Palestra homenageia artistas refugiadas do nazifascismo no Brasil

Nesta quinta-feira, dia 7, a professora da USP Maria Luiza Tucci Carneiro vai falar sobre a vida e a obra de dez artistas que marcaram a arte contemporânea brasileira

 05/03/2024 - Publicado há 4 meses

Texto: Julia Alencar*

Arte: Simone Gomes

Imagem extraida do banner de divulgação do evento

Artistas refugiadas do nazifascismo que foram pioneiras na arte contemporânea brasileira são o tema da palestra que a historiadora e professora da USP Maria Luiza Tucci Carneiro vai fazer nesta quinta-feira, dia 7, às 19h30, no Centro Judaico Beit Chabad, na Cidade Jardim, em São Paulo. Intitulada Legado das Mulheres Pioneiras no Mundo das Artes, a palestra terá a participação da gravurista nascida na ex-Iugoslávia Ruth Sprung Tarasantchi. O evento é gratuito. Os ingressos podem ser obtidos na plataforma Sympla.

“O nosso objetivo é valorizar e divulgar para um público maior a pouco conhecida contribuição que essas mulheres refugiadas e exiladas no Brasil deram para o País”, afirma Maria Luiza, que é docente do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Eu quero tirar essas mulheres extraordinárias do anonimato e divulgar suas histórias.”

Na palestra – que integra as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher -, Maria Luiza vai abordar as consequências de políticas de Estado moldadas pelo antissemitismo – como as implementadas na Europa nos anos 1930. Ela também vai expor resultados de suas pesquisas sobre mulheres artistas que se refugiaram no Brasil fugindo do nazifascismo europeu, segundo quatro aspectos principais: a comunidade de origem dessas artistas, a razão da fuga, os motivos da opção pelo Brasil e – ponto alto da palestra – o seu legado.

Ao final da palestra, Maria Luiza fará homenagens às artistas mostrando obras de autoria delas e dando mais informações sobre cada uma. As artistas homenageadas são dez: além de Ruth Sprung Tarasantchi, as pintoras alemãs Alice Brill, Doris Homann, Hanna Brandt e Mathilde Maier, a pintora italiana Gerda Brentani, a pintora tcheca Lise Forell, a gravurista polonesa Fayga Ostrower, a gravurista austríaca Gerty Schmetterling Saruê e a desenhista portuguesa Maria Helena Vieira da Silva.

Maria Luiza Tucci Carneiro é professora da FFLCH. Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A gravurista Ruth Sprung Tarasantchi – Foto: Fabio Okamoto

Libertação e refúgio

Ruth Sprung Tarasantchi, que estará presente como convidada da palestra, é artista plástica, restauradora, pesquisadora e historiadora da arte nascida em Sarajevo, então na Iugoslávia (atual Bósnia-Herzegovina), em 1933. Ruth viveu quatro anos no campo de concentração de Ferramonti, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, até ser libertada pelos ingleses, em 1945, com sua família.

Após a liberdade, em Roma, ela descobriu sua paixão pela arte nos museus, igrejas e ruas da cidade que serviu de cenário para artistas renomados. Em 1947, sua família se mudou para o Brasil, onde Ruth cursou a Faculdade de Belas Artes e, mais tarde, fez mestrado e doutorado na USP. 

Ruth é uma das fundadoras do Museu Judaico de São Paulo, dedicado a preservar a memória e tradições do povo judeu. Nas gravuras de sua autoria feitas já no Brasil, Ruth reproduz sua história e a de seus parentes nos anos vividos na Iugoslávia, memórias de sua infância e impressões de sua chegada ao Brasil, como o primeiro contato com o Porto de Santos.

 

Fuga e traumas

A palestra da professora Maria Luiza vai “ampliar a compreensão das mulheres artistas refugiadas do nazifascismo que reinventaram tanto as suas próprias vidas como o modo de fazer arte nacional, deixando marcas, inclusive, da influência das vanguardas artísticas vivenciadas no continente de origem”, afirma a pesquisadora Luana Fúncia, que integra o projeto Travessias, do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (Leer) da FFLCH, coordenado por Maria Luiza. A palestra faz parte desse projeto. “Assim, à experiência traumática das guerras, das perseguições e da fuga em prol da sobrevivência, culminando com o refúgio no Brasil, é sobreposta a possibilidade da criação artística como forma de encaminhamento psíquico, social e político de tais traumas.”

É o caso, por exemplo, da pintora alemã Doris Homann (1898-1974), uma das artistas a serem destacadas na palestra de Maria Luiza, que em suas obras retratou a guerra e seus horrores. “Doris considerava que o papel do artista deveria ser de compromisso com a humanidade, buscando ajudar as pessoas a transcender questões cotidianas”, conta a pesquisadora Tatiane Gomes, também ligada ao projeto Travessias. “Seus temas foram diversos – interpretações de sonhos, personagens da literatura, tipos brasileiros e autorretratos -, em que se nota a herança expressionista dos primeiros anos e certa influência surrealista, num estilo próprio que teve grande aceitação da crítica brasileira.”

Outra das artistas homenageadas, Hanna Brandt (1923-2020) é igualmente um exemplo inspirador. “Hanna é o que se espera de uma mulher naquela época: ela se casa, tem filhos, é dona de casa. Mas também é uma artista inovadora que contribui, e muito, para a cena artística de São Paulo”, define a pesquisadora Eduarda Lima, também do Travessias.

A palestra Legado das Mulheres Pioneiras no Mundo das Artes, com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, será realizada nesta quinta-feira, dia 7, às 19hs30, no Centro Judaico Beit Chabad (Rua Oscar Americano, 639, Cidade Jardim, em São Paulo). Entrada grátis. Ingressos podem ser obtidos na plataforma Sympla.

* Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro

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