Participantes reunidos na Batalha da USP para expressar suas ideias em melodias e rimas, dando visibilidade para a arte periférica - Foto: Reprodução/Batalha da USP

Movimento estudantil reforça arte periférica em batalhas de poesia pelos campi da USP

Em parceria com o Circuito Universitário de Cultura e Arte (Cuca), o projeto busca ampliar o senso de pertencimento dos estudantes à Universidade, por meio da cultura dos slams e do hip hop

 29/03/2023 - Publicado há 2 anos

Texto: Camilly Rosaboni
Arte: Carolina Borin Garcia

Estudantes universitários de norte a sul do Brasil desenvolveram o movimento Bloco na Rua, com o objetivo de transformar o País por meio da educação. Entre as atividades, está a organização do Slam Marginal e da Batalha da USP, competições de poesia abertas ao público. A próxima edição do Slam Marginal vai ocorrer no dia 5 de abril, a partir das 17h30, na Escola de Enfermagem (EE) da USP. Para participar, basta comparecer ao local com antecedência e se inscrever na hora do evento. 

“Não nos conformamos com a desigualdade e a injustiça, e acreditamos que o nosso País possui enorme potencial para garantir a felicidade plena de seu povo, mas para isso precisamos construir o Brasil com as nossas próprias mãos”, afirma Bruno Santos, estudante de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e um dos organizadores do Slam Marginal.

De acordo com o organizador, o principal objetivo do projeto é apresentar e fortalecer a cultura hip hop e periférica entre a comunidade acadêmica. “É uma forma de conectar os alunos aos movimentos de resistência e fazer com que seja uma luta construída de forma coletiva, tendo em vista a defesa de pautas importantes como a ampliação dos espaços estudantis e as políticas de permanência”, conta Santos.

Bruno Santos - Foto: Arquivo Pessoal

Quinta edição da Batalha da USP na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP - Fotos: Batalha da USP

Trajetórias no slam

Os sujeitos periféricos precisaram de muita rima e suor para serem considerados escritores como quaisquer outros autores nacionais, como mostra o artigo Slams – Letramentos Literários de Reexistência ao/no Mundo Contemporâneo, de Cynthia Agra de Brito Neves, pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A pesquisa elenca a dificuldade em se obter recursos e espaço na mídia para apresentar os slams.

Inicialmente, a expressão slam surgiu nos Estados Unidos em 1984, por Marc Kelly Smith, buscando popularizar a poesia ao público externo aos ambientes acadêmicos. Não demorou muito para que a competição de poesia falada chegasse aos territórios brasileiros.

Roberta Estrela D’alva - Foto: Facebook/Slam da Guilhermina
Roberta Estrela D’alva - Foto: Facebook/Slam da Guilhermina

Em 2008, Roberta Estrela D’alva, atual apresentadora do programa Manos e Minas, na TV Cultura, deu início à prática no Brasil, com o Zap! Slam, no bairro da Pompeia, na zona oeste de São Paulo. A sigla ZAP significa Zona Autônoma da Palavra.

Em seu livro Teatro Hip-hop: Performance Poética do Ator-mc, Roberta fala sobre a consolidação do slam: “ele se tornou, além de um acontecimento poético, um movimento social, cultural e artístico que se expande progressivamente e é celebrado em comunidades em todo o mundo”. O livro está disponível neste link.

Quatro anos depois, em 2012, o ator, poeta e produtor musical Emerson Alcalde se inspirou no trabalho de Roberta e criou um slam em seu próprio bairro: o Slam da Guilhermina, no bairro de Guilhermina-Esperança, na zona leste de São Paulo.

Em 2014, Alcalde foi vice-campeão na Copa do Mundo de Poesia Slam, em Paris, na França,  com a poesia França ou Eu: o menino, a puta, a travesti, escrita especialmente para a competição parisiense. O poeta, emocionado, descreveu o momento como um “desejo antigo de esfregar na cara do velho mundo toda a exploração e humilhação que nos fizeram no passado”, para a Associação de Arte e Cultura Periferia Invisível.

Ainda em 2014, Alcalde criou o Slam Interescolar, competição de poesia entre escolas públicas de São Paulo, que é uma extensão do Slam da Guilhermina. Em 2021, esse projeto ganhou o Prêmio Jabuti em Inovação.

Bloco na Rua

Criado recentemente, em 2023, o movimento Bloco na Rua é realizado em parceria com o Circuito Universitário de Cultura e Arte (Cuca), da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo, e com distintos coletivos universitários e regionais, sobretudo dos campi da USP na Cidade Universitária, EACH, Faculdade de Direito (FD) e do Quadrilátero da Saúde (que reúne a Escola de Enfermagem/EE, a Faculdade de Medicina/FM e a Faculdade de Saúde Pública/FSP).

“Nós acreditamos que podemos ampliar o senso de pertencimento dos estudantes ao território e da população aos muitos campi da Universidade por meio da cultura”, afirma Santos. “Lutaremos para que os slams e batalhas se popularizem e criem raízes na Universidade, conectando os mais diferentes públicos”, complementa.

Programação

Quinzenalmente, o Bloco na Rua realiza edições do Slam Marginal e da Batalha da USP, competições de poesia. O projeto foi pensado para ocorrer durante todo o ano de 2023.

Batalha da USP ocorre sempre na EACH, às 20 horas. As próximas edições serão nos dias 11 e 25 de abril. Os encontros do Slam Marginal ocorrem a partir das 17h30, nas seguintes datas:

  • 5/4 – Escola de Enfermagem (Quadrilátero da Saúde)
  • 19/4 – Faculdade de Direito (São Francisco) 
  • 3/5 – EACH 

Para “batalhar” no Slam Marginal, alguns artistas são convidados previamente, mas os organizadores mantêm abertas algumas vagas para que o público local tenha a possibilidade de se inscrever na hora do evento e recitar seus textos.

Mais informações: @mov.bloconarua @batalhadausp

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