A USP adotou tardiamente as cotas raciais para ingresso na graduação, incluindo essa política apenas em 2018. Na pós-graduação de Artes Cênicas, as cotas raciais foram aderidas no processo seletivo de 2022 para ingresso em 2023, quando os dois estudantes entraram na ECA. Por conta dessa distância entre o estabelecimento de políticas afirmativas no nível da graduação e na pós-graduação, Petronílio enfatiza que a continuidade do ensino não era uma possibilidade para todos.
“Em 2018, a USP abre as cotas para a graduação, mas as pessoas não conseguiam se adequar, não se viam representadas fisicamente e simbolicamente na pós-graduação. É como se o programa de pós-graduação dissesse: ‘até a graduação, vocês podem ficar’. Não havia esse vínculo de continuidade.”
Isso se refletia no próprio corpo editorial da revista, composto apenas por pessoas brancas. A ausência de políticas públicas dificultava o aprofundamento no processo de formação de estudantes negros. Ao questionar essa estrutura, Nascimento afirma que a nova edição da revista discute como os currículos acadêmicos são baseados em padrões eurocêntricos dentro da arte. Para mudar essa narrativa, o periódico traz artigos com uma abordagem a partir de uma perspectiva negra, com autores majoritariamente pretos.
A publicação traz pesquisas sobre a estética e as práticas negras no teatro, na dança e no audiovisual. “Essa revista busca reunir esses artistas pesquisadores que pensam profundamente as práticas negras, que vem não só da universidade, mas também de outras matrizes de conhecimento, como os terreiros de candomblé, os quilombos, as escolas de samba e os grupos de movimento negro educador”, destaca Nascimento.
A Revista Aspas é uma publicação com classificação A1 — classificação mais alta — no Qualis, lista de ranqueamento de periódicos feita pela Capes para avaliar programas de pós-graduação. A edição 13.1 já está disponível para leitura no portal de revistas da USP.