Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Alexandre Murucci e Mariantonia

No Centro MariAntonia, exposições refletem o momento político

Mostras "Silêncio", de Sonia Guggisberg, e "Cadeau", de Alexandre Murucci, começam no dia 20, e questionam os problemas atuais

 19/10/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 24/10/2022 as 13:02

Texto: Leila Kiyomura

Arte: Guilherme Castro

São duas mostras diferentes, mas ambas traduzem o atual momento de inquietude política e social. O que fazer? Para onde ir? Em que acreditar? O que fazer diante da agressão à natureza, do deslocamento humano? Por onde andar? Questionamentos que o artista Alexandre Murucci imprime em Cadeau e Sonia Guggisberg traduz em Silêncio. As duas exposições, com entrada gratuita, estarão no Centro Universitário MariAntonia a partir desta quinta-feira, dia 20.

“Cadeau é uma insurgência contra as opressões e as formas de violências que insistem em minorar a vida.”

As 17 obras de Alexandre Murucci – entre esculturas, objetos, fotografias, videoinstalação e instalações –  compõem um panorama crítico das crises na política, cultura, saúde e meio ambiente. Um momento de reflexão crítica é o que suas obras propiciam aos visitantes. Daí o título Cadeau, que, na língua portuguesa, significa presente, como ato de estar fisicamente num lugar ou numa causa, assim como celebrar outra pessoa, dar a ela uma lembrança num momento especial. Um termo que surge para incitar o visitante a olhar ao redor e talvez rever o “presente” que recebe como cidadão e ser humano. Ele tem sido usado como palavra de ordem em atos de protestos e lutas por direitos individuais e coletivos da sociedade brasileira. “Será este o presente que deixaremos para as futuras gerações ou estaremos presentes na hora de defender nosso patrimônio natural?”, questiona o artista.

Alexandre Murucci - Foto: Arquivo pessoal

Murucci, carioca que nasceu no início da década de 1960, traz uma exposição aberta que dialoga com o público. O artista argumenta que as obras representam uma sirene em alerta. “Cadeau é uma insurgência contra as opressões e as formas de violências que insistem em minorar a vida.”  A exposição tem curadoria de Shannon Botelho.

Uma faca com cílios postiços sugerindo olhos (abertos ou fechados): a obra História instiga. O ferro sobre uma tábua de passar leva o nome da mostra, Cadeau. Diante dessas e outras obras, o espectador busca a própria resposta. O que será o tecido verde destruído? As nossas matas? Terras, oceanos?

O artista responde: “Nesse sentido, mantenho essa unidade matérica com uso de ferro, metal, espelho e madeira, que reverberam um cromatismo restrito, só quebrado pela eventual presença de vermelhos, pois foi a cor base de uma fase bastante ampla do meu trabalho”. Murucci explica que a utilização de materiais pós-industriais e naturais instauram uma lógica criativa, mais do que uma investigação da forma. “Um pensamento plástico em busca de um testemunho de meu tempo histórico, sem preconceitos físicos formais, a não ser o rigor do acabamento, fruto de meu DNA da arquitetura e do design.”

Alexandre Murucci pondera: “Um olhar crítico, neste momento grave da história brasileira, com todas as ameaças aos direitos individuais e às instituições advindas de um grupo no poder que deveria preservar e harmonizar a nação frente aos inúmeros desafios que o mundo atravessa, se torna mais necessário ainda, principalmente num período de acirramento e polarização da sociedade em torno das escolhas para nosso destino como democracia e nação”.

Convite para abertura da exposição "Cadeau" - Foto: Divulgação

“Em ‘Silêncio’ paramos diante dos vestígios de migrações contemporâneas, essas características de um momento de insegurança e violência sociais globais.”

A foto de 2018 da menina caminhando de tênis, com as mãos para trás e os olhos e o rosto que o espectador não vê, é uma das imagens de Sonia Guggisberg apresentadas na mostra Silêncio. Fotografias em diferentes suportes como vídeos e registros sonoros imprimem os caminhos da artista pela Grécia, Malta e Lampedusa, ilha da Itália mais próxima do continente africano, e todas portas de entrada para a Europa.
Silêncio é povoada de muitos questionamentos, de palavras que estão pelo ar. A arte de Guggisberg, uma suíça brasileira que nasceu em São Paulo em 1964, indaga o silêncio intelectual e busca o pensamento crítico sobre o deslocamento humano e o refúgio contemporâneo.

“O trabalho, multimídia e imersivo, provoca o espectador pelos sentidos, fazendo com que fiquemos atônitos diante das realidades com as quais nos envolve”, explica a curadora Ana Avelar. “Em Silêncio paramos diante dos vestígios de migrações contemporâneas, essas características de um momento de insegurança e violências sociais globais.”

Sonia Guggisberg - Foto: Reprodução/Youtube

Sonia Guggisberg, pós-doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, tem uma trajetória que impacta a cidade, com videoinstalações como Bolhas Urbanas ou obras de videoarte como O Nadador, apresentada no Sesc Pinheiros e no Sesc Piracicaba, que explora a clausura humana física e mental. Em Silêncio, faz uma crítica sobre a política atual, que torna invisível o drama de milhões de pessoas. Vale ver, refletir e reivindicar.

As exposições Silêncio, de Sonia Guggisberg, e Cadeau, de Alexandre Murucci, ficam em cartaz a partir desta quinta-feira, dia 20, até 29 de janeiro de 2023, de terça a domingo e feriados, das 10 às 18 horas, no Centro MariAntonia da USP (Edifício Joaquim Nabuco, Rua Maria Antonia, 258, Vila Buarque, em São Paulo, próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do Metrô). Grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3123-5202.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.