Poty, o artista que fez a imagem conversar com o texto

Livro aborda a ilustração literária de Poty, que emprestou seu traço
para obras de escritores como Machado de Assis e Guimarães Rosa

 21/02/2024 - Publicado há 5 meses

Texto: Luiz Prado

Arte: Joyce Tenório*

O artista curitibano Poty Lazzarotto foi tema da tese de doutorado de Fabricio Vaz Nunes, defendida em 2015 na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e agora lançada em livro pela Editora da USP (Edusp) - Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Fundação Cultural de Curitiba e retiradas da tese

Quando um livro não é composto apenas de palavras, mas traz também em suas páginas imagens, que diálogos são possíveis entre a ilustração e a escrita? Que mundos surgem do traço do artista, alimentados pelos mundos criados no texto do autor? Como as imagens podem convergir, desviar ou mesmo contradizer a narrativa que as acompanha?

Essas são algumas das questões que alimentam Texto e Imagem: a Ilustração Literária de Poty Lazzarotto, de Fabricio Vaz Nunes. Resultado da tese de doutorado de Nunes, defendida em 2015 na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o livro lançado pela Editora da USP (Edusp) investiga a contribuição de Napoleon Potyguara Lazzarotto (1924-1998), o Poty, no campo da ilustração literária, analisando as relações entre texto e imagem, como o título da obra anuncia. Trata-se da maior coleção de ilustrações já reunidas do artista, com cerca de 400 reproduções de seus trabalhos.

O traço de Poty ilustrou mais de 170 livros, entre capas e contracapas, frontispícios e imagens internas. Machado de Assis, José de Alencar, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Antônio de Alcântara Machado, Jorge Amado e Dalton Trevisan foram alguns dos autores cujas obras passaram por suas tintas. Conforme Nunes explica na introdução ao volume, o objetivo central de seu estudo foi demonstrar como a imagem produzida pelo artista “ilumina” esses textos, oferecendo diferentes visões sobre eles.

Professor de História da Arte, Nunes conta que vem justamente de sua profissão o interesse em observar as ligações possíveis entre as artes visuais e a arte literária. “Na criação de ilustrações para textos literários, Poty estabeleceu um intrincado diálogo entre texto e imagem”, escreve o autor. “Associada ao texto, a imagem parte dos elementos verbais para criar uma dimensão visual que, em sua apresentação física – na materialidade do objeto da leitura, o livro impresso ou a revista –, se constitui como uma obra de arte compósita, substancialmente diferente do texto não ilustrado.”

Para Nunes, na ilustração de obras de ficção em prosa Poty assume a função de um conarrador, definindo uma dimensão visual para o que, inicialmente, era apenas uma obra verbal. Cria-se, dessa forma, um diálogo entre duas formas distintas de expressão e, a partir da imagem gráfica, o ilustrador ajuda o escritor a contar sua história. E Poty faz isso esforçando-se para criar um estilo adequado para cada autor e cada livro.

Fabricio Vaz Nunes - Foto: Arquivo pessoal

“A ilustração assume o papel de elemento paratextual, nascido da narrativa e a ela coextensivo”, pontua o pesquisador. “Partindo do texto verbal, a ilustração cria, em união com a obra literária, um novo complexo significante que amplia e figura – ou transfigura – os sentidos do texto. A ilustração, além de seu papel apenas decorativo ou pragmático – o de criar um produto bonito e atraente, incentivando a compra do livro –, abre portas para diferentes leituras imaginativas do texto literário, apontando para relações mais profundas entre as diferentes modalidades artísticas.”

Segundo Nunes, Poty realizou seus trabalhos de ilustração a partir de diferentes enfoques, tanto na seleção de que elementos do texto seriam ilustrados quanto nas escolhas estilísticas. Assim, a figuração literal de passagens do enredo e de personagens convive com a transfiguração visual de pontos de vista e o registro de aspectos simbólicos dos romances e contos.

