Mostra comemora 30 anos do Cinema da USP

Até dia 12 de novembro, De Repente 30 apresenta filmes produzidos no ano de fundação do Cinusp

 18/10/2023 - Publicado há 9 meses

Texto: Rebeca Fonseca*

Arte: Joyce Tenório**

Banner da mostra De Repente 30, que celebra três décadas do Cinema da USP - Foto: Cinusp

Em outubro de 1993, o Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) foi fundado e deu início à trajetória de promoção da cultura cinematográfica que agora completa três décadas. Em comemoração, a mostra De Repente 30 exibe 18 longas-metragens até o dia 12 de novembro, além de um curso sobre o realismo na produção do cinema e o lançamento do livro O Álbum Marey de Educação Física: cinema racial e cronofotografia.
 

O Cinusp foi inaugurado para atender a uma demanda de programação gratuita e regular de cinema. Eduardo Morettin, diretor do Cinusp e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, conta que a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP tinha um circuito de apoio a cineclubes universitários na década de 1980 e a criação do cinema representou a centralização dessa atividade com condições adequadas de exibição.

“O Cinema da USP tem uma importância cultural e humana enorme”, afirma Marli Quadros Leite, pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP. O atual contexto de esvaziamento das salas de cinema comerciais torna a capacidade integrativa do Cinusp ainda mais espetacular, já que ele mantém seu grande público, defende a pró-reitora. 

A primeira sala do Cinusp estava localizada no favo 4 das Colmeias, na Cidade Universitária. Em 2022, as exibições passaram a ocorrer na Sala Paulo Emilio, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, também na Cidade Universitária. O novo local possui 130 lugares, tela de 8 metros de largura e sistema de som Dolby Digital 5.1, o que, segundo Morettin, segue o padrão de qualidade de salas comerciais.

Da criação do Cinema da USP até hoje, Morettin calcula que ocorreram 524 mostras. Na época, era difícil programar a exibição dos filmes porque eles eram gravados em películas, e não armazenados em arquivos digitais como hoje, relata Morettin. A dificuldade de acesso fazia com que as mostras durassem uma única semana, em vez de um mês, como hoje.

A primeira mostra do Cinusp foi feita em parceria com o Grêmio da Escola Politécnica (Poli) da USP. A 6ª Semana de Arte da Poli exibiu o filme Pixote, a Lei do Mais Fraco (1980) e curtas-metragens.

Segundo o diretor, ir ao cinema era uma atividade cotidiana e mais integrada à vida familiar em 1993. O cenário se alterou com o processo de migração dos cinemas das ruas para os shoppings centers, o que causou um aumento no preço dos ingressos. Hoje, a média de ocupação do Cinusp é igual ou maior que a de muitas salas comerciais, afirma o diretor.

“O Cinusp promove o reencontro das pessoas com o cinema. É um espaço que permite a construção da cinefilia pelo contato com produções que as pessoas nem sempre têm acesso e pelo esforço da curadoria de entrelaçar as obras”, afirma Morettin.

 
 
 

A pró-reitora Marli destaca ainda a importância didática e pedagógica do Cinusp, porque o trabalho é feito por alunos bolsistas e estagiários. “O Cinusp é um órgão de absoluto sucesso da Pró-Reitoria, é o único que atrai alunos sem dificuldade”, afirma.

A seleção dos filmes para celebrar os 30 anos do Cinusp foi feita pensando em quais foram os trabalhos mais representativos de 1993 a partir da visão da equipe de curadoria, cuja faixa etária é de 20 anos. “É uma visão de hoje sobre aquela produção, um retrato de época com filmes que estiveram no circuito comercial e outros que são menos conhecidos”, explica o diretor.

O professor Eduardo Morettin, diretor do Cinema da USP Paulo Emilio - Foto: Arquivo pessoal

Alguns dos critérios de programação do Cinusp são a diversidade racial, regional, de gênero e de linguagem, detalha Morettin. A curadoria selecionou desde blockbusters, como Jurassic Park, de Steven Spielberg, até filmes menos conhecidos como o curta-metragem Eu Vos Saúdo, Sarajevo, de Jean-Luc Godard.

