Foto: Jorge Maruta/Jornal da USP

Quando o leitor abrir a Caixa, vai voltar ao tempo dos modernistas

É essa sensação que o projeto Caixa Modernista, de Jorge Schwartz, desperta. Em reedição da Editora da USP, reúne Di Cavalcanti, Tarsila, Anita e Brecheret num encontro único

 02/02/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 06/02/2023 as 9:50

Texto: Leila Kiyomura

Arte: Adrielly Kilryann

“Uma caixa encerra sempre um enigma. Abre-se a Caixa Modernista e o enigma inicial se desloca e se multiplica pelos objetos que ela contém. Como escolhê-los? Sabe-se que cada escolha supõe uma perda, mas também o ganho de novos sentidos, dados pela contiguidade dos objetos postos em circulação.”

Com essa orientação, o professor Jorge Schwartz leva o leitor a voltar no tempo ao abrir a Caixa Modernista, um projeto que alia criatividade e estética aos sonhos do Modernismo. Professor do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Schwartz apresenta a segunda edição da Caixa Modernista, lançada pela Editora da USP (Edusp). 

A Semana de 22 está nessa caixa ao alcance das mãos em pleno início de 2023. Em um evento conjunto da Edusp com a Livraria Megafauna, o lançamento da segunda edição da Caixa Modernista será neste sábado, dia 4, às 15 horas, no Edifício Copan, na Avenida Ipiranga, 200, loja 53. Contará com a apresentação de Jorge Schwartz, da professora Gênese Andrade, da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do professor Fabio Cypriano, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

A Caixa Modernista busca ser fiel ao caráter artístico multidisciplinar da consagrada Semana: inclui o programa e o catálogo da exposição, com capas de Di Cavalcanti, e o raro esboço datilografado do programa de Paulo Prado.”

Quando o leitor tiver nas mãos a Caixa Modernista, irá reviver a Semana de Arte Moderna na São Paulo de 1922. Vai acompanhar as reflexões de Mário de Andrade sobre Paulicea Desvairada e a arte de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. E, quando observar o catálogo da exposição com o desenho de Di Cavalcanti, há de respirar fundo diante do respeito e reverência que o artista merece.

Foto: Reprodução

O livro Pau Brasil, de Oswald de Andrade: "Primeiro esforço organizado para a libertação do verso brasileiro" - Foto: Reprodução

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Músicas relacionadas com a Semana de Arte Moderna estão acessíveis na Caixa através de um QR Code - Foto: Reprodução

É uma caixa dentro de outra. Jorge Schwartz criou, com o projeto, um objeto de arte. A ilustração colorida do desenhista e arquiteto espanhol Antonio Moya ilumina o fundo pardo da Caixa Modernista. Salta aos olhos. O leitor manipula a primeira caixa e então se depara com a segunda caixa, que tem na capa o mesmo desenho, porém em preto e pardo. Um objeto que desperta a curiosidade. O espectador passa um momento observando. Tudo em ordem e na medida. Os livros, os cartões-postais, os folhetos propiciam uma grande exposição. O impulso é ver todas as imagens espalhadas em uma mesa. Mas não. A sensação de admirar A Negra, 1923, de Tarsila do Amaral, em uma sequência de estudos, exige concentração. A Boba, 1915, de Anita Malfatti, e Cinco Moças de Guaratinguetá, de Di Cavalcanti, entre tantas outras pinturas e desenhos, precisam de tempo para amadurecer o olhar e os sentidos. Vale contemplar.

“A Caixa Modernista busca ser fiel ao caráter artístico multidisciplinar da consagrada Semana: inclui o programa e o catálogo da exposição, com capas de Di Cavalcanti, e o raro esboço datilografado do programa de Paulo Prado, um verdadeiro achado de Carlos Augusto Calil” , explica Jorge Schwartz. “ Foram incluídos, em edição fac-similar, dois livros seminais: Paulicea Desvairada (1922), de Mário de Andrade, que inaugura a poesia moderna no Brasil, e Pau Brasil (1925), de Oswald de Andrade,  ‘primeiro esforço organizado para a libertação do verso brasileiro’, nas palavras introdutórias de Paulo Prado. Outros livros fundamentais do período têm suas capas reproduzidas em cartões-postais.”

Vídeo: Tah Kim Chiang

No texto de apresentação do projeto, o professor Schwartz orienta o leitor sobre a importância de cada elemento que integra a Caixa Modernista. “Espero, com este museu portátil, oferecer a todos uma síntese caleidoscópica de nossas vanguardas históricas.”

A primeira edição da Caixa Modernista é de 2003, ou seja, duas décadas atrás. Não foram alterados os conteúdos, mas há pequenas modificações que ampliam qualitativamente o projeto.”

As mudanças feitas na segunda edição deixam esse “museu portátil” ainda mais interessante. “A primeira edição da Caixa Modernista é de 2003, ou seja, duas décadas atrás. Não foram alterados os conteúdos, mas há pequenas modificações que ampliam qualitativamente o projeto. Por exemplo, o exemplar de Pau Brasil é um fac-similar dedicado pelo Oswald ao Mário de Andrade, que traz ainda as anotações realizadas por este no volume. Na edição anterior estas notas não apareciam.”

Schwartz continua apontando as mudanças: “O belo e sofisticado catálogo da primeira exposição de Tarsila do Amaral, em Paris, em 1926, com poemas do Blaise Cendrars, traz como novidade a rara tradução de Guilherme de Almeida publicada em O Jornal do Rio de Janeiro, em 4 de julho de 1926, uma descoberta da professora e pesquisadora Gênese Andrade”.

O professor recorre também a uma ferramenta atual para o leitor. “Nesta reedição, o repertório musical ao redor do Modernismo, organizado por José Miguel Wisnik e Cacá Machado, está contemplado em QR Code em vez de CD, com uma seleção de dez músicas” , explica. 

Outra novidade nesta segunda edição é, segundo avalia Schwartz, a qualidade da impressão. “Há novos arquivos e novos procedimentos gráficos. A edição de 2003 foi feita com fotolitos.  É como se fosse, agora, uma versão restaurada.“

Caixa Modernista, segunda edição, organização de Jorge Schwartz, Editora da USP (Edusp). Mais informações estão no site da Edusp.

A obra será lançada neste sábado, dia 4, às 15 horas, na Livraria Megafauna, no Edifício Copan (Avenida Ipiranga, 200, loja 53, em São Paulo).


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