É a partir dessas diferentes combinações que suas ilustrações propõem relações variadas com o texto. As imagens podem ir da colaboração à contraposição, propondo convergências, desvios ou contradições nos sentidos e chegando mesmo a extrapolar os próprios sentidos presentes no texto. Com isso, a ilustração se torna uma atividade que reúne interpretação ativa e enriquecimento poético da obra literária, afirma Nunes.

Leitor atento dos trabalhos que ilustrava, Poty abordou cada livro de forma diferente, tratando a imagem como espaço para experimentações estilísticas, formais e poéticas, aponta o pesquisador. “As ilustrações não explicam nem ornamentam o texto; as ilustrações também não traduzem o texto, não buscam equivalências entre verbal e visual. Mais do que coerência ou convergência de significados, parece que se trata da co-laboração dos discursos verbal e visual, constituindo um discurso duplo, um diálogo.” O que a ilustração de Poty faz, defende Nunes, é agregar novos significados e interpretações, criando uma obra híbrida entre texto e imagem.

Percursos de leitura

Para compreender esse diálogo e revelar como Poty “respondeu” aos textos que ilustrou, Nunes estruturou seu livro em quatro grandes capítulos, que chamou de percursos de leitura. Cada um deles corresponde aos diferentes aspectos literários que se destacam nas ilustrações de Poty, reunindo um conjunto de obras a partir de aspectos em comum, tendo em vista as relações estabelecidas entre texto e imagem. O pesquisador deteve-se principalmente nas obras de ficção em prosa – romances e coletâneas de contos – editadas entre 1946 e 1972.

O primeiro capítulo trata daqueles livros em que Nunes percebe o privilégio da “dimensão narrativa” da imagem nos conjuntos de ilustrações de Poty. Nelas, a ação narrativa emerge a partir de diversas estratégias visuais e a ficção é “encenada” pelas imagens. Temporalidade, ação e encadeamento causal são as formas de diálogo entre as ilustrações e o texto.

O autor aborda, nesse primeiro percurso, Vila dos Confins, de Mário Palmério, Novelas Paulistanas, de Antônio de Alcântara Machado, O Quinze, de Rachel de Queiroz, Moby Dick, de Herman Melville, Canudos de Euclides da Cunha, João Abade, de João Felício dos Santos, e As Noites do Morro do Encanto, de Dinah Silveira de Queiroz.

Nesses trabalhos, aponta Nunes, as ilustrações percorrem diferentes caminhos para interpretar a dimensão narrativa dos textos. Em Vila dos Confins, por exemplo, Poty elege determinados momentos da ação e coloca em primeiro plano elementos que, na obra, são secundários ao enredo principal, direcionando-a para o gênero do romance de aventuras.

A luta entre o boi e a sucuri, episódio lateral de "Vila dos Confins", ganha destaque na ilustração de Poty como metáfora das lutas políticas do romance - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

Para Novelas Paulistanas, por sua vez, o pesquisador indica que Poty emprega a simultaneidade da representação temporal, com o acúmulo de referências aos vários episódios da coletânea de Alcântara Machado. Assim, o artista realiza uma transposição gráfica do próprio estilo literário do autor. Já em Canudos, Poty teria trazido à tona “a dimensão propriamente literária e imaginativa do texto, apontando para as íntimas relações entre história e literatura”.

Os diversos episódios de "Novelas Paulistanas" surgem amontoados na ilustração de Poty, que alude à confusão urbana de São Paulo. “São imagens que remetem, vagamente, a desenhos de moda ou de figurino teatral, em que a ausência de rosto funciona como elemento perturbador; retratos paradoxais, caracterizam-se pela renúncia do artista em representar precisamente o elemento decisivo e parte indissociável desse gênero de imagem”, escreve Nunes. "Trata-se de corpos vazios de humanidade, feitos apenas da riqueza material que ostentam diante da sociedade." Na visão criada por Poty, é a imaginação popular que se vê materializada por meio do grafismo convulsivo e dinâmico, instituindo um registro irônico e grotesco para os casos de assombração, seus estranhos personagens e seu ambiente, isto é, a cidade do Recife" - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

O capítulo seguinte se concentra na “figuração dos personagens”. Aparecem nessa seção trabalhos nos quais o diálogo entre imagem e texto se dá, sobretudo, a partir dos agentes da narrativa. Os Dias Antigos, de José Condé, Os Corumbas, de Amando Fontes, Capitães da Areia, de Jorge Amado, Estrangeiro, de Plínio Salgado, Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho, Senhora e Diva, de José de Alencar, são as obras analisadas por Nunes.

