No Dia Internacional da Síndrome de Down, USP e Instituto Alana avançam nas ações de inclusão

Evento para assinatura de protocolo de intenções destacou como pessoas com de deficiência intelectual podem estar mais presentes na Universidade e contribuir com os benefícios da diversidade

 22/03/2024 - Publicado há 9 meses     Atualizado: 16/04/2024 às 12:42
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Evento realizado no InovaUSP com representantes da USP e do Instituto Alana – Foto: Marcos Santos/USP Imagens


A USP e o Instituto Alana assinaram nesta quinta, 21 de março, o protocolo de intenções para uma série de ações conjuntas e celebraram o estreitamento de uma parceria que teve início há exatamente um ano, quando a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) realizou, em parceria com o Alana, o workshop Pesquisa em Síndrome de Down e Advocacy. Naquela ocasião, foram apresentadas pesquisas que tinham como foco promover melhorias para a população com síndrome de Down e discutiu-se a criação de uma rede brasileira de pesquisadores na área.

A escolha da data foi simbólica: em 21 de março – 21/3 –  comemora-se o Dia Internacional da Síndrome de Down, em alusão aos três cromossomos no par 21, fator que caracteriza a condição genética de Down.

O documento firmado institui um grupo de trabalho para pesquisar a jornada e o acesso de pessoas com deficiência intelectual ao ensino superior, além de realizar estudos e atividades e propor ações de inovação voltadas à inclusão de estudantes com deficiência intelectual na USP. 

O evento de assinatura ocorreu no Centro de Inovação da USP (InovaUSP) e foi aberto pelo pró-reitor de Graduação da Universidade, Aluísio Segurado, que lembrou o fato de ambas as instituições estarem, pelo segundo ano consecutivo, marcando esta data com iniciativas em prol da inclusão de pessoas com síndrome de Down na USP.

Em uma referência ao fato de o documento estar sendo assinado durante as comemorações dos 90 anos da USP, Segurado lembrou que, no documento de fundação, os pioneiros da Universidade assumiram o compromisso de que a instituição deveria contribuir de forma efetiva e qualificada para o desenvolvimento econômico e social da população paulista e brasileira: “Ao longos desses 90 anos, a USP vem cumprindo seu papel e caminha a passos largos numa proposta para que possamos nos tornar um centro educacional cada vez mais inclusivo. As intenções estão colocadas e agora precisamos executar o trabalho, mas esse histórico mostra que estamos avançando e construindo coletivamente uma proposta”, ressaltou.

Segurado também lembrou que a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) acaba de promover a atualização do Programa de Formação de Professoras e Professores da USP, um documento que orienta os cursos de licenciatura. A versão anterior do texto já tinha 20 anos, e a atual incorpora um destaque muito maior para a educação inclusiva. 

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação foi representada no evento pela pró-reitora adjunta de Pesquisa, Susana Torresi, que mencionou uma outra coincidência de data: “Hoje o Jornal da USP está publicando uma notícia sobre um edital conjunto entre USP, Unesp e Unicamp que busca estimular o desenvolvimento de novas tecnologias assistidas e outras ações de inclusão voltadas ao público com deficiência. É oportuno que no mesmo dia estejamos destacando aqui a importância de trazer essas pessoas para dentro da Universidade”. 

Para a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lanna, “se a USP quer ter um futuro, ela tem que investir em excelência acadêmica, e hoje em dia a excelência está completamente associada à diversidade. Esse protocolo de intenções é muito simbólico e fortalece um trabalho que a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) vem desenvolvendo a respeito de inclusão de deficientes e que busca aumentar a aproximação e a troca de saberes e experiências com a sociedade civil e instituições que trabalham com o tema”. 

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O Instituto Alana é uma organização de impacto socioambiental que, há 30 anos, atua para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes, especialmente os mais vulneráveis, crianças negras, periféricas, indígenas, incluindo jovens e adultos com deficiência. A presidente do Instituto, Ana Lucia Vilela, que é mãe de uma menina com síndrome de Down, apresentou um relato sobre o documentário Outro Olhar – Uma Nova Perspectiva, no qual um pai conta como sua família recebeu da médica a informação de que a filha recém-nascida, Renata, tinha uma mutação genética: “No filme, uma profissional de saúde diz a ele: ´Só não vou prometer que ela vai fazer uma faculdade’. Isso sempre me causou desconforto e indignação: por que atribuir falta de capacidade e apontar baixas expectativas a uma criança que acaba de nascer? A USP hoje faz história ao abrir espaço para apoiar a progressão de jovens com deficiência intelectual no ensino superior. Que nossa parceria ultrapasse os muros dessa que é a maior e melhor universidade da América Latina e uma das melhores do mundo e inspire a promoção da educação inclusiva”, comemorou.

Sua fala foi complementada pela do diretor executivo da Alana Foundation, Pedro Hartung, que lembrou que, para a produção de tecnologia, conhecimento e inovação, é preciso ter diversidade e que agora a USP passa a fazer parte de um movimento mundial, que tem sido especialmente forte em universidades dos Estados Unidos e Europa, para garantir um mundo mais diverso também na academia. Hartung apresentou um vídeo (veja abaixo) com depoimentos que mostram como as pessoas com síndrome de Down são capazes de muito mais do que a sociedade costuma supor. 

Alguns dados a respeito desse universo também foram apresentados pela diretora executiva do Instituto Alana, Isabella Henriques. Entre as pesquisas mostradas ao público, dados que comprovam que a presença de pessoas com síndrome de Down melhora o ambiente institucional, mas uma porcentagem muito pequena está presente no ensino superior: “Hoje o Brasil tem 18,6 milhões de portadores de deficiência. Destes, 14,3% estão no ensino superior, sendo que, entre a população geral, são 25,5%” (veja pesquisa completa). 

Ao final do evento, dois depoimentos apresentaram aos presentes um pouco da realidade do público portador de síndrome de Down. Laís Ferro, da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, fez um apelo voltado ao fim do preconceito contra as pessoas com deficiência e destacou como todos podem ser capazes de contribuir e produzir em uma sociedade diversa: “Se todo mundo é diferente, por que rotular alguns? Chega de capacitismo!”. Sua colega Georgia Baltieri relatou como consegue ter uma vida normal e autônoma: “Sempre estudei em escola regular, meus pais sempre acreditaram que eu poderia aprender e me desenvolver com independência. Hoje eu namoro e estou me organizando para morar junto com meu namorado”, contou. 

Rede Buriti

Resultado do workshop realizado em 21 de março de 2023, a Rede Buriti é uma rede de pesquisa em colaboração entre a comunidade científica e a sociedade civil. 

Presente no encontro desta quinta-feira, o professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP e coordenador da Rede Buriti, Orestes Forlenza, apresentou os pilares desse trabalho e as intenções de criar uma coorte brasileira de pessoas com síndrome de Down com um biobanco nacional, uma base de dados em larga escala e um observatório de saúde a respeito do assunto. Confira aqui o documento apresentado. 

Confira, no vídeo abaixo, como foi o encontro:


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