A Pró-Reitoria de Pesquisa divulga hoje, dia 17 de maio, a relação dos 100 candidatos selecionados no Programa de Atração e Retenção de Talentos (Part) da USP. Trata-se de um projeto inédito da Universidade que tem como objetivo oferecer ao pós-doutorando a oportunidade de desenvolver suas competências e habilidades no ensino da graduação. Inicialmente, o edital previa 80 vagas, mas, devido à qualidade dos candidatos, o número foi aumentado para 100.
Os aprovados serão contratados como docentes da USP, por prazo determinado de um ano (prorrogável por mais 12 meses), na função de professor colaborador e com jornada de trabalho de oito horas semanais. O salário será de R$ 1.279,15, mais auxílio-alimentação no valor de R$ 870,00.
Esta é a segunda edição do programa, que foi lançado em 2019. O edital, cujo período de inscrição se encerrou no dia 27 de abril, teve 427 inscritos. Estavam aptos a se candidatar os doutores regularmente inscritos no Programa de Pós-Doutorado da USP e com título obtido há menos de sete anos.
Cada interessado deveria apresentar um projeto de ensino destacando as inovações, a ser avaliado e validado pela Comissão de Graduação da unidade, museu ou instituto especializado de origem e que estivesse em concordância com o projeto acadêmico institucional ou do departamento. A seleção foi feita por um Comitê Gestor, formado por 35 docentes de diversas áreas do conhecimento, e a vigência do contrato terá início em julho de 2021.
“O pós-doutorando é um pesquisador formado que está procurando ganhar experiência juntando-se a bons grupos de pesquisa e, geralmente, pretende seguir uma carreira acadêmica. Por isso, todas as universidades de pesquisa mantêm programas consistentes de pós-doutoramento, incentivando os jovens talentos a continuarem nas atividades de pesquisa, seja na própria instituição onde desenvolveram o doutorado, seja em outras instituições. Faz parte da missão das universidades formar bons pesquisadores. A USP, nos últimos anos, vem estimulando as atividades de pós-doutoramento e assim está conseguindo atrair e reter um número maior de participantes nos seus programas”, ressalta o reitor Vahan Agopyan.
Segundo ele, “na maioria das universidades, as atividades de ensino, tanto as de graduação quanto as de pós-graduação, são rotineiras quando não compulsórias para esses pesquisadores, para garantir de fato a boa formação dos possíveis futuros docentes. No entanto, na USP, curiosamente, o pós-doc só pode participar dos programas de pós-graduação. Por isso, o Part foi planejado para dar a esses nossos colegas a oportunidade de também ter um envolvimento nas atividades de graduação e assim ter uma formação mais completa. O programa tem tido uma repercussão marcante entre os pós-docs. Alguns deles até preferiram renunciar às bolsas de agências, que não permitem esse tipo de atividade conjunta, para participar do programa, o que demonstra sua pertinência”.
Realização profissional
O pós-doutorando do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), André Vilela Komatsu, foi aprovado na primeira edição do Part e é um dos 143 participantes do programa que tiveram o contrato renovado por mais um ano, dentre os 665 inscritos e 208 contratados. Ele ministra aulas no Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP).
“Minha formação é em Psicologia e, desde a graduação até o final da minha pós-graduação, trabalhei, em termos de pesquisa e de extensão, com adolescentes em conflito com a lei e suas famílias, buscando sempre a promoção do desenvolvimento pleno e a garantia de direitos dessas pessoas. Na pós, tive a oportunidade de fazer estágios no exterior e me aproximei da Criminologia, em Barcelona e no Porto”, conta Komatsu.