Nas ilustrações que representam os garotos de Capitães da Areia, o pesquisador vê uma dimensão retórica na qual as imagens se juntam ao texto para provocar no leitor empatia pelos personagens. “A seleção operada pelo ilustrador coloca à margem todas as situações em que os meninos estão envolvidos em crimes ou delitos”, escreve Nunes. “Dessa forma, as ilustrações funcionam como aliadas da retórica do escritor, que busca, ao longo do romance, apresentar os meninos sob uma óptica positiva, ainda que estejam envolvidos em atividades pouco louváveis.”

“Na ilustração, os rostos dos meninos são representados uns sobre os outros, como silhuetas escuras que se destacam por meio de um espesso contorno branco, contra um fundo completamente negro. Dispostos na região central da imagem com expressões sorridentes, dois deles exibem navalhas em suas mãos: a presença da arma, referida várias vezes no romance, contrasta com a expressão alegre dos ‘Capitães da Areia’: a ilustração estabelece, assim, a associação entre a alegria juvenil e a ameaça constante da violência, exercida ou sofrida pelos menores abandonados. As navalhas, exibidas orgulhosamente pelas duas figuras centrais da ilustração, são sinais da única saída disponível diante da miséria e do abandono a que são submetidos: o crime” “São imagens que remetem, vagamente, a desenhos de moda ou de figurino teatral, em que a ausência de rosto funciona como elemento perturbador; retratos paradoxais, caracterizam-se pela renúncia do artista em representar precisamente o elemento decisivo e parte indissociável desse gênero de imagem”, escreve Nunes. Tratam-se de corpos vazios de humanidade, feitos apenas da riqueza material que ostentam diante da sociedade "Na visão criada por Poty, é a imaginação popular que se vê materializada por meio do grafismo convulsivo e dinâmico, instituindo um registro irônico e grotesco para os casos de assombração, seus estranhos personagens e seu ambiente, isto é, a cidade do Recife" - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

Fundo escuro, emprego de fortes contrastes entre branco e preto, uso econômico de elementos da representação realista como hachuras, claro-escuro e perspectiva linear são traços estilísticos de todas as ilustrações que Poty realizou para Capitães da areia “São imagens que remetem, vagamente, a desenhos de moda ou de figurino teatral, em que a ausência de rosto funciona como elemento perturbador; retratos paradoxais, caracterizam-se pela renúncia do artista em representar precisamente o elemento decisivo e parte indissociável desse gênero de imagem”, escreve Nunes. Tratam-se de corpos vazios de humanidade, feitos apenas da riqueza material que ostentam diante da sociedade "Na visão criada por Poty, é a imaginação popular que se vê materializada por meio do grafismo convulsivo e dinâmico, instituindo um registro irônico e grotesco para os casos de assombração, seus estranhos personagens e seu ambiente, isto é, a cidade do Recife" - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

Já em O Coronel e o Lobisomem, assinala o autor, a maior parte das 26 ilustrações feitas por Poty busca representar as várias facetas do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, narrador e protagonista do volume. Enquanto através da escrita temos acesso ao coronel apenas a partir de seu próprio relato em primeira pessoa, as imagens de Poty atuam como uma espécie de intermediário entre o escritor e o leitor, oferecendo uma visão externa do personagem. O artista torna-se, nas palavras de Nunes, um conarrador visual, proporcionando uma leitura específica do romance.

Seis ilustrações de Poty estão em Senhora, de José de Alencar. Nelas, é representada Aurélia, a protagonista, mas seu rosto nunca aparece e o destaque fica em seu vestuário, composto por trajes de época. O resultado são figuras desumanizadas, com a individualidade eliminada e expressões corporais mecânicas e artificiais. De acordo com o pesquisador, ao dialogar dessa maneira com o romance, as imagens salientam a condição submissa da heroína às convenções sociais e, ao mesmo tempo, sua não apreensibilidade.

