Foto: Reprodução/Freepik

USP lança programa que estimula a diversidade entre futuros profissionais da área de inteligência artificial

Em fase piloto há cerca de um ano, iniciativa do C4AI será apresentada oficialmente dia 19 de outubro; bolsas de iniciação científica já são oferecidas para estudantes vindos de grupos sub-representados atuarem em diferentes ramos

 17/10/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 19/10/2022 às 15:36

Texto: Redação

Arte: Adrielly Kilryann e Rebeca Fonseca

A diversidade e a inclusão são pautas presentes e necessárias em nossas vidas. Em meio a um mundo que avança em ritmo acelerado, a ocupação de espaços importantes por minorias e pessoas menos privilegiadas tem se tornado cada vez mais fundamental. Segundo pesquisa realizada em 2021 pela Pulses, em parceria com a Nohs Somos, as minorias não chegam a 10% do quadro dos trabalhadores nas empresas. No cenário da inteligência artificial, a situação é semelhante. Pessoas pretas, LGBTQIA+, com deficiência (PCDs) e mulheres permanecem sendo exceção neste ambiente. Como forma de estimular a mudança desse quadro, o Centro de Inteligência Artificial (C4AI) da USP, por meio de seu Comitê de Inclusão e Diversidade (CID), lançará oficialmente dia 19 de outubro uma iniciativa que oferece bolsas de iniciação científica para grupos sub-representados.

Batizado de Programa de Inclusão e Diversidade (PID), o projeto – que atualmente passa por uma fase piloto – busca reduzir, na prática, a desigualdade entre os futuros profissionais da área de inteligência artificial no Brasil. A ideia é incentivar a formação de pessoas pertencentes a grupos sub-representados oferecendo oportunidades específicas para esse público. “Nossa proposta é que tenham mais mulheres, mais pessoas negras, pessoas do grupo LGBTQIA+ e até mesmo pessoas mais velhas ingressando no universo científico. Além disso, todas as pessoas que foram selecionadas possuíam renda familiar baixa”, explica Valdinei Freire, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, um dos idealizadores do PID e integrante do C4AI.

Valdinei Freire - Foto: EACH/USP

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Renata Wassermann - Foto: Arquivo pessoal

O PID, que já oferece bolsas para estudantes de graduação atuarem nos diferentes campi da Universidade, não tem como foco apenas alunos da área de Computação. Das 12 vagas oferecidas até o momento, foram selecionados estudantes de Letras, Ciências Sociais, História, Direito, Fonoaudiologia, Veterinária, Astronomia, Física e Estatística, sendo que todos tiveram seus segmentos de atuação direcionados para aplicações em IA, que é pensada como uma área multidisciplinar que consegue abarcar diferentes vertentes, como explica a professora do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Renata Wassermann, umas das criadoras da iniciativa: “Dentro do nosso Centro, temos grupos trabalhando com aplicações na medicina, na agricultura, no direito e com o impacto da inteligência artificial no trabalho. A multidisciplinaridade já é algo presente no Centro como um todo. A IA é o nosso fio condutor com as demais áreas do conhecimento”, reitera.

A perspectiva é de que, com o passar do tempo, o fomento à capacitação de minorias dentro da área de IA seja ainda maior, pois ainda há poucos grupos sub-representados dentro do universo da computação. Por isso, o PID, que foi criado há cerca de um ano e contou nesse período com a participação de duas alunas de graduação, um estudante de doutorado e nove docentes da USP, busca lançar programas que fomentem a representatividade, o poder de inclusão e a sensação de pertencimento para todos.

O PID entra agora em uma etapa de profissionalização e, para ampliar as oportunidades para mais estudantes, principalmente de áreas ainda não contempladas, está aberto a firmar parcerias com empresas interessadas em investir em inclusão por meio da concessão de bolsas e demais contribuições dentro de seus diferentes segmentos, valorizando a geração de conhecimento e a formação de profissionais vindos de diferentes grupos sociais.

“As empresas buscam diversidade. É do interesse das instituições que a sua equipe seja diversa, com pessoas dos mais variados grupos. No entanto, ainda que elas tenham esse desejo, faltam pessoas na área, já que muitas foram excluídas dessas oportunidades de formação. Sendo assim, ao firmarem uma parceria com o PID, as empresas podem esperar que dentro de um ou dois anos, ao entrarem no mercado de trabalho muito bem qualificados na área de Inteligência Artificial, os estudantes possam ser contratados pelas companhias”, afirma Renata.

Diversidade logo cedo

Iniciar as ações de fomento à diversidade por meio de bolsas de iniciação científica foi uma escolha pensada para promover, ainda na graduação, oportunidades para que grupos sub-representados tivessem acesso ao universo da IA logo em sua primeira etapa da vida acadêmica. Caso o PID tivesse seu ponto de partida junto a alunos de doutorado, por exemplo, a margem de inclusão seria muito menor, pois atingiria um público que já foi excluído no passado.