Segundo ele, para quem almeja a carreira de professor-pesquisador, um dos grandes desafios durante a pós-graduação é conseguir conciliar atividades em todos os eixos que essa rotina exige: pesquisa, ensino e extensão. “No meu caso, não pude praticar a docência de modo formal durante a pós-graduação por ser bolsista. Tive bastante experiência com os estágios PAE [Programa de Aperfeiçoamento de Ensino] que a USP oferece e com convites para ministrar palestras, workshops e oficinas. Apesar de experiências ricas, elas não contam em concursos de universidades públicas. Por exemplo, pouco antes de ingressar no pós-doutorado, eu fiquei em segundo lugar em um concurso da uma universidade federal. Eu tinha o maior número de produções científicas entre os candidatos, mas não pontuei em experiência didática, o que me deixou de fora”, afirma.
“Dessa forma, o Part foi uma oportunidade de seguir desenvolvendo minhas atividades de pesquisa e de transferir esses conhecimentos para o ensino na graduação, concomitantemente ao fortalecimento dessa parte curricular. A experiência tem sido muito positiva, porque o nível da graduação da USP faz com que o professor evolua muito. Para mim, tem sido uma grande realização profissional e pessoal”, pondera.
Qualidade das aulas
A presidente da Comissão de Graduação e professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), Giovana Tommaso, avalia que o Part é uma iniciativa importante para melhor capacitar os pós-doutorandos, deixando-os mais competitivos para concursos docentes. “É uma oportunidade ímpar para que o pós-doutorando pense na estruturação de uma disciplina completa, todavia o faça com acompanhamento do docente responsável da disciplina, com a anuência da chefia do departamento e da Comissão de Graduação da unidade. O processo tem sido conduzido com todo cuidado e, com isso, tem primado pela qualidade das aulas de graduação e também fornecido segurança aos participantes”, destaca.
A FZEA conta com 12 pós-doutorandos, que “têm agregado muito às nossas disciplinas em termos de conteúdo e formas de apresentação dos assuntos e têm sido muito bem avaliados por nossos alunos”, diz Giovana.
“Esses jovens doutores têm feito muito sucesso com o alunado por seu engajamento, dedicação na preparação dos conteúdos e pelo uso de metodologias de ensino ativas. Ao mesmo tempo, a oportunidade é uma experiência importante para os que seguiram a carreira docente. É uma capacitação profissional diferente, pois estão ensinando e aprendendo ao mesmo tempo. É um programa em que todos ganham. Ganham os alunos, ganham os jovens doutores e ganha a Universidade que cumpre o seu papel de formação em todos os níveis”, salienta o vice-reitor da USP, Antonio Carlos Hernandes.
Mercado competitivo
O professor colaborador da Faculdade de Odontologia (FO), Carlos Alberto Kenji Shimokawa, também selecionado pelo Part, considera que, “apesar de ter sido bem preparado para a carreira docente, em nenhum momento da minha formação tive uma experiência igual à que me foi proporcionada pelo programa. Sempre auxiliei os alunos nas disciplinas de graduação, durante os estágios didáticos, mas a responsabilidade e a vivência como professor são bastante diferentes”. Shimokawa fez a graduação, o mestrado e o doutorado na própria FO, com um estágio de doutorado na Universidade Dalhousie, no Canadá.
“O programa me possibilitou um amadurecimento e até uma perspectiva diferente como docente, e acredito que essa experiência será fundamental para minha carreira, sendo um diferencial num mercado que vem se tornando bastante competitivo. Tanto que renunciei à minha bolsa de pós-doutorado da Capes para que pudesse renovar meu contrato como professor colaborador pelo Part”, relata.
“Acredito que a manutenção do programa irá beneficiar diversos pós-doutorandos, que dedicaram grande parte de suas vidas para a carreira docente, possibilitando a experiência como docentes da USP”, assevera.
“A participação de pós-doutores no ensino é uma característica de uma universidade moderna que integra ensino com pesquisa e almeja melhor formação profissional. Estamos muito satisfeitos em ver que esse programa foi tão bem-recebido e ajuda a incorporar os pós-doutorandos na vida acadêmica de forma ampla e mais rica”, conclui o pró-reitor de Pesquisa, Sylvio Roberto Accioly Canuto.