O “ponto de vista narrativo” é o centro do terceiro percurso de leitura. O enquadramento das figuras, o corte da imagem e o ponto de vista escolhido para a representação visual são os elementos estudados por Nunes, que investiga as opções estilísticas mobilizadas pelo artista para a produção de imagens efêmeras, marcadas pela estilização gráfica e pelo grotesco. Entram na análise os contos de Dalton Trevisan publicados na revista Joaquim; os livros de Machado de Assis ContosA Mão e a LuvaRessurreiçãoDom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás CubasAssombrações do Recife Velho, de Gilberto Freyre; e O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho.

“A janela funciona, nessa imagem [de Sete Anos de Pastor, de Dalton Trevisan], como um artifício de visualização: é através da janela que a figura e seu cenários são vistos, e tanto a janela como os elementos que se descortinam para além dela são distorcidos, estabelecendo uma composição instável e desequilibrada. A figura representada por trás da janela é, no texto, o narrador; a imagem, no entanto, apresenta-o visto de fora, estabelecendo, portanto, um ponto de vista distinto da narração textual” "Na visão criada por Poty, é a imaginação popular que se vê materializada por meio do grafismo convulsivo e dinâmico, instituindo um registro irônico e grotesco para os casos de assombração, seus estranhos personagens e seu ambiente, isto é, a cidade do Recife" - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

Nas imagens dos contos de Trevisan, destaca o autor, Poty manipula ponto de vista e espaço à procura da deformação expressiva tanto dos personagens quanto dos ambientes. Já em Assombrações do Recife Velho, o modo de visão estabelecido pelo artista é caracterizado por deformações estilísticas, que interpretam em sentido ficcional e irônico as histórias de assombração recolhidas por Gilberto Freyre.

Para Memórias Póstumas, por sua vez, o artista emprega uma variedade de pontos de vista, fazendo aparecer tanto a visão distorcida de Brás Cubas quanto um olhar mais distanciado e crítico. Com isso, a reunião das imagens se aproxima da própria multiplicidade dos discursos do narrador.

Nos outros romances de Machado de Assis, Nunes enxerga a constituição de uma forma de visão que organiza, estilisticamente, a construção das imagens. Os conjuntos de A Mão e a LuvaRessurreição e Dom Casmurro são criados a partir de sobreposições de hachuras que jogam com o claro e o escuro, tornando as imagens etéreas e evanescentes, sem contornos firmes e precisos. Assim, remetem às formas como os personagens veem o mundo e as suas lembranças do passado.

“Na visão evanescente criada por Poty, a figura de Capitu aparece envolta em uma atmosfera de indefinição, como uma memória distante” - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

Encerrando o livro, o quarto capítulo é dedicado aos “traços metonímicos e metafóricos” do diálogo entre ilustração e texto literário. São os casos nos quais as imagens se apropriam de passagens do texto para transformá-las em símbolos e emblemas com significados que extrapolam o próprio universo textual. Entram na análise também aqueles elementos que não se relacionam de maneira imediata com o conteúdo do texto, mas são transfigurados em metáforas para ele. A fim de tratar desse diálogo complexo, Nunes se debruça sobre SagaranaCorpo de Baile e Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e Chapadão do Bugre, de Mário Palmério.

Ao repassar as diferentes versões das capas que Poty produziu para Corpo de Baile, o pesquisador sublinha como o ilustrador transitou das representações atreladas a momentos específicos das narrativas da obra para as figurações metonímicas dos elementos do texto. Em outras palavras, entre uma edição e outra, as imagens deixam de evocar personagens e momentos determinados das novelas para exprimir referências mais amplas do universo simbólico de Rosa.

Em Grande Sertão: Veredas, Nunes também identifica essas duas abordagens nas ilustrações de Poty, mas agora distribuídas não no tempo, mas na composição do próprio objeto livro. Enquanto a capa e a contracapa privilegiam a dimensão narrativa, trazendo personagens do romance, os mapas que aparecem nas orelhas do volume abraçam a figuração alegórica e enigmática, concebidos a partir de instruções diretas de Rosa. O que se vê neles, segundo Nunes, são símbolos que apontam para o caráter metafísico, misterioso e esotérico do sertão habitado por Riobaldo.

