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Vista do pavilhão provisório construído na esplanada do Trianon, na avenida Paulista, para abrigar a 1ª Bienal, em 1951 - Reprodução do livro
Um evento paulistano que, há 70 anos, reúne artistas do mundo inteiro
Essa história é contada no livro Bienal de São Paulo desde 1951, que percorre os caminhos e descaminhos da arte
A história da arte brasileira e latino-americana da segunda metade do século 20 está integrada na história das Bienais de São Paulo. Há 70 anos, a Bienal de São Paulo abriu caminhos para reconhecer, incentivar e divulgar o trabalho dos artistas. Todo esse movimento da arte é apresentado no livro Bienal de São Paulo desde 1951. A organização é do crítico e curador Paulo Miyada, doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Com 424 páginas, ele reúne os textos e pesquisas de 33 autores, além de uma seleção de 200 imagens. A edição é da Fundação Bienal de São Paulo.
“Este livro foi gestado por ocasião de uma dupla efeméride: os 70 anos das Bienais e os 60 anos da Fundação Bienal de São Paulo, completados em 2021 e 2022, respectivamente”, explica Miyada na introdução da obra. “Momentos assim pedem exercícios de rememoração, sendo tentador resumir a dimensão da Bienal com compilação de números, estatísticas e nomes, ou então mobilizar esforços enciclopédicos de análise e síntese da trajetória cronológica da Bienal por meio de subdivisões em capítulos, categorias e recortes temáticos.” O organizador, no entanto, optou por outra narrativa, apresentando aspectos de uma Bienal, como ele próprio define, capaz de mobilizar sentimentos duradouros. “Autores e autoras de formação diversa foram convidados a realizar ensaios que mergulham em momentos específicos da história da Bienal, combinando livremente insumos de pesquisa com perspectivas críticas, reflexões conjecturais, fabulações, narrativas e detalhes anedóticos.”
“Um caleidoscópio que reflete aspectos da arte, da sociedade, da cidade, da vida de seu tempo”
O livro consegue registrar o passar do tempo entre as transformações da arte e da sociedade. “Os textos aderem a detalhes, invenções e conflitos, enquanto fazem escolhas ousadas sobre o que colocar em cena em cada momento”, observa Miyada. “Assim, elegendo e compartilhando especificidades das partes, aproximam-se de alguns dos motivos que fazem da Bienal um caleidoscópio que reflete aspectos da arte, da sociedade, da cidade e da vida de seu tempo.”
O texto que abre o livro, assinado por Abílio Guerra e Fausto Sombra, sugere um passeio pela Avenida Paulista de 1951, no Belvedere Trianon. “Trata-se de um instantâneo que nos relembra o que havia de modernizante e de anacrônico no tecido social e urbano daquele tempo, e do que havia de disruptivo e de provinciano na realização em São Paulo da primeira iniciativa do Hemisfério Sul inspirada na Bienal de Veneza”, aponta Miyada. “Em seguida, ainda tendo a 1ª Bienal como ponto focal, o jornalista Bruno Pinheiro se debruça sobre o que tornou possível a premiação da pintura de Heitor dos Prazeres, que a própria imprensa da época não soube contextualizar.”
Na história da Bienal de São Paulo, duas mulheres com papel fundamental são lembradas: Yolanda Penteado Matarazzo e Maria Martins. Em seu artigo, Veronica Stigger, crítica de arte e doutora em Ciências da Comunicação pela USP, faz essa homenagem. “Se Yolanda Penteado fazia questão de se manter à sombra, Maria Martins se colocava à sombra da sombra”, comenta. “A escultora interferiu diretamente nas tratativas para a vinda das obras para a 2ª Bienal. Enquanto Yolanda Penteado assumia de bom grado a função de public relations, Maria Martins se responsabilizava pelas relações internacionais.”
Discurso de Francisco Matarazzo Sobrinho na abertura da 1ª Bienal, 1951. À frente, Yolanda Penteado. Ao lado, Carmelita Leme Garcez, Darcy Vargas e Lucas Nogueira Garcez – Foto: Peter Scheier / Fundação Bienal de São Paulo
“Sessenta anos depois, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Fundação Bienal e o Museu de Arte Contemporânea da USP convivem no Parque do Ibirapuera”
No artigo A Bienal de São Paulo: entre o Museu e a Universidade, o leitor vai conhecer um capítulo importante da criação da Fundação Bienal de São Paulo, relacionada com uma ruptura com o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), que foi o responsável pelas seis primeiras edições da Bienal, entre 1951 e 1961. Os autores – Ana Gonçalves Magalhães, diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, e Gustavo Brognara, crítico de arte e mestre em Museologia pela USP – destacam que a organização das mostras internacionais foi uma iniciativa complexa e bastante ousada para o MAM paulista, mesmo que alinhada ao desejo de modernização da cidade de São Paulo. “O crescimento da Bienal consumiu os esforços e o orçamento do museu, além de ter desviado o interesse de Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo, mecenas da instituição. A nova forma de organização das mostras – uma fundação mantida e presidida por Ciccillo – surgiu amparada pela transferência das coleções iniciais do MAM para a Universidade de São Paulo, processo que culminou no estabelecimento do Museu de Arte Contemporânea da USP”, escrevem.
Segundo os autores, o MAC teve um papel importante, na figura do então diretor, Walter Zanini, atuando na reavaliação da Bienal como modelo de exposição internacional de arte contemporânea. “Em 1966, Zanini fez parte de uma comissão convocada por Matarazzo Sobrinho para repensar os modos de convite e seleção das delegações estrangeiras.”
Ana Magalhães e Gustavo Brognara assinalam: “Sessenta anos depois, o Museu de Arte Contemporânea da USP, a Fundação Bienal de São Paulo e o Museu de Arte Contemporânea da USP convivem no Parque Ibirapuera. Permanecem atrelados física e historicamente enquanto espaços de reflexão sobre arte moderna e contemporânea, sendo parte importante da composição do cenário artístico e museal em São Paulo.”
Bienal de São Paulo desde 1951, de Paulo Miyada (organização), Fundação Bienal de São Paulo, 424 páginas, R$ 100,00
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