Gravação inédita apresenta voz de Mário de Andrade pela primeira vez

Uma ação combinada entre pesquisadores da USP, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, recuperou registros fonográficos feitos em 1940, no Rio de Janeiro, que apresentam a voz do escritor Mário de Andrade pela primeira vez, cantando para o linguista norte-americano Lorenzo Turner.

 24/04/2015 - Publicado há 10 anos
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Áudios, com nove minutos de duração, estão disponíveis no site do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), que analisou os registros fonográficos

Pesquisadores puderem ouvir, pela primeira vez, a voz de Mário de Andrade

Uma ação combinada entre pesquisadores da USP, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, recuperou registros fonográficos feitos em 1940, no Rio de Janeiro, que apresentam a voz do escritor Mário de Andrade pela primeira vez, cantando para o linguista norte-americano Lorenzo Turner.

Recém-localizado pelo professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e musicólogo, Xavier Vatin, e trazido para o Brasil para análise e identificação com a colaboração do pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco e musicólogo, Carlos Sandroni, o disco apresenta seis melodias e conversas entre Mário de Andrade, a escritora Raquel de Queiroz e Mary Houston Pedrosa, então esposa do crítico literário Mário Pedrosa.

A professora titular do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, Flávia Toni, explica que se verificou, por meio da correspondência de Mário de Andrade com a poetisa e ensaísta Oneyda Alvarenga, que a situação histórica – a presença de Mário e Turner no Rio de Janeiro – se confirmava e a consulta ao catálogo do Arquivo da Universidade de Indiana mencionava o registro de homens e mulheres cantando para Turner gravar. “Valia a pena, de fato, solicitar os registros norte-americanos para análise”, afirma.

A face A do disco de alumínio, com seis minutos de duração, contém cinco melodias: Aribu, melodia que Raquel de Queiroz aprendera com um palhaço, no Ceará;  Zunzum, com Mário de Andrade e Mary Houston Pedrosa, peça do final do século XVIII, celebração usada nas rodas de bebida que o musicólogo acreditava ser originária de Minas Gerais;  Tava muito doentim, cantada por Raquel de Queiroz, colhida por Ascenso Ferreira e Mestre Rozendo, em Pernambuco; Deus lhe pague a santa esmola, cantiga de mendigos colhida por Mário de Andrade em Catolé do Rocha, no interior da Paraíba e Toca zumba, cantada por Mário de Andrade.

Na face B, com três minutos de duração, os cantores – Mary Pedrosa, Raquel de Queiroz e Mário de Andrade – explicam o que gravaram, estimulados por Mário Pedrosa, que aparentemente coordena a sessão de trabalho, e o escritor Pedro Nava, que deixa escapar algumas observações. O clima é de camaradagem e Raquel de Queiroz, desinibida, canta uma última melodia, Meu irmão me dê uma esmola.

Os áudios estão disponíveis no site do IEB.

Estudos brasileiros 

O IEB tem sob sua responsabilidade a Coleção Mário de Andrade, que abrange o período de 1891 a 1945, e diz respeito à criação literária do autor (prosa e poesia) e sobre suas atividades como crítico musical, das artes plásticas em geral e da literatura. O acervo é composto de cerca de 30.000 documentos, incluindo catálogos de correspondência, desenhos, fotografias, manuscritos, entre outros.

Desde o início de abril, está em cartaz, no saguão do prédio da Reitoria, a exposição “Traço|Compassos: Mário de Andrade em caricaturas”, organizada pelo Instituto em homenagem aos 70 anos da morte do escritor.

A exposição reúne cerca de 30 obras assinadas por Nássara, Millôr Fernandes, Paulo Cavalcanti, Antonio Paim Vieira, Hilde Weber, José Corrêa Moura, Nicolielo, Hippert, Baptistão, Cláudio Duarte, entre outros artistas, que retratam os célebres aros redondos dos óculos do escritor, o queixo proeminente, o largo sorriso dentuço, a indisfarçável calvície, o apuro no vestir-se, fixados em grafite, lápis de cor, nanquim, guache e outros processos gráficos.

Criado por Sérgio Buarque de Holanda, em 1962, o IEB é um centro multidisciplinar de pesquisas e documentação sobre a história e as culturas do Brasil.

Além da Coleção Mário de Andrade, tem sob sua responsabilidade a guarda e a manutenção de um conjunto de fundos pessoais – constituídos em vida por artistas e intelectuais brasileiros -, e que estão distribuídos entre o Arquivo, a Biblioteca e a Coleção de Artes Visuais. Manuscritos originais de nomes decisivos para a cultura brasileira, livros raros e obras de arte formam um conjunto de caráter único, que recebe periodicamente novas aquisições, seja através de doação, seja por meio de compra.

O IEB, a coleção e a pesquisa são indissociáveis. As pesquisas são desenvolvidas nas áreas temáticas de Artes, Literatura, Música, História, História Econômica, Geografia, Economia, Antropologia e Sociologia. O Instituto mantém, ainda, o  Programa de Pós-Graduação em Culturas e Identidades Brasileiras.


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