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MAC expõe os mundos inexistentes de Manoel Veiga
Obras do artista estão em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da USP
Os fenômenos da natureza já foram vastamente utilizados como inspiração pelo setor artístico: ao redor do mundo, pintores e escultores se baseiam no voo de pássaros, no balançar de árvores e no cair da chuva para criar obras. Nesse sentido, dizer que Manoel Veiga manipula os fenômenos naturais para criar quadros poderia não parecer inusitado num primeiro momento, se não fosse pela ligação da natureza à técnica criada pelo desenhista recifense: usar as propriedades da gravidade, difusão e capilaridade como “pincel”.
A exposição Cartografia de Mundos Inexistentes, de Manoel Veiga, está em cartaz no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Mescladas ao longo das paredes, as obras se unem na crença do artista de que as características que formam o “mundo real” podem ser utilizadas para formar um mundo artístico inexistente fora dos quadros. A curadoria buscou reunir o trabalho de 15 anos de Manoel Veiga.
O meu interesse não é representar nada. Não quero que olhem para os meus quadros e pensem que veem a imagem de algum animal ou objeto. Mas isso acontece naturalmente, faz parte do nosso organismo procurar imagens conhecidas, ‘cartografias’ no nosso imaginário”, explica Veiga.
Nas obras de Manoel Veiga, a natureza é “guia” para a arte – Foto: Cecília Bastos Ribeiro/USP Imagens
Algumas das molduras da mostra carregam fotografias. É a série chamada Construções. Nela, prédios com estruturas de proteção e material para edificações aparecem obscurecidos pela luminosidade da madrugada. “As cores dessas telas não existem. Só apareceram porque a câmera se ajustou, da mesma forma que uma pintura faz. Os dois mudam a realidade, enganam nossos olhos. Criam um mundo.”
Sua formação em engenharia eletrônica está intrinsecamente presente nas obras escolhidas. A maioria dos quadros em exposição, como a série Hubble, Espectros e Matéria Escura, é formada por imagens modificadas em programas de computador e, em alguns casos, têm tinta trabalhada por cima dos resultados digitais. Em Matéria Escura, a base foram obras do pintor italiano Caravaggio. Já em Hubble e Espectros foram utilizadas imagens de satélite da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.
Veiga utiliza tinta acrílica em seus quadros – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A astronomia é muito presente nas telas do artista – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A Astronomia é muito presente nas telas do artista – Foto: Cecília Bastos/ USP Imagens
“No caso de Matéria Escura, a intenção foi questionar quais são os tecidos que formam as relações humanas”, afirma o pintor, que nomeou a série de Matéria Escura em homenagem ao fenômeno invisível da ciência. “Os astrônomos chamam de tecidos os conjuntos formados no espaço-tempo, e eu acredito que existam tecidos invisíveis que moldam as interações entre as pessoas também.” Ou seja, em vez de adicionar coisas à tela, como os artistas costumam fazer, Veiga as retira.
A produção exposta no MAC foi feita no chão e com a utilização de um borrifador de água. A natureza como “guia” para a arte é definida pelo artista como algo entre o caos total e o controle total, e os visitantes terão a oportunidade de examiná-la e refletir sobre essa relação entre os elementos naturais e os humanos. “Escolhi o MAC porque ele é vinculado à USP e, a partir das reflexões dos quadros, espero que surjam novas pesquisas.”
A exposição Cartografias de Mundos Inexistentes, de Manoel Veiga, fica em cartaz até 29 de janeiro de 2023, de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas no site do MAC e pelo telefone (11) 2648-0299.
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