Uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP mostrou que a prática de atividade física não beneficia somente as habilidades motoras. O ensino de danças, jogos e esportes combinados com elementos históricos e culturais possibilita que os alunos se desenvolvam também nos campos afetivo, social e cognitivo.
Escrito pelos professores da EEFE Andrea Michele Freudenheim e Sergio Roberto Silveira, o artigo Interação entre universidade pública e comunidade carente no Brasil: um relato de experiência analisou os resultados da disciplina prática Educação Física na Segunda Infância, parte do currículo do curso de Educação Física da USP. Segundo os pesquisadores, a disciplina, que faz uma imersão em comunidades socialmente vulneráveis, potencializou o aprendizado tanto para os profissionais quanto para as crianças, aproximando educandos de futuros educadores.
Educação Física na Segunda Infância
Com o intuito de tornar a formação dos graduandos mais completa, o bacharelado de Educação Física da USP oferece disciplinas focadas em diferentes populações, sendo uma delas a segunda infância. Após um semestre de aprendizado teórico, os estudantes ministram aulas práticas sob a orientação da professora Andrea Michele Freudenheim, uma das autoras do estudo.
O ensino prático acontece no CEU Jaguaré, com crianças em situação de vulnerabilidade social, moradoras da comunidade Vila Nova Jaguaré, que participam da Associação Beneficente Assistencial Aquarela. A colaboração entre a ONG e a EEFE existe desde 2014 e, por meio dela, os universitários têm acesso a um laboratório didático no qual podem aprender a planejar, implementar e avaliar programas de educação física para crianças.
A pesquisa acompanhou a implementação de dois programas elaborados pelos estudantes durante o ensino da disciplina em 2019, denominados “Taco Bellts” e “Hip-Hop e Capoeira”. Ambos desenvolveram atividades que trabalharam o domínio motor, cognitivo e afetivo-social das crianças. Cada programa consistiu em 12 sessões, com duas avaliações para medir o alcance dos objetivos, uma na primeira sessão e outra na última.
Jogos, brincadeiras e danças de diferentes culturas
O Programa Taco Bellts abordou jogos infantis de diversos países, como o dodgeball, do Canadá, o base 4, dos Estados Unidos, o pega-pega flag, da Austrália, e o taco/bets, do Brasil. Dentre os propósitos constava estimular as crianças participantes a conhecer novas culturas, aperfeiçoar habilidades motoras básicas e a cooperar entre si durante as atividades. Ao todo, 11 crianças participaram do programa, contudo somente seis, dois meninos e quatro meninas de 11 anos, preencheram o critério de presença mínima e fizeram as avaliações inicial e final.
Já o Programa Hip-Hop e Capoeira teve como foco a dança. Segundo os graduandos, a modalidade foi escolhida por proporcionar diversos tipos de aprendizado, o que permitiu ensinar às crianças a história e os movimentos dos ritmos e motivá-las a reforçarem os vínculos de amizade com os colegas. Sete das 11 crianças que participaram do programa, três meninos e quatro meninas com idades entre 10 e 12 anos, tiveram presença mínima e realizaram as avaliações.
As educadoras da Associação Aquarela também fizeram parte do processo. Os programas e os planos de cada sessão foram compartilhados com elas, além de terem sido convidadas para assistir e registrar as sessões. A ideia era que as atividades propostas pelos discentes continuassem a ser desenvolvidas com as crianças na Associação Aquarela, mesmo com o fim das sessões-laboratório.
Transformação além dos muros da universidade
As avaliações mostraram que nos dois programas as crianças tiveram evolução nos domínios motor, cognitivo e afetivo social, cumprindo com os objetivos de formação da Associação Aquarela e do CEU Jaguaré. Dessa maneira, verificou-se que elas puderam se desenvolver de acordo com suas necessidades e condições.
Para os pesquisadores, o ensino realizado pelo laboratório didático possibilita que crianças e adolescentes em vulnerabilidade social tenham acesso a uma educação consciente, capaz de auxiliar sua formação enquanto cidadãos, para que consigam lutar e exercer seus direitos, o que acaba impactando também na diminuição da desigualdade social.
Além disso, a experiência também beneficiou os graduandos. Segundo o relato dos discentes, ao colocar em prática o conhecimento teórico ensinado na Universidade, foi possível adquirir mais segurança para exercer a profissão no futuro. A vivência com o projeto permitiu que aprendessem formas de se comunicar e interagir com as crianças, potencializando sua formação e cumprindo com a missão da EEFE de oferecer ensino de qualidade, interagindo com a sociedade.
O artigo Interação entre universidade pública e comunidade carente no Brasil: um relato de experiência, de autoria dos professores Andrea Michele Freudenheim e dr. Sergio Roberto Silveira, foi publicado pela Revista de Estudios Brasileños e pode ser acessado na íntegra por meio deste link.
Com informações da Seção de Relações Institucionais e Comunicação: comunicaeefe@usp.br