  

A mostra se iniciou com Boca de Lixo, do diretor Eduardo Coutinho, na segunda-feira, dia 16. O filme documental acompanha a rotina de catadores de lixo no vazadouro de Itaoca, no Rio de Janeiro. A cerimônia de abertura apresentou também o documentário Cinusp, 3 Décadas de Cinema (2023), de Murilo Pedroza, Letícia de Luca e Mayara Batista, único filme selecionado pela curadoria que não é de 1993.

Na terça-feira, dia 17, uma sessão comemorativa aconteceu na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Paulo Emilio Salles Gomes, que dá nome ao Cinusp, foi um dos responsáveis pela criação da Cinemateca, além de ter papel fundamental na criação do curso de Cinema da USP.

“É o início de uma parceria que a gente espera ser de longa duração. A ideia é expandir o Cinusp para além dos espaços universitários”, afirma Morettin sobre a sessão especial. O documentário sobre os 30 anos da fundação do Cinusp foi seguido pelo filme nacional Alma Corsária, de Carlos Reichenbach, exibido em sua cópia 35 mm.

O mesmo longa será exibido na Sala Paulo Emilio em 25 de outubro. As obras de Coutinho e Reichenbach foram duas das poucas feitas no Brasil no período. “O Collor extinguiu a Embrafilme em 1990 e as atividades do cinema praticamente pararam”, explica o diretor sobre a situação peculiar do cinema brasileiro naquela década, então sob a presidência de Fernando Collor de Mello.

Cartaz da primeira mostra do Cinusp, em 1993 - Foto: Cinusp

O curso Do não-cinema ao cinema total: um percurso realista acontece ao longo desta semana. Com a professora Lúcia Nagib, da Universidade de Reading, no Reino Unido, as aulas apresentam modos realistas de produção do cinema e investigam a atemporalidade dessa forma de executar a sétima arte. 

Nem todos os filmes selecionados circularam. Alguns foram exibidos apenas em mostras e festivais, diz Morettin, citando como exemplo os curtas Boulder Blues and Pearls and…Rules of The Road e Tokyo Blood que acontece nos dias 24 de outubro, 8 e 12 de novembro.

Momentos históricos do início da década também estão presentes na mostra. O fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e a queda do Muro de Berlim ressoam em Do Leste, de Chantal Akerman, e em Tão Longe, Tão Perto, de Wim Wenders, no dia 26 de outubro. Assim como a popularização do videocassete reflete a estética de vídeo caseiro de Totally Fucked Up, de Gregg Araki.

Na noite de Halloween, em 31 de outubro, às 21 horas, ocorre a sessão especial de Invasores de Corpos, de Abel Ferrara, que acompanha a possessão da família de uma jovem. Às 19 horas do mesmo dia, será exibido O Estranho Mundo de Jack, de Henry Selick, em versão legendada. A animação pode ser conferida em sua versão dublada nos dias 18 de outubro e 4 de novembro.

O lançamento do livro O Álbum Marey de Educação Física: cinema racial e cronofotografia, do historiador francês Bernard Andrieu, com Ana Cristina Zimmermann e Soraia Chung Saura, professoras da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, ocorre em 9 de novembro, às 19 horas.

Étienne-Jules Marey foi inventor da cronofotografia, técnica que impulsionou pesquisas sobre as fases do movimento corporal. Antes do lançamento, será exibido o filme Adrenalina Máxima, de Takeshi Kitano. O filme segue um grupo da máfia japonesa Yakuza após receber a missão de encerrar uma guerra entre gangues. Pagamento Final, de Brian de Palma, é outro filme com a temática gângster. No filme americano, o mafioso Carlito Brigante tenta recomeçar a vida distante da criminalidade.

A mostra De Repente 30, do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), fica em cartaz até 12 de novembro, de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, na Sala Paulo Emilio, no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo), e aos sábados e domingos, às 16 e às 18 horas, no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 258/294, na Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.

* Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro

** Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado dos Santos


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.