Em meio às exigências acadêmicas, Michelle ainda precisou cuidar das demandas familiares. Ela iniciou seu doutorado grávida de oito meses e distante do suporte de seus familiares do Rio de Janeiro. “Eu precisava trocar com o meu marido para nós deixarmos o bebê na escola. Era uma dinâmica difícil e, por isso, a bolsa é importante. Ela nos ajuda a ter uma estrutura familiar mínima possível”, conta Michelle, ressaltando a flexibilidade de horários que a prática de pesquisa permite ter.
Após terminar seu doutorado, Michelle teve outra filha e, após seis anos longe das pesquisas acadêmicas, comenta sobre a dificuldade das mulheres atrelarem os dois momentos de dedicação. “Nós temos menos mulheres em cargos mais altos dentro da universidade. Isso está atrelado com o trabalho reprodutivo que a mulher desempenha”, lamenta a pesquisadora.
O tema de pós-doutorado escolhido por Michelle advém de uma análise pessoal de poucos estudos na área de fotoproteção para peles negras. A pesquisadora ressalta a importância dessa discussão uma vez que o Brasil é um país com muita incidência solar, cuja população é majoritariamente negra. “O Sol tem um impacto grande na saúde da população, e nós não temos dados robustos para dizer quais os malefícios que a radiação provoca nesse grupo que é a maioria da população brasileira”, explica Michelle.
A pesquisadora acredita que seu estudo possa respaldar políticas públicas de acesso ao protetor solar. “Hoje em dia, ele ainda é um produto muito caro para a maioria da população, então poderíamos demandar que protetores solares também fossem distribuídos em UBSs ou pontos de saúde. Então não é só uma questão estética”, afirma Michelle.
Como pesquisadora, mulher negra, mãe de duas crianças, sendo que uma delas foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista, Michelle destaca a importância de se ter diversidade na academia. “As pessoas que fazem ciência são pessoas. Quem faz pesquisa traz sua história de vida. Então nós não termos muitos resultados sobre a pele negra traz a ideia de que quem está pesquisando não acha isso importante. A PRIP vem para trazer a diversidade que nós encontramos na sociedade”, afirma ela.