A torcida do Corinthians, Gaviões da Fiel, numa das partidas do time – Fotomontagem sobre fotos de Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians ©

USP Filarmônica grava versão inédita do "Hino do Corinthians"

Orquestração é do professor da USP Rubens Russomanno Ricciardi, neto de um dos autores da obra

27/10/2020
Por Guilherme Gama

Assista no link abaixo ao Hino do Corinthians, de Edmundo Russomanno e Lauro D’Avila, interpretado pela USP Filarmônica.

O professor Rubens Russomanno Ricciardi, do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, uniu suas pesquisas sobre a história musical do Brasil à sua própria história familiar. Dessa união surgiu um vídeo com uma nova versão do Hino do Corinthians, interpretado pela USP Filarmônica, orquestra de alunos de graduação do Departamento de Música da FFCLRP, regida por Ricciardi. O vídeo, disponível no canal da orquestra no Youtube, apresenta o hino com orquestração feita por Ricciardi em homenagem ao seu avô, Edmundo Russomanno, recentemente reconhecido como um dos autores da obra. 

Maestro Rubens Russomanno Ricciardi:  “Somos uma orquestra acadêmica e toda a programação é pública, gratuita e acessível” - Foto André Estevão

O professor Rubens Russomanno Ricciardi, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, regente da USP Filarmônica  – Foto: André Estevão

“É um caso raro em que compositor e arranjador têm o mesmo DNA”, afirma Ricciardi. Essa história familiar começou com Adelino Ricciardi, tio de Ricciardi, que foi editor da Revista Corinthians nas décadas de 1940 e 1950, além de articulador de vários projetos ligados ao time, como a primeira proposta de construção de um estádio, em 1953, e de um hino, um ano antes. Para a composição, Adelino juntou-se ao seu colega, o radialista Lauro D’Ávila, e incluiu na letra slogans de sucesso editados pela revista. Daí saíram os versos “Campeão dos campeões” e “Do Brasil, o clube mais brasileiro”. Mas, no momento de escrever a música na partitura, Adelino chamou o compositor Edmundo Russomano para a tarefa, explica Ricciardi. 

Banda de Atibaia em 1905: o compositor Edmundo Russomanno é o terceiro sentado, da esquerda para a direita – Foto: Arquivo familiar de Rubens Ricciardi via Wikimedia Commons (CC BY 3.0)

Por muito tempo, o reconhecimento da autoria de Russomanno não era público. O Memorial do Corinthians foi peça-chave na pesquisa histórica responsável pela atribuição da autoria ao compositor. Fernando Wanner, pesquisador do Corinthians e curador do Memorial, conta que foi disponibilizado o acervo da Revista Corinthians para elucidar a pesquisa, trazendo a verdade sobre “o mais brilhante hino desportivo do País”, como diz Wanner. De acordo com ele, “a recuperação de Edmundo Russomanno é de gigantesca importância em todos os sentidos e deixa um legado que honra o passado e projeta um brilhante futuro”. 

Por causa da quarentena, a produção do vídeo aconteceu com a junção das partes individuais gravadas por cada músico. Vitor Zafer, compositor e ex-aluno da FFCLRP, reuniu todas as gravações em estúdio e montou o áudio da orquestra. Além dos alunos da USP Filarmônica e de professores da FFCLRP, participam da produção solistas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), da Orquestra de Guarulhos, da Filarmônica de Goiás, do Conservatório de Tatuí e de músicos convidados da Albânia, Alemanha, Inglaterra, Romênia, Suíça e Venezuela.

Mais do que recuperar a trajetória familiar de Ricciardi, o vídeo retoma a história do Corinthians, destaca sua organização política na defesa da democracia no Brasil e expõe o protagonismo da torcida corintiana, a Gaviões da Fiel. Por esses motivos, o vídeo foi dedicado à memória de Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira (1954-2011), mais conhecido como Sócrates ou Magrão, tendo em vista sua liderança no movimento que ficou conhecido como Democracia Corintiana, no início dos anos 1980. Jogador excepcional, que integrou a Seleção brasileira masculina nas Copas do Mundo de Futebol de 1982 e 1986, Sócrates era também médico formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Outros jogadores são homenageados no vídeo, como Vladimir, o atleta que mais vezes vestiu a camisa do Corinthians. Também constam, ao final, as fotos dos maiores artilheiros do time, como Claudio, Baltazar, Teleco e Luizinho, além do goleiro Gilmar e do meia-esquerda Roberto Rivellino, “ídolo de infância” de Ricciardi e, segundo o professor, “o maior jogador do Corinthians em todos os tempos”. 

Sócrates: um dos maiores jogadores de futebol da história do Corinthians e do Brasil era também médico formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP – Foto: Irmo Celso

“É um trabalho, de certa forma, histórico-musicológico”, considera Ricciardi. “Os hinos de futebol são muito importantes para o Brasil, o País dos hinos de futebol. Na Idade Média os hinos eram religiosos, na época da Revolução Francesa, passaram a ser políticos e, no resto do mundo, começaram a ficar fascistas no século 20. Mas, no Brasil, inaugurou-se essa nova tradição: os hinos de futebol.” 

O pesquisador Wanner afirma que o trabalho da USP Filarmônica constitui uma contribuição histórica e artística para o Corinthians e para o futebol brasileiro. “O resultado da produção ficou épico e imortal, digno da grandeza do Corinthians”, afirma. 

No final do vídeo, são exibidas cenas do ato antifascista organizado pela Gaviões da Fiel, na Avenida Paulista, em São Paulo, em 31 de maio deste ano. De acordo com Ricciardi, o Corinthians “não é um time com torcida, mas uma torcida com time”, e mais: uma torcida politizada, que naquele dia, com seu protesto, assumiu o protagonismo  político no Brasil. “A torcida antifascista do Corinthians é a vanguarda da política no Brasil. Ilustra a dimensão histórica do Corinthians”, completa.

Assista no vídeo acima à USP Filarmônica interpretando o Hino do Corinthians.

Manifestação da torcida do Corinthians contra o fascismo, realizada no dia 31 de maio passado na Avenida Paulista, em São Paulo – Foto: Rodrik Martins via Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0)


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