Capa da edição 81 da Revista do IEB - Fotos: Freepik e Reprodução/Revista do IEB

Nova edição da “Revista do IEB” reflete sobre o Brasil através dos séculos

Publicação do Instituto de Estudos Brasileiros da USP traz artigos, poemas e resenhas

 05/05/2022 - Publicado há 2 anos

Texto: Mariana Carneiro

Arte: Rebeca Fonseca

“O ano de 2022 parece nos convidar para o olho do furacão, com todo o seu caráter celebrativo em torno de efemérides que atualizam e associam 1822, 1922 e 2022.”

Com a frase acima, Inês Gouveia, Luciana Suarez Galvão e Walter Garcia — professores do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP — introduzem o editorial Brasis Sobrepostos: Fontes da Conformação e Transformação do Tempo, publicado na edição número 81 da Revista do IEB, que acaba de ser lançada. A publicação quadrimestral dedica-se à divulgação de artigos inéditos, resenhas e documentos relacionados a temáticas brasileiras, e desta vez, impulsionada pelo centenário da Semana de Arte Moderna e pelo bicentenário da proclamação da Independência, reúne textos que percorrem diferentes tempos da história do País.

O Caráter Exemplar da Obra de Alexander von Humboldt é o assunto abordado por Willi Bolle, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, no primeiro artigo da revista. Bolle discorre sobre aspectos da vida, viagens e o legado de Humboldt, célebre cientista alemão cujos estudos sobre ecossistemas influenciaram até mesmo Charles Darwin. Nascido em 1769, Humboldt pertencia a uma importante família aristocrática de Berlim e, ainda na adolescência, foi introduzido aos círculos intelectuais locais, imersos na discussão do Iluminismo. 

Após a morte de sua mãe, em 1796, Humboldt herdou uma fortuna considerável e optou por abandonar seu trabalho como inspetor de minas para se tornar pesquisador científico independente. Seu vasto interesse pela América tropical lhe rendeu uma autorização, concedida pelo rei da Espanha, para viajar às colônias sul-americanas do País e realizar estudos mineralógicos e botânicos da área. O explorador, no entanto, não obteve autorização para visitar o Brasil: as autoridades locais suspeitavam que Humboldt pudesse ser um espião enviado pela Coroa espanhola. Tendo em vista a lacuna que o fato deixou na obra do cientista, Willi Bolle dedica parte de seu artigo à análise comparativa entre os estudos de Humboldt e aqueles realizados por outros pesquisadores viajantes que descreveram o Brasil no século 19, em especial o zoólogo Johann Baptist von Spix e o botânico Carl Friedrich Martius.

Mapa que retrata a rota de Alexander von Humboldt pela América - Foto: Reprodução/Revista do IEB

Para Bolle, outros pontos de destaque nas produções de Alexander von Humboldt são o engajamento do pesquisador na preservação do ambiente, suas críticas aos crimes cometidos durante a colonização, em especial à prática escravagista, e a alusão à natureza de uma forma ao mesmo tempo científica e estética. O último tópico é exemplificado, no artigo, com a menção à ilustração Tableau physique des Andes et pays voisins (“Tabela física dos Andes e países vizinhos”), publicada por Humboldt em 1807. O desenho, considerado uma espécie de infográfico, “mostra como nas diversas altitudes se distribuem as plantas de todas as latitudes e zonas climáticas do nosso planeta”, escreve Bolle. A referência utilizada foi a montanha Chimborazo, no Equador, na época considerada a mais alta do mundo — e que Humboldt escalou durante sua visita àquele país. 

Tableau physique des Andes et pays voisins (Humboldt, 1807) - Foto: Reprodução/Revista do IEB

Em outro artigo da revista, Observações e Experiências de Alexandre Rodrigues Ferreira sobre Agricultura no Pará (1784), a professora Ermelinda Moutinho Pataca, da Faculdade de Educação da USP, analisa as reflexões filosóficas e políticas do naturalista durante sua expedição à capitania do Grão-Pará. A “Viagem Filosófica” – nome que passou a designar as excursões científicas promovidas pela Coroa portuguesa durante o século 18 – de Ferreira também estava inserida no projeto iluminista da época.

Avançando para os séculos 20 e 21, a nova edição da Revista do IEB trata do regime militar brasileiro, no artigo Celso Furtado, o Golpe de 1964 e a Ditadura Militar, de Lilian da Rosa, e debate autores contemporâneos. A obra de Alfredo Sirkis, político e jornalista falecido em 2020, é tema de análise no texto Os Carbonários, 40 anos, de Alfredo Sirkis (1950-2020): Testemunho e Sobrevivência, de Rogério Silva Pereira. De forma similar, em Quem Arrisca Perde e Ganha, Fábio José Santos de Oliveira examina o romance O Sedutor do Sertão, de Ariano Suassuna, publicado de forma inédita em 2020 — seis anos após a morte do escritor paraibano, que escreveu o livro ainda na década de 1960. 

Criações, documentação e resenhas

Além dos artigos, a Revista do IEB apresenta três seções extras, com textos de maior liberdade criativa e que desviam do padrão acadêmico. A seção Criações, dedicada à publicação de materiais inéditos de escritores, artistas e fotógrafos, veicula duas coletâneas de poemas nesta edição. 

Em Hinário para Corpos em Desalinho I – Meninas, a escritora Mar Becker, finalista do Prêmio Jabuti em 2021, apresenta em primeira mão quatro versos sobre a experiência feminina — Durante o Banho, Arroz, Lauren Nas Unhas. Na sequência, há cinco poemas do autor Heitor Ferraz Mello — CoworkingRestauração, Medir o TempoTempo de Colher Uma História de Classe —, reunidos sob o título Medir o Tempo e Outros Poemas

A seção Documentação, por sua vez, exibe parte de uma pesquisa sobre o diário de Anita Malfatti em 1914, que conta com relatos da artista sobre sua primeira exposição.  

Primeiras páginas do diário de Anita Malfatti, 1914. Foto: Reprodução/Revista do IEB

A revista se encerra com a resenha Um Olhar sobre o Anjo Negro na Metrópole, de Amailton Magno Azevedo, professor do Departamento de História da FFLCH. Ele registra suas considerações sobre o livro Pretos, Prussianos, Índios e Caipiras: Culturas e Invisibilidades Históricas nos Arredores da Cidade de São Paulo: Séculos XVIII e XIX, narrativa autobiográfica de Salloma Salomão, e sobre a trajetória desse autor, que também é músico e educador. 

A Revista do IEB número 81, publicação do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, está disponível gratuitamente neste link.


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