“Além das numerosas hipóteses possíveis para as várias figuras no mapa do romance, portanto, o mais significativo é o fato de que a imagem representa um espaço – um espaço que, ainda que seja criado com base em referências geográficas e toponímicas reais (…), é, em primeiro lugar, ficcional, habitado por um conjunto de imagens e símbolos herméticos que funcionam como emblemas do universo ficcional gerado na obra de Rosa. O mapa é, desse modo, exemplar da criação de um mundo por meio da imagem gráfica – um mundo com suas regras, criado por procedimentos de deformação e recomposição dos elementos que compõem os mapas tradicionais” - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

As alegorias, ao lado dos emblemas, também estão presentes nas ilustrações de Sagarana, que representam o maior conjunto de trabalhos que Poty produziu para um único título. Tendo criado imagens para três edições da obra – em 1956, 1958 e 1970 –, o artista desenvolveu diferentes formas de interpretar o texto, reunindo os aspectos narrativos e metafóricos em direção ao estabelecimento de emblemas, que intensificam e ampliam o texto através de significados, sugestões e alusões que vêm e vão das palavras para as imagens.

"Na última versão da capa de 'Sagarana', Poty intensifica a sintetização gráfica das figuras e dá destaque à sua dimensão simbólica" - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

“É nessas operações metonímicas e metafóricas que as intrincadas relações entre texto e imagens aparecem de forma mais profunda, na medida em que o ilustrador participa ativamente, ao lado do autor literário, do processo de construção de significados que se dá, primariamente, no texto e que se concretiza como um todo no complexo texto-imagem configurado no livro ilustrado”, escreve o pesquisador.

Trilhos, quadrinhos e arte

Filho de um ferroviário aposentado, Poty nasceu em Curitiba (PR) e cresceu no bairro do Capanema, vizinho aos trilhos dos trens. O interesse do pai pelos livros e pelas revistas incentivou o garoto na ilustração, junto ao gosto por histórias em quadrinhos e cinema. Conta-se que, ao voltar das matinês, o jovem Poty refazia em quadrinhos os filmes vistos nas telas.

Em 1938, com 14 anos, teve sua primeira história em quadrinhos publicada no Diário da TardeHaroldo, o Homem-Relâmpago. Já se via aí seu domínio da linguagem visual e verbal. Quatro anos depois ele se mudou para o Rio de Janeiro, graças a uma bolsa de estudos que recebeu de Manoel Ribas, então interventor do Estado do Paraná, que ficara impressionado com os desenhos de Poty expostos no restaurante da família.

Em 3 de novembro de 1938, o curitibano "Diário da Tarde" publicou a estreia de Poty, aos 14 anos - Imagem extraída da tese de Fabricio Vaz Nunes

Seus primeiros trabalhos de ilustração literária aconteceram na revista Joaquim, veículo da modernidade artística paranaense. Circulando de 1946 a 1948, a publicação teve 21 números e contou entre seus colaboradores com Dalton Trevisan, cujos primeiros contos foram ilustrados por Poty.

Ao longo da carreira, Poty contribuiu em prestigiadas editoras nacionais, como a Livraria José Olympio, Martins e Civilização Brasileira. Entre os mais de 170 títulos que ilustrou, passando por literatura em prosa e poesia, livros de divulgação médica, dicionários e agendas comemorativas, emprestou seu traço tanto para autores consagrados quanto para outros menos conhecidos. Seus trabalhos também aparecem justamente em edições que lançaram alguns escritores para o reconhecimento editorial.

Junto à trajetória nos livros, Poty ainda é reconhecido pela produção de murais e painéis em espaços públicos, a maioria deles situada em sua cidade natal, Curitiba.

Texto e Imagem: a Ilustração Literária de Poty Lazzarotto, de Fabricio Vaz Nunes, Editora da USP (Edusp), 856 páginas, R$ 240,00.

*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado


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