Fotos: Freepik e Reprodução/Revista do IEB

Novo lançamento da “Revista do IEB” aborda o apagamento dos povos

Edição homenageia o pesquisador Manuel Hespanha repensando a Colonização

 09/01/2023 - Publicado há 1 ano

Texto: Emilly Gondim

Arte: Rebeca Fonseca

A mais recente Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (RIEB), lançada em dezembro de 2022, número 83, traz análises sociopolíticas e do direito do Brasil Colônia pela ótica de produção do pesquisador e professor português António Manuel Hespanha (1945-2019). A revista procura também repensar as produções artísticas e culturais do País que, no centenário da Semana de Arte Moderna, vangloriou uma arte produzida pela classe média alta, tida como núcleo erudito, exemplificado no surgimento do samba.

A revista, no Editorial, evidencia a temática crítica da edição. “Interrogamos materiais de épocas antigas para lembrar nossas raízes de desigualdade e violência”, observam os autores Dulcilia Helena Schroeder Buitoni, Luiz Armando Bagolin e Walter Garcia. Foram “cinco séculos de ausência de povo, com algumas brechas abertas pela ciência e pela arte”, explicam eles ao tratar sobre os percursos dos textos, que demonstram o apagamento da população brasileira desde o início da colonização.

Em seguida, abrindo a seção Dossiê, estão os artigos relacionados às produções de Manuel Hespanha, Fazer e desfazer história: a contribuição historiográfica de António Manuel Hespanha, escrito por Monica Duarte Dantas e Samuel Barbosa. Prestam uma homenagem a esse pesquisador responsável pela tradução de documentos, que publicou livros, capítulos e artigos críticos sobre a história institucional, política e do direito em relação ao poder nos espaços de colonização portuguesa. Porém, muito além de uma homenagem à ciência, é um texto de respeito pessoal à pessoa de Manuel Hespanha. Destacam: 

“Avesso às solenidades, curioso, experimental, incansável, acessível a quem o procurasse, sempre destilando humor, António Manuel Hespanha era, além de notável professor e pesquisador, também figura humana singular que faz falta.”

Mais sete textos compõem o Dossiê, percorrendo a história de Portugal durante o Regime Antigo (séculos 15 a 18) e o Brasil da época. Uma releitura do “Brasil colonial” a partir da obra de António Manuel Hespanha Os usos do direito na América ultramarina portuguesa: entre o pragmatismo dos rústicos e a argumentação refinada dos letrados põem em evidência a desigualdade e o apagamento do povo brasileiro ocasionados pela colonização portuguesa.

A revista continua com a seção Artigos, que traz questões culturais para o debate. O primeiro, intitulado Entre a praça e o largo: artistas e intelectuais na formação de dois “berços” do samba, explica como projetos de urbanização impediram o nascimento do samba popular no Largo da Banana, em São Paulo, e na Praça do Onze, no Rio de Janeiro, para serem apropriados por intelectuais brancos, e como isso respinga nos acervos do Museu da Imagem e do Som (MIS) nos dois Estados.

O segundo texto é Veríssimo, crítico do simbolismo (1899-1901), que analisa as críticas de José Veríssimo feitas ao poeta negro Cruz e Sousa a fim de avaliar diretamente ou indiretamente suas contribuições à escola literária Simbolista.

Watú não está morto! inaugura a parte mais ilustrativa da revista, na seção Criação. Apresenta fotografias da exposição que aconteceu no IEB durante o ano de 2022. Onze artistas contemporâneos abordaram o apagamento de produções da negritude, pessoas LGBTQIA+, mulheres, indígenas e periféricos, desmatamento e demais questões da atualidade. Destacam:

“As propostas, tão diversas quanto as origens de seus proponentes, expressaram, através das respectivas poéticas de cada artista, suas visões e angústias sobre o Brasil atual, mostrando, nesse sentido, de modo contundente, como o Brasil está permanentemente em xeque por conta da violência (que é histórica), da injustiça social, da destruição da natureza, do cerceamento da riqueza para a maioria do povo e, principalmente, da manipulação da memória coletiva.”

A revista conta com mais duas seções. A primeira é Documentação, que traz fotografias de Mário de Andrade. A segunda é Resenha, com o texto Aprendendo a viver: Diários, 1935-1936, de Eunice Penna Kehl. 


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