de segunda a sexta, às 16 e 19 horas.
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