Para o bolsista do C4AI e aluno do curso de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, Washington Lopes, a iniciativa é fundamental para viabilizar a entrada de minorias na área de IA, além de contribuir para a permanência estudantil a partir das bolsas oferecidas: “Estabelecer editais que foquem na captação de grupos sub-representados é importante e necessário, pois só conseguimos mudar a realidade e retirar os vieses conscientes ou inconscientes que excluem esse público com ações focadas em sua inclusão”, conta o estudante.

Ao ser selecionado, Washington teve acesso a aulas e conteúdos introdutórios sobre IA e participou de um projeto em conjunto com outros bolsistas do PID na área de Processamento de Linguagem Natural (PLN). O objetivo do trabalho foi verificar a viabilidade de treinamento de uma rede neural para realizar a tradução de textos que estejam dentro da norma padrão para textos em linguagem neutra. Em uma segunda etapa, o estudante passou a fazer pesquisa em sua área de formação, mais especificamente sobre o Núcleo Galáctico Ativo (AGN, Active Galactic Nucleus). O foco de seu trabalho é analisar imagens interferométricas utilizando um algoritmo chamado Cross-Entropy, a fim de identificar e caracterizar componentes do AGN. “A iniciação científica tem sido muito importante para que eu possa entender os primeiros passos de como se faz pesquisa e de como é ser um pesquisador. É a oportunidade que temos de experimentar, durante a graduação, as diversas possibilidades de linhas de pesquisa que podem ser de nosso interesse e, com isso, escolher de forma mais assertiva em qual área iremos seguir durante a pós-graduação”, ressalta.

Washington estuda Astronomia na USP - Foto: Janiffer Santos

Democratização da ciência

Mariluce cursa Engenharia Elétrica na Poli - Foto: Janiffer Santos

Quem também foi selecionada para receber uma bolsa de iniciação científica do C4AI foi a aluna do curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica (Poli) da USP, Mariluce Pereira de Jesus. Ela conta que sua entrada no programa foi o pontapé que ela precisava para ingressar no mundo da IA, algo que sempre foi o seu objetivo. Segundo a jovem, a iniciativa permitiu a democratização dos espaços, algo que a impacta como indivíduo, mas também traz benefícios para toda a população.

“Até então, eu não sabia como dar o primeiro passo na área. Muitas vezes, estamos dentro da USP, em particular dentro da área de engenharia e, ao mesmo tempo em que espaços como esse estão tão perto, também estão longe. A iniciativa do C4AI de oferecer bolsas estudantis para grupos sub-representados foi algo muito grande. Permitiu que eu entrasse na área e realizasse meu sonho de desenvolver um projeto dentro da área de inteligência artificial, que é algo que quero trabalhar no futuro. Essa democratização do acesso tornou o espaço do C4AI mais inclusivo e fez com que minorias tivessem acesso a ele. Isso impacta em via dupla, porque faz bem ao nosso grupo e também para a sociedade”, celebra a estudante, que está trabalhando em seu projeto no desenvolvimento de uma abordagem para o diagnóstico de cardiopatias utilizando diferentes métodos e técnicas computacionais.

Segundo Mariluce, é a partir de iniciativas como a do C4AI que novas visões podem ser abordadas para que mais problemas do mundo real sejam resolvidos: “Ao entrarmos nesse mundo, nós trazemos a nossa visão, os nossos problemas, estamos no lugar de fala para trazer representatividade e buscar soluções para os problemas dos nossos grupos. Ampliar nossa influência perante a sociedade é fundamental. Principalmente para o engenheiro, uma profissão que eu creio ter a necessidade de desempenhar um papel humano. Não há avanço sem a evolução da ciência, e ter acesso a esse mundo é algo que faz toda a diferença para mim”, finaliza.

Quer colaborar com o PID? Entre em contato com os responsáveis pela iniciativa acessando o site do Comitê de Inclusão e Diversidade em: https://c4ai.inova.usp.br/cid/#contact-2. Aberto ao público, o evento de lançamento oficial do programa será realizado dia 19 de outubro, às 16 horas, juntamente com a comemoração do aniversário de dois anos do C4AI, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e IBM.

A festividade, que será transmitida ao vivo pelo canal do C4AI no Youtube, ocorrerá na sede do centro, localizada no prédio do Inova USP, em São Paulo.

Sobre o C4AI

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O Centro de Inteligência Artificial (C4AI) da USP, patrocinado pela IBM e Fapesp, está comprometido com a pesquisa de ponta em Inteligência Artificial (IA), explorando questões fundamentais e pesquisa aplicada. O C4AI também apoia estudos sobre o impacto social e econômico da IA e desenvolve atividades voltadas à transferência de tecnologia e difusão de conhecimento, buscando formas de melhorar o bem-estar humano e aumentar a diversidade e a inclusão.

O C4AI foi criado em 2020 por meio de um grande edital lançado pela IBM e Fapesp. A instituição anfitriã é a USP, operando com as instituições parceiras ITA, PUC-SP e FEI.

Por Fabrício Santos e Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação do C4AI/USP

Mais informações: na Assessoria de Comunicação do C4AI/USP, e-mail contato@fontescomunicacaocientifica.com ou pelo (16) 99727-2257 – Whatsapp exclusivo para atendimento à imprensa, com Henrique Fontes


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