Lilia Schwarcz é eleita como imortal da Academia Brasileira de Letras

A antropóloga e historiadora foi eleita na última quinta (7) e ocupa a nona cadeira, que pertenceu ao diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva

 08/03/2024 - Publicado há 5 meses

Texto: Julia Alencar*

Arte: Joyce Tenório**

Lilia Schwarcz é a nova imortal da Academia Brasileira de Letras - Foto: Leonor Calasans/IEA-USP

Na última quinta-feira, dia 7, a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz foi eleita imortal da Academia Brasileira de Letras, onde ocupará a cadeira número 9, que pertenceu ao historiador especializado em cultura africana — e também seu amigo pessoal — Alberto da Costa e Silva até seu falecimento, no ano passado. Lilia Schwarcz é a 11ª mulher a integrar a ABL desde sua fundação, em 1897, escolhida por 24 dos 38 intelectuais aptos a participar da votação. São 40 cadeiras no total, das quais quatro são ocupadas por mulheres atualmente, e a renovação de membros só acontece quando um dos acadêmicos falece.

Na ABL, há uma tradição de preencher cadeiras vagas com acadêmicos cujo perfil se assemelha ao de seus antecessores. Para Lilia, a candidatura à cadeira que pertenceu a Alberto da Costa e Silva significava mais do que apenas semelhanças entre suas áreas de estudo. Ambos eram estudiosos do movimento negro, da igualdade racial e da herança africana na cultura brasileira, o que aproximou-os em sua vida pessoal também. No dia de sua eleição, Lilia declarou em um post em suas redes sociais: “Começamos a conversar faz quase 30 anos e nunca mais paramos. Alberto virou meu conselheiro, meu braço direito e esquerdo, meu incentivador mais bondoso e também um crítico severo. Compartilhamos artigos, livros, coleções, entrevistas e uma vida de trocas intelectuais e afetivas”. Para Lilia Schwarcz, ocupar sua cadeira também é honrar sua memória, como completa no post: “Falava com Alberto toda semana, o visitava e o ouvia sempre. Alberto era uma pessoa justa, bondosa, generosa, um intelectual de mão cheia. Espero honrar e seguir as diretrizes que ele deixou na ABL. Sinto tanta falta dele sempre, e ainda mais nesse dia. Mas me oriento pelas lições que ele deixou e assim sigo em frente”.

Lilia Schwarcz é graduada em História e doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, onde leciona atualmente no Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). A antropóloga também atua como visiting professor (professora convidada, em tradução livre) na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e é cofundadora – com seu marido, o editor Luís Schwarcz – da Companhia das Letras, a maior editora do Brasil. Seu trabalho e pesquisas têm como foco as estruturas raciais e formação da identidade nacional brasileira, abordando temas como o racismo, a escravidão e o período imperial do Brasil de forma crítica. Ela também é membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da República.

Além de seus trabalhos como professora e pesquisadora, Schwarcz publicou mais de 30 livros em sua carreira. Dentre eles, destacam-se: As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um Monarca nos Trópicos, publicado em 1998 e vencedor do Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção em 1999; O Sol do Brasil, biografia do pintor francês Nicolas-Antoine Taunay, que venceu o Prêmio Jabuti na categoria Biografia em 2009; e Batalha do Avaí, vencedor do Prêmio ABL de História e Ciências Sociais em 2014.

Lilia Schwarcz se juntará a Rosiska Darcy de Oliveira, Ana Maria Machado, Fernanda Montenegro e Heloisa Teixeira para compor a presença feminina na Academia. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Lília afirma que sua presença na instituição não apenas perpetua o legado das imortais anteriores, mas que pretende “lutar pela causa feminista na Academia sob um viés interseccional, que considera opressões de gênero, raça, classe e sexualidade”. Quando foi fundada 127 anos atrás por Machado de Assis, estava previsto em suas diretrizes que apenas brasileiros – enfaticamente no masculino – poderiam se candidatar a integrar a ABL. Foi apenas em 1977, com a aceitação da escritora Rachel de Queiroz, que mulheres passaram a fazer parte da instituição.

* Estagiária sob supervisão de Marcello Rollemberg

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.