O ambulatório recebe usuários que busca espontaneamente pelo serviço de saúde. “Geralmente, é a família que procura o ambulatório. Hoje, já existe muita coisa na internet sobre crianças e adolescentes trans, como livros e depoimentos. Nas buscas, essas famílias acabam ouvindo sobre o ambulatório. Mas a maior parte delas nem sabe dessa possibilidade de uma vivência trans”, comenta o professor.
Quem entra em contato, por e-mail ou telefone, é orientado a preencher um formulário de cadastro e aguardar ser chamado para a triagem. Alexandre diz que, atualmente, o tempo de espera é bem curto, devido a uma parceria do ambulatório com a Prefeitura de São Paulo. Adolescentes mais velhos, que perderam a possibilidade de bloqueio hormonal, são encaminhados para a rede básica. Lá, terão acesso aos acompanhamentos que precisarem, como, por exemplo, em saúde mental, até que possam iniciar a hormonização a partir dos 16 anos. Com essa realocação, o ambulatório consegue priorizar demandas restritas à sua atuação.
Após a triagem, os jovens passam por uma extensa avaliação psiquiátrica. Durante um dia inteiro, as crianças ou adolescentes e as famílias conhecem o ambulatório, recebem orientação e são encaminhados para um dos três grandes setores: infância, adolescência ou púberes.
O professor destaca a categoria dos “púberes” como uma criação do AMTIGOS, referente à fase de transição da infância para a adolescência. Como muitos dos pacientes hormonalmente bloqueados não passaram pelas mudanças corporais dessa fase transitória, alguns dos responsáveis tinham dificuldade de acompanhar as mudanças psicossociais que também ocorrem nessa fase da vida, por ainda vê-los como crianças.
“O que está bloqueado é o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários. A curiosidade sexual, o entendimento e a busca sobre sexualidade continuam, porque eles vivem em meios sociais de adolescentes. Hoje, há um fluxo muito legal de crianças para púberes e de púberes para adolescentes. Assim, cobrimos todas as áreas do desenvolvimento inicial de um ser humano, ligadas à questão da identidade de gênero. É um trabalho amplo: inclui fonoaudiologia, serviço social, psicologia, psiquiatria, pediatria, nutrição, educação física e outras”, diz Alexandre.