
“A música é uma só. Não precisa ter preconceito”, avisou o “viajante”, que, com acompanhamento da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp), cantou um rap que falava dos grandes compositores brasileiros:
Guerra Peixe
Guarnieri
Villa-Lobos
E muitos outros
E muitos outros
Interpretado pelo ator Daniel Guisard, o “viajante” foi o condutor do espetáculo didático Um Grão de Folia, apresentado pela Osusp no Circo Escola Bom Jesus, no Jardim São Remo, comunidade vizinha à Cidade Universitária, em São Paulo, no dia 26 de novembro. Com o objetivo de promover mais interação entre aquela comunidade e a Universidade, o evento foi realizado graças a uma parceria entre a Osusp e o Programa Aproxima-Ação do Núcleo dos Direitos – ambos ligados à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.

Na plateia, famílias da comunidade acompanharam com interesse o espetáculo, que exibiu vários gêneros musicais – do clássico e do popular ao baião e ao samba – e mostrou como funciona uma orquestra sinfônica. Simpático, descontraído, cativante, o “viajante” apresentou cada família de instrumentos. Começou com o naipe das cordas e – depois que se ouviu o som do violino, da viola, do violoncelo e do baixo – explicou: “Deu para reparar, né, gente, que quanto menor o instrumento, mais agudo ele é e quanto maior, mais grave”. Em seguida, apontou os naipes das madeiras, dos metais e da percussão.
O “viajante” também falou dos elementos que formam a música – o ritmo, a harmonia e a melodia. Para dar um exemplo, convocou a Osusp, que exibiu a Bachiana nº 5, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), berrando estas palavras: “É só ouvir e se emocionar com a arte das musas, a música”.
Houve outros momentos pedagógicos. Num deles, o “viajante” mostrou a importância do maestro para uma orquestra. Aproveitando que o maestro convidado da Osusp William Coelho se retirara, o “viajante” cochichou para a plateia – “Tem uma orquestra inteirinha aqui dando sopa” – e assumiu a regência do conjunto. Sob suas ordens, a orquestra tocou sons desconexos e desarmônicos, um barulho desconfortável aos ouvidos. Somente com o retorno de Coelho voltou-se a ouvir música com ritmo, harmonia e melodia.

Sempre animado, o “viajante” chamou ao palco a violinista Sarah Nojosa, de 15 anos, uma revelação do Projeto Guri – iniciativa da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo que oferece iniciação musical para crianças e adolescentes. Sarah apresentou o terceiro movimento do Concerto para Violino em Mi Menor, de Felix Mendelssohn (1809-1847). “Acho muito importantes eventos como este para despertar o gosto pela música, porque eu também comecei assim”, disse Sarah ao Jornal da USP, referindo-se à apresentação da Osusp.
As famílias do Jardim São Remo presentes na plateia também foram convidadas a participar do evento. Conduzidas pelo “viajante” e acompanhadas pela Osusp, elas cantaram uma música que foi ensinada às crianças da comunidade em oficinas realizadas nos dias 23 e 24 de novembro, preparatórias para o espetáculo:
Com a voz, vamos lá
Todos juntos a cantar
Aprender mais e mais
Notas musicais
“É importante dar a todos a oportunidade de ouvir uma orquestra, de mostrar que esse tipo de música está disponível”, destacou o professor Pedro Paulo Salles, do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, dirigente das oficinas, que forneceram noções de música para 210 crianças da comunidade. “Queremos ampliar esse tipo de atividade”, afirmou o diretor da Osusp, Eduardo Monteiro, também professor da ECA.

“Eu me diverti bastante”, disse o ator Daniel Guisard, logo após o espetáculo. Aos 31 anos, com carreira em boa parte voltada para o público infantil, ele diz ter se admirado com a qualidade de Um Grão de Folia, que tem texto de Thiago Lemmos. “Incrível como o espetáculo consegue transmitir coisas profundas sobre música de maneira tão leve e divertida”, acrescentou Guisard, que trabalhou durante três anos como o personagem Visconde, de Monteiro Lobato, no Sítio do Pica-Pau Amarelo, em Taubaté (SP).
Os moradores do Jardim São Remo gostaram da apresentação. Almir de Oliveira nunca tinha visto uma orquestra de perto. “Tive essa oportunidade pela primeira vez aqui, com a Osusp”, disse. “Foi muito cativante.” Daiane Cristine também viu uma orquestra pela primeira vez, ao lado do marido – funcionário da USP – e da filha. “Achei muito bonito. Fiquei arrepiada”, disse Daiane, que destacou a participação da violinista Sarah Nojosa. “É um exemplo para todos nós, tão nova”, admirou-se. “Ela mostra que tudo é possível.”
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