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Livro apresenta trajetória de reabilitação de pessoas surdas e deficientes auditivas
Obra de autoria de professor da Faculdade de Medicina da USP marca os 40 anos de tratamento da surdez na unidade, além de conscientizar sobre a deficiência
Livro apresenta a evolução de procedimentos que podem auxiliar pessoas surdas e deficientes auditivas em sua reabilitação - Imagem: Freepik
Livro apresenta a evolução de procedimentos que podem auxiliar pessoas surdas e deficientes auditivas em sua reabilitação - Imagem: Freepik
O livro Revolucionando a Audição: 40 anos de Tratamento da Surdez pelo HCFMUSP – comemorando a oportunidade de ouvir apresenta a evolução de procedimentos que podem auxiliar pessoas surdas e deficientes auditivas em sua reabilitação. A obra foi escrita pelo médico e cientista Ricardo Ferreira Bento, professor de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina (FM) da USP e integrante da Comissão Global Lancet para Perda Auditiva da Organização Mundial da Saúde (OMS), e teve seu lançamento em setembro, o mês da visibilidade surda. A produção está disponível neste link.
A proposta do livro é conscientizar os leitores sobre a deficiência em si, mas também trazer experiências individuais e incentivar a inclusão dos pacientes na sociedade. “Cada pessoa surda tem sua própria história e desafios únicos. Todos precisam reconhecer e respeitar essa diversidade”, diz Bento.
Além disso, a produção resgata a trajetória dos 40 anos de tratamento da surdez no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. A obra reúne 18 depoimentos de pacientes que tiveram bons resultados em tratamentos realizados pelos profissionais de saúde ligados à Disciplina de Otorrinolaringologia da FM.
Entre os procedimentos desenvolvidos no HC, estão: o uso do aparelho auditivo convencional, que funciona como um amplificador de som a partir de uma memória auditiva prévia; e a cirurgia de implante coclear, que propicia a audição para pacientes desde grau severo a profundo de surdez. De acordo com Bento, o grupo do HC é responsável pelo desenvolvimento do primeiro implante coclear nacional, pensado principalmente pela dificuldade em importar a tecnologia ao País.
“O livro mostra quais foram os equipamentos que nós desenvolvemos em uma linha de pesquisa gigante, em que pudemos atender mais de 10 mil pessoas no HC com deficiência auditiva, além de auxiliá-las em seu processo de inclusão na sociedade”, orgulha-se Bento.
Ricardo Ferreira Bento - Foto: Arquivo Pessoal
Transformando vidas
“Nós pudemos aprender, nesses 40 anos, que sempre é possível fazer algo pela pessoa com deficiência”, observa Bento. “Aprendemos, principalmente, que temos que ter muito carinho pelo paciente e contar com a dedicação da equipe e da família”, complementa.
Pedro Ouriques Lemos, mais conhecido como Pedrinho, realizou a ativação do dispositivo coclear no HC com 1 ano e 2 meses. Com o tratamento, ele conseguiu estudar, formar frases e até tocar violão. “O Pedro não vive sem o aparelho, não dá para imaginar ele sem. Já faz parte dele. Ele diz que quer ouvir, conversar, acorda pela manhã, coloca o aparelho e canta feliz ouvindo os sons”, explica Rose Ouriques, mãe de Pedrinho, que hoje está com 10 anos.
João Pedro Turnes colocou o implante com 2 anos e atualmente tem 17 anos de idade. Para ele, o tratamento foi essencial, pois permitiu que o simples ato de escutar fosse parte de sua rotina. “O implante coclear foi um divisor de águas na minha vida. Por meio dos aparelhos, tenho uma comunicação verbal praticamente normal”, diz.
Pedro Ouriques Lemos, mais conhecido como Pedrinho - Foto: Arquivo Pessoal
João Pedro Turnes - Foto: Arquivo Pessoal
Tanto Pedrinho como João Pedro estão entre os relatos de vida que aparecem no livro do professor Bento. “Não tenho nenhuma dúvida de que esse livro vai ajudar muita gente. A informação e compreensão da realidade dos surdos que esse livro proporciona podem ser um divisor de águas para a sociedade, como o implante coclear foi na minha vida”, afirma João Pedro.
Transformando vidas
A data de publicação foi escolhida especialmente para integrar o mês da diversidade surda, conhecido como Setembro Azul. O período é dedicado a conscientizar sobre o impacto da surdez e a importância das medidas preventivas, além de dar visibilidade às pessoas com algum grau de perda auditiva. Porém, trata-se de iniciativas que devem extrapolar o mês, já que os direitos da comunidade surda devem se estender ao longo do ano, por toda a sociedade.
Apesar das facilidades ocasionadas pelo uso do implante, João Pedro lembra que as barreiras sociais ainda dificultam o processo. “O uso do dispositivo foi fundamental, porém não quer dizer que seja fácil ser uma criança deficiente neste país. Mesmo com todas as novas políticas de integração e inserção da pessoa que tem alguma deficiência, na prática, ainda é bem complexo”, lamenta.
João Pedro conta que a adaptação não se ateve somente ao dispositivo coclear, mas também à dinâmica de sua família e do universo escolar. “Os pais precisam ter muita determinação para ajudar seus filhos com deficiência, principalmente no meu caso, que envolvia múltiplas”, afirma ele. “Eu tive que mudar de escola porque a sala de aula era em um andar que não tinha elevador e não dava para chegar de andador. Em outra unidade, eu ficava brincando sozinho”, relembra.
Atualmente, João Pedro almeja estudar medicina, para poder auxiliar outras pessoas com deficiência a viverem com dignidade. “Eu quero retribuir o quanto as pessoas já fizeram por mim e à grande rede de apoio até este momento em minha vida”, afirma. “A medicina promoverá a autossatisfação e a autossuperação dos estigmas sociais quanto à pessoa com deficiência”, complementa.
*Estagiária sob supervisão de Tabita Said. Com informações da Fragata Comunicação
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
Mais informações: doroteia@fragatacomunicacao.com.br
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